por Jocelem Salgado
As populares “pedras nos rins” são formadas quando ácido úrico, cálcio, fósforo e cistina estão tão concentrados na urina a ponto de se unir em forma de cristais.
Essa cristalização é comum e em geral é eliminada pela urina. No entanto, existem situações em que cristais aderem ao tecido renal ou ficam localizados em pontos onde o fluxo da urina não consegue removê-los e, então, surgem os cálculos.
Não se sabe ao certo por que os inibidores da formação de cristais (naturalmente existentes na urina) não funcionam para todos e nem por que pessoas expostas às mesmas condições deixam de apresentar o mesmo quadro de produção ou não de cálculos. O que se sabe é que eles começam pequenos e vão crescendo à medida que o acúmulo de substâncias aumenta.
A doença atinge mais homens que mulheres e ataca, principalmente, na faixa dos 30 aos 50 anos de idade. Aproximadamente 5% da população mundial desenvolve pedras no rins, e desses, a metade tende a desenvolver novos cálculos cinco a dez anos após a primeira ocorrência.
A dor que o cálculo renal provoca ao tentar passar com a urina pelo trato urinário é descrita como a pior que uma pessoa pode sentir e costuma apresentar-se na parte inferior das costas ou no abdômen. Além do incômodo da dor em si, ela pode vir acompanhada de náuseas, vômitos ou sangue na urina. Quando os sintomas são acompanhados de odor bastante desagradável na urina, febre e calafrios, constata-se um quadro de infecção.
O cálculo renal é uma doença silenciosa, que só apresenta seus sintomas quando as pedras já estão dentro dos rins, sendo que há casos que os cálculos permanecem assintomáticos, não causando dor ou qualquer outro incômodo, mas ferem e obstruem o trato urinário.
O mais comum é que os cálculos sejam formados de oxalatos de cálcio ou de fosfato de cálcio. Existem também os compostos de cristais de ácido úrico, que ocorrem especialmente nas pessoas com gota e os cálculos cistinos que ocorrem em caso de doenças metabólicas. É importante determinar a origem das pedras para poder definir o tratamento e a prevenção de novas ocorrências.
Abordagem natural para cálculos renais
É preciso construir hábitos alimentares saudáveis, que ajudem a evitar a formação de pedras nos rins. Mas durante uma crise renal, mesmo os hábitos mais saudáveis devem ser drasticamente alterados, já que é grande a lista dos alimentos proibidos.
Alimentos proibidos durante a crise renal
Peixes e frutos do mar
Gema de ovo
Vísceras (fígado, coração, moela)
Grão-de-bico, feijão, lentilha, soja
Verduras como: escarola, agrião, brócolis, couve, espinafre, mostarda, nabo, pepino, acelga, beterraba, tomate, cebolinha, aspargos, aipo, alho-poró, berinjela, quiabo
Frutas como: figo, ameixa, castanha, damasco, tâmara, uva-passa, caqui, amora, tangerina, uva
Café, chá preto, chocolate, groselha
Gergelim, tremoço amarelo, germe de trigo, nozes, amendoim
Coalho de soja
Salsa, pimenta
Alimentos controlados
Carne de vaca, aves (2 porções por dia)
Leite (1/2 copo por dia, evitando os derivados)
Alimentos liberados
Clara de ovo
Verduras, frutas e legumes (exceto os proibidos)
Arroz, macarrão, batata, aveia
Pães brancos, torradas, bolachas tipo água e sal
Mel, sobremesa que não contenha leite
Chá-mate e chás de erva-doce e camomila
Maionese e óleo vegetais
Margarina, geléia de frutas (exceto das frutas proibidas)
Água (no mínimo três litros ao dia)
Quando a crise for resolvida. Retome os hábitos alimentares saudáveis ou adote-os para evitar novas crises.
Abordagem preventiva aos cálculos renais
Inclua na dieta
No mínimo, dois copos de água a cada quatro horas, além dos líquidos que você normalmente consome.
Duas ou três porções de alimentos ricos em cálcio, inclusive laticínios. Não se submeta a uma dieta com teor de cálcio inferior a 650 a 800mg diários.
