por Aurea Caetano
A questão da semente e a possibilidade de transformação!
Será de alguma forma a semente uma determinação?
A proposta do processo junguiano de individuação passa pela questão do reconhecimento de nossa verdadeira individualidade. Será essa apropriação uma tarefa fácil?
Cada um de nós em seu desenvolvimento passa por fases diferentes e constrói sua própria história, a partir do que conhece e intui ou sente a seu próprio respeito.
Questões como família, antepassados, nosso lugar de origem, trabalho e posição social de nossos pais fazem toda a diferença e vão determinar parte de nosso desenvolvimento.
No entanto, como diz Cyrulnik, grande estudioso do tema da resiliência: “A história não é destino”.
É preciso discriminar então a importância do contexto histórico, os fios da trama de nossas vidas e o destino que está sendo criado a cada momento. A tarefa de conhecer e compreender o tecido no qual estamos inseridos é crucial para uma postura mais inteira e adequada em relação a nosso propósito.
Muitos dos problemas de relacionamento entre casais, por exemplo, estão ligados à família de origem de cada um dos parceiros.
Um antigo filme, “A história de nós dois”, trazia uma imagem belíssima para ilustrar essa relação. Em uma cena, o casal deitado em sua cama tinha a seu lado tanto o par de pais da mulher quanto o par de pais do marido. Ao invés de duas, havia seis pessoas naquele espaço; todos palpitando e querendo exercer sua influência, acreditando que a sua é que era a única verdade possível, uma babel de falas e sensações.
O trabalho de discriminação da semente que somos, implica poder reconhecer quem são nossos antepassados, isto é, qual nossa linhagem, qual a nossa raiz, de onde viemos. Tarefa árdua, muitas vezes, pois em nossa consciência racional, nos julgamos conhecedores da verdade e únicos senhores de nossas casas. Ora, se não sabemos quais os fios que nos amarram, não poderemos afrouxá-los e ousar construir uma estrutura diferente.
Apenas na medida em que conseguimos ampliar o conhecimento de nossas histórias e perceber os pontos de intersecção que favoreceram uma determinada composição, poderemos ousar reescrever nosso passado e assim forjar um destino diferente.
Nosso destino, ou o futuro, está sendo escrito a cada novo momento de vida e carrega consigo inúmeras possibilidades. É preciso ousar ser cada vez mais o que somos aqui e agora.