por Elisandra Vilella G. Sé
O aumento da expectativa de vida, o saneamento básico, o controle de doenças e a qualidade de vida, com consequente aumento da população idosa, repercute na modernidade com desafios econômicos, sociais e em relação à assistência ao idoso.
O processo de envelhecimento trouxe também um aumento significativo da incidência de doenças crônicas, físicas e mentais que comprometem a autonomia e independência da pessoa idosa exigindo assim cuidados constantes. Entre as doenças crônicas mais preocupantes que acometem os mais velhos, e têm maior incidência com o aumento da idade, encontram-se as demências.
Portanto, as demências tornaram-se um importante problema de saúde pública no mundo.
A demência é uma doença neurológica degenerativa que se caracteriza pela perda progressiva de neurônios, causando prejuízos em múltiplos domínios cognitivos e na funcionalidade do indivíduo, em especial à população idosa. Não que as doenças crônico-degenerativas sejam manifestação do envelhecimento, mas por que este grupo etário apresenta maior vulnerabilidade para desenvolver determinadas doenças e as demências, em especial a doença de Alzheimer, apresenta maior ocorrência e impacto nesse grupo de pessoas.
A prevalência de demência aumenta bastante com a idade, dobrando a cada cinco anos, aproximadamente, a partir dos 65 anos. Em análise da literatura, Jorn e Cols (1987) constataram que a prevalência passa de 0,7%, no grupo de 60 a 64 anos, a de 38,6% no de 90 a 95 anos.
Em outro levantamento de estudos de prevalência de demência realizados entre 1994 e 2000, foram encontrados 42 artigos, de todos os continentes. A prevalência média em indivíduos com idade maior ou igual a 65 anos, variou bastante entre os continentes, mas com a maioria dos estudos descrevendo prevalências entre 4,2% e 7,2%.
Um outro estudo sobre a prevalência da demência em países desenvolvidos mostram também que a prevalência de demência dobra a cada cinco anos de aumento da idade, indo de 3% aos 70 anos para 20-30% aos 85 anos.
Na Europa, estima-se uma prevalência uniforme de 6% para o problema para pessoas com 65 anos ou mais.
No Brasil e em outros países em desenvolvimento, os estudos populacionais sobre demência são escassos, e ainda não existem estimativas precisas de sua incidência e prevalência. Atualmente, estima-se a prevalência de pessoas com demência nos países em desenvolvimento a partir dos parâmetros obtidos nos países desenvolvidos. (Fonte: Scazufca M et al. Epidemiologia da demência. Rev Saúde Pública 2002;36(6):773-8).
Quanto à incidência ser maior em países desenvolvidos no relatório mundial da Demência – 2015 aponta que "não há nenhuma evidência clara a partir desta revisão para justificar esta incidência". Acredita-se que por ser os países que estão com os maiores índices de doenças crônicas.
De acordo com o relatório mundial sobre a doença de Alzheimer da Associação Internacional da Doença de Alzheimer – Alzheimer's Disease International (ADI – EUA) publicado em setembro/2015, atualmente 46.8 milhões de pessoas no mundo vivem com demência. As estimativas são de que em 2030, 74,7 milhões de pessoas tenham demência e seremos em 131 milhões de pessoas com demência em 2050. São 9,9 milhões de novos casos de demência a cada ano.
Há diversos fatores de risco e proteção para a doença de Alzheimer com estudos recentes relevantes. A etapa principal do diagnóstico dessa forma de demência é o exame clínico associado a testes de rastreio cognitivo. Apesar disso, aproximadamente 50% dos clínicos não fazem diagnóstico de demência em estágio inicial.
O relatório mostra ainda que o custo social e econômico anual atual de demência é de US$ 818 bilhões e espera-se a tornar-se uma doença de trilhões de dólares em tempo de apenas três anos. Os resultados mostram que o custo de demência aumentou em 35% desde o 2010.
No Brasil, com base em pesquisas desenvolvidas por dois importantes pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (Lopes e Bottino, 2012) estima-se que 60% dos idosos brasileiros são acometidos por algum tido de demência, isso corresponde a mais de um milhão de pessoas (1.332.034). Destas aproxidamente 730 mil (799. 220) pessoas são diagnosticadas com a provável doença de Alzheimer.
Com base nos dados brasileiros e na atual conjuntura econômica e política do nosso país, estima-se que até o ano 2050, a proporção das despesas do governo alocados para a população idosa deverá saltar dos atuais 38% para 68%. A razão entre receitas e despesas do governo com saúde e seguridade, que era equilibrada em 2000, já tornou-se se deficitária atualmente e representará um desafio progressivo para a gestão das contas públicas.
A implicação econômica do processo de envelhecimento populacional que o país começa a perceber representa, portanto, apenas o início do processo.
A Associação Internacional da Doença de Alzheimer – Alzheimer's Disease International (ADI – EUA) convoca todas as associações sobre as demências no mundo, a sociedade e os decisores políticos para refletir sobre esse importante desafio futuro e formular políticas públicas, principalmente na área da promoção da saúde, estratégias preventivas e assistenciais em saúde, além de investimento em pesquisas na área de cuidados, tratamento, prevenção e cura para que possamos enfrentar este impacto em todos os países.
Uma das principais recomendações do relatório da ADI é a realização sistemática da incidência da demência no mundo, pois os últimos estudos realizados pela OMS – Organização Mundial da Saúde, concluído em 2012, mostrou que a incidência de demência aumentou com o aumento da idade. Segundo a OMS, a incidência de demência apareceu maior em países com rendimentos elevados do que em países de baixo ou médio rendimento. O número total de novos casos de demência a cada ano em todo o mundo foi então estimado em cerca de 7,7 milhões, implicando um novo caso a cada 4,1 segundos.
O futuro do curso de demência global até 2050 é bem provável, e depende, pelo menos em certa medida, sobre o sucesso ou não de esforços contínuos para melhorar a saúde pública. Aqueles que serão velhos em 2050, que são indivíduos nascidos em torno de 1970, hoje, já receberam sua educação básica e estão na sua quarta década de vida. Portanto, todos temos um papel crucial para prevenir, detectar e controlar a obesidade, hipertensão, diabetes e dislipidemia (colesterol alto) que são fatores de riscos que terá o máximo impacto sobre o cérebro, riscos para a saúde e demência no final da vida.
O contexto familiar é outro fator importante para o debate, pois é o espaço de acolhimento e cuidado indispensável para garantir um bom tratamento e qualidade de vida ao paciente. Será preciso cada vez mais descrever os tipos de cuidado que as pessoas com demência necessitam e quantificar a sobrecarga nos familiares ou outras pessoas que ofereçam cuidado informal à pessoa com demência. Além disso, será necessário testar e avaliar a efetividade de serviços para pessoas com demência e seus cuidadores.