por Renato Miranda
Recentemente presenciamos no autódromo de Interlagos em São Paulo, a final do campeonato mundial de pilotos de Fórmula 1.
O piloto alemão Sebastian Vettel da equipe Red Bull era o grande favorito e só não seria campeão se ficasse em quinto lugar ou pior colocação e se seu rival, Fernando Alonso da equipe Ferrari, chegasse em primeiro lugar. No entanto, logo depois da largada, o piloto alemão sofreu uma colisão que não o retirou da prova, mas o colocou em último lugar.
Muitos pensaram que a corrida do alemão estava comprometida, pois naquelas circunstâncias e obrigado a fazer uma parada a mais nos boxes sua recuperação era considerada muito difícil.
Acontece que no esporte, como em vários setores da vida, a superação de dificuldades e a adaptação aos imprevistos são relativamente comuns para aqueles que têm persistência e motivação. Além do mais, há uma característica que engloba a anterior que é advinda de muito treinamento e dedicação: é a capacidade de mobilização psicofísica do início ao final da competição.
Já escrevemos anteriormente que a capacidade de mobilização psicofísica é a reunião do melhor estado atlético considerando três componentes interligados: físico, emocional e mental. Ou seja, é reunir toda a força física e psíquica em seu melhor nível e mantê-la ativa até o fim da tarefa, em nosso caso, da competição.
Sebastian Vettel é um bom exemplo dessa mobilização e nessa última prova do campeonato de 2012, demonstrou como isso se procede na prática. Após ficar em último lugar lutou como nunca e acreditou até o fim que poderia, mesmo perdendo a prova, sagrar-se campeão mundial. Em uma corrida impecável e sem erros administrou seu rendimento em alto nível e conseguiu chegar em sexto lugar. Como seu rival, Fernando Alonso, chegou em segundo (precisava chegar em primeiro!), acabou ganhando o título, sendo o mais jovem tricampeão da história da Fórmula 1.
O atleta para obter sucesso em sua tarefa precisa orientar a mobilização dos componentes físico, emocional e mental até o final da competição, com isso estará imune a possíveis derrotas inesperadas.
Esse envolvimento até o final da competição presume a construção do autoconceito sobre persistência. Para manter em mente a persistência no esporte, é oportuno focalizar sua própria qualidade e confiar que, para conquistar algo, é preciso ser paciente, calmo e relaxado.
Mobilização pessoal
O prazer e a satisfação dos atletas na prática esportiva estão entre os objetivos principais a serem considerados pelos técnicos, pois quando o atleta gosta do que faz, treina e compete melhor e com alegria. E aí está o ponto inicial para a construção de uma mobilização pessoal.
A mobilização máxima até o final da competição muitas vezes significa a tênue linha que separa a vitória da derrota. Se temos a recente história de Sebastian Vettel na fórmula 1, de outro modo temos também a incrível história do nadador alemão Thomas Fahrner em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles que relato a seguir:
Thomas Fahrner, representante da então Alemanha Ocidental, era um dos favoritos para ganhar uma das medalhas nos 400 metros nado livre nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. No entanto, considerando que sua classificação para a final olímpica não seria uma tarefa difícil e com intenção de poupar-se, ele não se preocupou em mobilizar toda sua energia psicofísica durante as eliminatórias. Nadou em um tempo muito superior à sua melhor marca, acreditando que isso seria suficiente para a classificação. Resultado! Thomas Fahrner, um dos favoritos, classificou-se em nono lugar e ficou fora da final olímpica.
A constatação da falta de mobilização máxima durante toda a competição veio quando da disputa do 9º ao 16º, Thomas Fahrner estabeleceu um novo recorde olímpico (3’50”91), superando o americano George Di Carlo, vencedor da final e ouro olímpico (3’51”23). Essa momentânea falta de mobilização custou a Fahrner o ouro olímpico que falta em sua coleção de medalhas.
Por isso é que se diz que no esporte não basta ser bom. É preciso ser bom o tempo todo!