por Danilo Baltieri
Resposta: Engajar pessoas no tratamento para problemas relacionados com o uso de substâncias psicoativas tem sido um importante desafio para especialistas.
Pesquisas têm revelado altas taxas de abandono durante o seguimento ou mesmo de não comparecimento à primeira consulta agendada pelos serviços de saúde. As taxas de abandono nas primeiras semanas de tratamento variam de 40 a 60%.
Nos Estados Unidos da América, por exemplo, estimou-se em 2012 que 23 milhões de pessoas necessitavam de alguma forma de manejo para interromper ou mesmo reduzir o consumo de substâncias; contudo, apenas 16% (3.6 milhões) destes indivíduos reportaram a necessidade de busca por ajuda especializada. Dentro destes 3.6 milhões, cerca de 69% receberam alguma forma de tratamento no ano anterior. Dentre aqueles que não receberam qualquer forma de tratamento, mas reportaram que haveria necessidade de recebê-lo (31%), cerca de dois terços nem sequer procuraram um serviço especializado.
Estimativas dessas taxas mostram resultados ainda mais constrangedores. Cerca de metade os pretendentes ao tratamento não comparecem ao primeiro atendimento; cerca de 40% daqueles que chegam ao primeiro atendimento, quando uma avaliação psicossocial é geralmente feita e uma forma de tratamento é preconizada, não iniciam o tratamento propriamente dito; e, dentre aqueles que iniciam o tratamento propriamente dito, cerca de 30% o abandonam no primeiro mês.
Por que a falta de adesão é alta?
Essas surpreendentes taxas de desengajamento do tratamento podem ser devido a múltiplos fatores como:
– baixa motivação para tratar-se;
– insatisfação com as formas de tratamento oferecidas pelos serviços procurados;
– complicações físicas ou psiquiátricas advindas do consumo de substâncias que impediram o início do tratamento especializado, ou mesmo uma combinação destes.
Estudos têm identificado que aquelas pessoas com problemas com o uso de substâncias psicoativas que procuram tratamento o fazem devido às consequências negativas sociais, familiares e à saúde física. Daí a necessidade de continuamente promover planos de prevenção ao uso nocivo de substâncias e incentivos à descontinuidade do consumo.
Diferentes estudos ao redor do mundo têm também registrado que aqueles indivíduos que mais procuram tratamento são do gênero masculino, com importantes problemas financeiros, e com história de busca pretérita por outras formas de tratamento ou manejo. Entre as razões para uma maior procura por tratamento pelos homens inclui-se que esses são mais frequentemente acometidos por problemas relacionados a álcool, maconha, cocaína e crack e que o estigma relacionado à dependência química afeta mais as mulheres.
Muitos estudos defendem que o tempo entre a solicitação de auxílio e o primeiro atendimento deve ser o mais breve possível, facilitando a adesão inicial e continuada. Autores têm sugerido um tempo inferior a 24 horas nesta etapa.
Outro desafio: público consumidor é heterogêneo
Temos que levar em consideração que a população de pessoas que faz uso inadequado de substâncias psicoativas consiste em uma amostra bastante heterogênea, em termos de motivação, personalidade, gravidade do problema, suporte psicossocial, habilidades sociais e cognitivas etc. Assim, é possível que diferentes fatores intrínsecos (fatores próprios do indivíduo, como personalidade, motivação) ou mesmo extrínsecos (suporte familiar, serviços proativos) colaborem isoladamente ou em conjunto para reduzir as taxas de adesão ao tratamento especializado.
Sempre reitero aqui no Vya Estelar que o tratamento para a dependência química é uma via de mão dupla. Não basta o interesse e esforço da equipe de saúde especializada; é fundamental a participação ativa do portador da doença, bem como de seus membros familiares.
Abaixo, recomendo a leitura de um interessante manuscrito:
Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA): Results from the 2012 National Survey on Drug Use and Health: Mental health findings. http://www.samhsa.gov/data/NSDUH/2012SummNatFindDetTables/NationalFindings/NSDUHr esults2012.pdf