Alimentos ricos em fibras, pois esses podem reduzir ainda mais o cálcio e o oxalato da urina, que estimulam os cálculos.
Segundo vários especialistas, essas orientações podem reduzir à metade ou mais os riscos de cálculos renais. Entretanto, quem mais se beneficia com elas são as pessoas propensas à formação de cálculos que ingerem habitualmente quantidades excessivas de proteína e de sódio. Os cálculos renais são raros em pessoas estritamente vegetarianas.
Seja para prevenir o aparecimento ou o reaparecimento de cálculos renais, os hábitos alimentares saudáveis devem vir em primeiro lugar. É essencial praticar exercícios com regularidade, adotar uma dieta balanceada e consumir de dois a três litros de água todos os dias.
Orientações importantes
Beba mais água
A água atua na limpeza do organismo, eliminando os resíduos minerais e impedindo o acúmulo que forma as pedras.
Aumente o aporte de cálcio ao organismo
Por mais que a maioria dos cálculos tenha cálcio em sua formação, não é recomendável diminuir o aporte desse mineral no organismo, a menos que isso seja indicado pelo médico. O cálcio é extremamente importante para o organismo, e quando sua ingestão é insuficiente, o corpo recorre ao estoque dele encontrado nos ossos, o que pode levar à osteoporose. O acúmulo de cálcio, no entanto, pode estar ligado à quantidade de sal ingerida, pois esse favorece a eliminação do cálcio pela urina, aumentando as chances de o mineral acumular-se nos rins. Portanto, outra recomendação é controlar o consumo de sal, limitando-o a 6g por dia. E quando falamos em controle do consumo de sal, é bom lembrar que aquele contido em alimentos prontos e processados industrialmente também conta, e que este já está incluído nos 6g diários.
Consuma menos carne vermelha
Reduza o consumo de carnes vermelhas, pois essas, além de serem consumidas em geral com muito sal, apresentam um grande valor protéico, e o consumo excessivo de proteína de origem animal tem resultados semelhantes ao consumo excessivo do sal; isto é, incentiva a eliminação do cálcio pela urina, favorecendo a formação de cristais e forçando o organismo a retirar mais cálcio dos ossos, aumentando o risco de osteoporose.
Controle o consumo de proteína de origem animal
Limite a ingestão diária desse tipo de proteína a uma porção menor que 150g ou 200g de carne, frango ou peixe. Cada 80g de carne, frango ou peixe contém em média 20g de proteínas; e apesar de a relação entre cálculos renais e proteínas não ser totalmente entendida, o fato é que a proteína aumenta a acidez da urina.
Controle o consumo de alimentos ricos em oxalatos
Os alimentos ricos em oxalatos são os morangos, as uvas e as frutas cítricas, a maioria das verduras, a família do nabo, a beterraba, o ruibarbo, o espinafre, as folhas de beterraba, os pimentões verdes, a cerveja, as bebidas achocolatadas e os refrigerantes do tipo cola. Diante de uma lista de alimentos tão abrangente, use o bom senso, pois se eliminar tantos alimentos de sua dieta seu organismo poderá sofrer com a deficiência de vitaminas e minerais essenciais.
Consuma menos sódio. Limite o consumo a 2500mg diários.
Essas são as principais orientações a respeito dos hábitos para manter seus rins saudáveis. A prevenção deve ser feita desde a infância, com educação alimentar e práticas esportivas. Mas se isso não aconteceu, comece hoje mesmo a repensar seus hábitos alimentares para que não venha sofrer com as terríveis dores das pedras nos rins.
A importância da água
A água é o ingrediente indispensável para o funcionamento correto do organismo. É barata, existe em todo lugar e, além disso, é a melhor opção para refrescar e matar a sede. Mas, mesmo com tantos pontos positivos, muita gente não consome quantidade suficiente de água para repor os líquidos eliminados pelo corpo, acabando por dificultar e prejudicar seu funcionamento.
Recomendações orientais indicam que beber um copo de água ao despertar é um modo saudável de acordar o organismo, mas pouca gente faz isso. No verão, o calor incentiva o consumo de água, e mesmo assim a maioria das pessoas não chega a consumir o mínimo recomendável de oito copos ao dia. E se no verão o consumo é insuficiente, no inverno, então nem se fala.
