por Samanta Obadia
A Filosofia não é interessante por si mesma, visto que há uma preguiça para pensar inerente ao ser humano, atividade essa fundamental para a Filosofia. Poucas são as pessoas que pensam por si mesmas, sem estímulos externos, sem dificuldades aparentes. Isso se tornou claro para mim, a partir de numerosas observações, ao longo de 18 anos de trabalho com jovens em sala de aula.
Para fazê-lo pensar, é preciso instigar o jovem com um problema que já seja o seu, é preciso trazê-lo para dentro do que lhe interessa, é preciso tirá-lo de dentro de seu ego, para que ele perceba a necessidade de pensar. E ele o fará na direção de si mesmo, para resolver um problema seu. Então, você o leva ao prazer de pensar sobre si. Quando ele percebe esse prazer, ele torna-se capaz de pensar sobre o outro ou sobre algo que não seja ele mesmo, criando então o prazer pelo ato de pensar.
Pensar por si mesmo é uma atitude de contravenção
É necessário ensinar ao ser humano a importância de ter consciência, e de que é preciso ser ousado para exercer o pensar. Conquistamos mais um pensador, quando o jovem percebe que pensar por si mesmo é uma atitude de contravenção, de que, nesse instante, ele faz diferença, e mais uma vez, voltando a si mesmo, querendo afirmar-se como alguém diferente, ele aparece para o mundo, ele busca ser reconhecido. Aí, ele aproxima-se verdadeiramente da Filosofia.
Uma afirmação de Mattew Lipman, da qual eu gosto muito, diz o seguinte: “Fazer Filosofia não é uma questão de idade, mas de refletir escrupulosa e corajosamente sobre o que a gente considera importante”. Realmente, podemos instigar qualquer pessoa a pensar, desde que sejamos hábeis o suficiente para levá-la a esse prazer, a esse caminho. Aprendi, por meio de muitas tentativas e erros, que ensinar a pensar é um trabalho árduo na medida em que precisamos provocar o interesse inicial de um interlocutor desacostumado a isso.
Atualmente, a tecnologia e os meios de comunicação dificultam muito esse pensar. Ou seja, os jovens ‘ganham’ a possibilidade de agir sem pensar em suas atividades diárias (desde a alimentação ‘empacotada’ até os programas e jogos ‘enlatados’). Até mesmo a educação nas escolas, muitas vezes, vem facilitada, com métodos de aprendizado direcionados a uma percepção áudiovisual.
Como dissera Kant, “o homem é a única criatura que precisa ser educada, entendendo educar por cuidar da sua infância”. Parece que não estamos sabendo cuidar da infância humana, visto que observamos nas escolas uma enorme falta de educação, alunos complicados, turmas confusas, professores incapazes de disciplinar, pais insatisfeitos, todos repletos de problemas particulares. Ora, tudo isso sempre existiu, mas em menor número. Atualmente, essas reclamações são corriqueiras, atingindo as mais diversas classes sociais.
É óbvio que a sociedade consumista em que vivemos aumenta muito esse problema, evitando o pensar, utilizando estímulos repetitivos, rápidos demais, incapacitando a concentração necessária para a tomada de consciência geradora de uma ação positiva.
Parece que deixamos de lado valores tão essenciais à Educação e à formação de cidadãos. Não se fala mais em ética, em respeito ao próximo, em honestidade, em generosidade e em responsabilidade. A busca desenfreada à fama e ao dinheiro fácil caminha junto à corrupção, onde os fins justificam os meios.
Cuidar da infância humana é fazer um trabalho preventivo, criando o hábito de pensar, o qual seria o principal benefício do aprendizado. A educação deve ser inspiradora, evitando atitudes mecânicas que formam um aluno apático diante do conhecimento. Esse deve aprender a argumentar, a dar exemplos, a fazer inferências e a questionar. É preciso criar crianças mais compreensivas, mais atentas, mais articuladas que busquem razões, façam julgamentos, dando critérios para as suas escolhas. E isso é alcançado na medida em que aprendem a pensar, ouvindo os outros.