por Aurea Afonso Caetano
Muito tem sido dito a respeito das posições assumidas pelo papa Francisco. A última grande controvérsia foi acerca de sua fala sobre ciência versus fé. Disse ele que aceitar a teoria da evolução não implica negar a existência de um Deus criador. As teorias da evolução e do big-bang são reais, segundo ele, e “Deus não é um mágico com uma varinha”.
Podemos pensar a partir desta fala que ao tirar o caráter mágico da figura de Deus possamos ter com ele uma relação mais humana e responsável. Explico: se Deus não é esse ser onipotente e onisciente, senhor de nosso destinos, não temos o direito de entregar a ele, ou a qualquer que seja a “força” em questão, a responsabilidade por nossas vidas.
Em nome da crença em um Deus criador, nos abandonamos sem culpa, descuidamos da necessidade de exercer o livre-arbítrio, esquecemos quem somos e nos entregamos ao papel de filhos do pai. Ficamos à espera dos desígnios divinos, paralisamos nossa possibilidade de escolha e orientamos nossa vida em busca do que os dogmas da religião que esse Deus representa colocam como certo ou errado.
Será essa a verdadeira proposta de Deus, seja ele qual for? Ampliando um pouco a fala do Papa, se Deus não é esse mágico com uma varinha, orquestrando a vida na terra então quem será ele? Uma força básica, um principio universal, um dado a priori? Com certeza não o homem barbudo que tudo vê, tudo sabe, e que está pronto a nos premiar ou castigar de acordo com o que fazemos aqui na Terra.
Se somos feitos à imagem e semelhança de Deus e se ele precisa de nós para ser reconhecido, então precisamos mostrar a que viemos. Nos colocarmos à espera de seus mandamentos é uma forma de rejeitar esse movimento; cada vez que justificamos nossos atos com um “Deus quis assim” ou um “Deus não quis assim” permanecemos no lugar de filhos sem nos apropriarmos de nosso próprio tamanho.
Ora, a teoria da evolução fala de um continuum no desenvolvimento da vida, há um caminhar e esse movimento pressupõe um sentido, o da manutenção e perpetuação da vida. Cada um de nós é responsável por parte desse movimento. Cada um de nossos atos contribui para esse desenvolvimento e esperar que o “Deus Pai” como um mágico nos diga o caminho a seguir, é não honrar nossa existência, é não valorizar nossa vida aqui e agora.
Não acredito que seja isso o que Deus, seja ele qual for, quer de nós.