O recomendado é que um adulto consuma de dois a três litros de água por dia, para evitar a desidratação e não prejudicar o funcionamento global do organismo.
A água é indicada há mais de dois mil anos como grande auxiliar no tratamento e prevenção de cálculos renais, pois limpa o organismo, elimina resíduos e dilui substâncias que poderiam se acumular e transformar-se em pedras.
É preciso dizer que 70% do corpo é formado por água. Isso significa que, depois do oxigênio, a água é o elemento mais importante para a manutenção da vida. Ela é componente de todos os tecidos humanos, participa das reações químicas do corpo, dilui resíduos e ajuda a manter a temperatura corporal. A perda de 10% da água corpórea causa graves problemas, e se a perda chegar a 20% pode causar a morte. Por isso é tão importante hidratar quando ocorrerem crises de diarreias ou vômito, mesmo em adultos.
À medida que envelhecemos, nossa perda de água também aumenta e esse ressecamento do organismo diminui a velocidade das reações metabólicas, endurece as juntas, ralenta o fluxo de sangue e deixa a pele enrugada, além de comprometer a eliminação dos resíduos que se acumulam no corpo.
Pode parecer exagero pensar em consumir dois litros de água por dia, mas não é, pois a água participa de muitas funções corporais. Se você não tiver o hábito de beber água, vai ser uma sensação estranha quando começar a fazê-lo. Mas não desista e procure aumentar gradativamente a quantidade ingerida que logo se acostumará. O ideal é dar preferência à água pura, mas valem sucos e isotônicos como água-de-coco, por exemplo.
Aporte de cálcio
Leites, queijos e iogurtes são as principais fontes de cálcio da dieta atual. No entanto, pessoas com intolerância à lactose ou que optaram pela dieta vegetariana não consomem tais alimentos, e quem não consome produtos de origem animal também não consome carnes e ovos, de modo que deixa de ingerir outro nutriente: o ferro.
Espinafre – cuidado com o alimento do Popeye
O espinafre é, de fato, o vegetal mais rico em ferro e cálcio, mas esses dois minerais são pouco aproveitados pelo organismo por causa do seu alto teor de ácido oxálico, que interfere não apenas na absorção do cálcio proveniente do próprio espinafre, mas também inibe a absorção do cálcio presente nos laticínios. Além disso, o ácido oxálico e o ácido fítico, também presente em grande quantidade no espinafre, têm efeito tóxico para o organismo.
Uma pesquisa que orientei na ESALQ/USP, em 1998, teve resultados bastante negativos em relação à toxicidade da folha de espinafre.
A pesquisa consistia em acompanhar grupos de animais alimentados com folhas de espinafre, de couve-manteiga e de couve-flor, e os animais do grupo alimentado com espinafre morreram. A análise dos rins desses animais realizada em laboratórios da Unicamp, constatou inchaço renal, indicando um acúmulo de substâncias cristalizadas nos túbulos renais.
Diante desse resultado, é possível deduzir que o consumo de espinafre é prejudicial para o funcionamento dos rins, de modo que o recomendado, até que estudos mais conclusivos sejam realizados, é substituí-lo por outros alimentos folhosos, como couve, brócolis, folhas de mostarda, agrião, além de lentilha e soja.
A importância das frutas cítricas
O citrato encontrado em frutas cítricas, como laranja, limão e acerola, entre outras, dificulta a união entre as partículas que formam os cálculos renais. Isso significa que incluir tais frutas em sua alimentação diária inibe o desenvolvimento de pedras nos rins e todo o sofrimento que as acompanha.
Os hábitos alimentares saudáveis, obviamente, têm papel importante na manutenção da saúde dos rins. Como já foi visto, beber quantidade adequada de água, escolher alimentos que não sejam tóxicos e que permitam a correta absorção do cálcio, para que ele não se acumule nos rins, e o consumo de frutas cítricas ajudam a prevenir o problema. Mas a atividade física é outra grande aliada.
Especialistas afirmam que pessoas sedentárias têm maior propensão a desenvolver cálculos renais. Sendo assim, a regra básica de praticar uma caminhada de meia hora, ao menos três vezes por semana, também é válida para a saúde dos rins.