Da Redação
Jovens sentem mais raiva ao dirigir em comparação às pessoas mais velhas
A emoção raivosa no trânsito está intimamente ligada a três fatores: aos buracos nas vias, ao tamanho e peso dos veículos e à juventude de alguns motoristas. Essas são as principais conclusões da tese de doutorado do psicólogo Luís Alberto Passos Presa, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.
No estudo, foram entrevistadas 400 pessoas da cidade de Manaus, no Amazonas, divididas de forma igualitária em cinco grupos: motoristas de táxi, de ônibus e de veículos particulares, caminhoneiros e motociclistas. Os buracos ficaram em primeiro lugar para motoristas de veículos particulares, táxis e motociclistas. Entre os ônibus, o indicador ficou em terceiro, e entre os caminhões, em quarto.
O pesquisador também concluiu que quanto maior e mais pesado o veículo dirigido, menor é a raiva de quem o dirige. Isso acontece pela segurança que a pessoa sente ao estar em um veículo que aparenta ser mais resistente se comparado aos demais. Por fim, a constatação de que os jovens sentem mais raiva ao dirigir em comparação às pessoas mais velhas mostra que a adaptação ao trânsito ameniza a manifestação de raiva.
Além de analisar faixas etárias, foram estudadas outras cinco variáveis nas entrevistas feitas pelo psicólogo, a fim de concluir o que agravava as Situações de Raiva no Trânsito (SRT): a vida pessoal, a escolaridade, o gênero, o fato de os motoristas serem amadores ou profissionais e infratores ou não infratores. Os entrevistados tiveram de responder a perguntas por meio das quais diriam se sentiam nenhuma raiva, pouca raiva, raiva média ou muita raiva diante de momentos cotidianos de trânsito.
Alguns resultados chamaram a atenção do pesquisador: diferenciando os motoristas pela escolaridade, Passos percebeu que a emoção raivosa em pessoas que estudaram até o ensino básico e motoristas com ensino superior completo era estatisticamente igual. “Isso choca porque mostra que a educação formal não influencia na calma ou tranquilidade do motorista”, conta. Outra diferença ressaltada estava entre motoristas amadores e profissionais: “Provavelmente pelo excesso de horas no trânsito, os profissionais ficam mais estressados. Nessa categoria estão motociclistas que trabalham como office-boys e taxistas, motoristas de ônibus e caminhoneiros.”
Os motoristas de caminhão, porém, demonstraram menor emoção raivosa em comparação aos motoristas de ônibus. “Os caminhoneiros entrevistados são de Manaus, e não pegam estrada. Apenas transitam pela região urbana da cidade. Já os motoristas de ônibus passam o dia inteiro circulando, ficam cansados e passam por diversas situações de raiva durante todo o período de trabalho”, diz o psicólogo, que imagina que o resultado seria diferente se os motoristas de caminhão entrevistados realizassem viagens por estradas durante uma grande quantidade de horas.
Outras conclusões
Na hipótese que confrontou homens e mulheres, mostrou-se que ambos apresentam, estatisticamente, o mesmo nível de emoção raivosa. Levando em consideração os motoristas infratores – cuja carteira atingiu 20 pontos –, o pesquisador notou que a emoção raivosa dessas pessoas é mais alta do que a de motoristas não infratores. “Alguns deles são cronicamente raivosos, mal humorados, e por isso tendem a cometer infrações com maior frequência”, diz.
Para avaliar os impactos da vida pessoal do motorista e relacioná-las às suas atitudes no trânsito, o pesquisador utilizou outro questionário, chamado STAXI (State Trait Anger Expression Inventory), que contém 44 questões responsáveis por avaliar a raiva na vida cotidiana. As respostas obtidas foram relacionadas com as entrevistas sobre situações de trânsito. “O resultado mostrou que as pessoas que sentem raiva na vida cotidiana demonstram mais emoção raivosa quando estão dirigindo também”, aponta o psicólogo.
A tese A emoção raivosa em motoristas de automóvel, caminhão, motocicleta, ônibus e táxi foi apresentada à FFCLRP e tem financiamento parcial da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). O trabalho foi orientado pelo professor José Aparecido da Silva.
Fonte: Agência USP de Notícias