por Patricia Gebrim
Para falar sobre esse assunto começo sugerindo que você me acompanhe e dê comigo uma volta ao redor do mundo. Com certeza, ao retornarmos dessa viagem, poderíamos concordar com a seguinte afirmação:
O Ocidente, muito mais do que o Oriente, criou uma sociedade onde existe mais riqueza material. Temos mais dinheiro, mais bens, mais comodidades.
– Mas será que temos mais felicidade? – Ah, isso eu não sei.
Todas essas conquistas tiveram um custo, você já pensou nisso?
A sociedade ocidental, na busca de constantemente alimentar as máquinas que a mantém em funcionamento, parece ter criado uma série de necessidades irreais, o que nos mobilizou a irmos em busca de mais, mais, sempre mais. Para que esse objetivo fosse atingido, as necessidades supridas, foi necessária uma força de trabalho cada vez maior.
Como fruto desse movimento, as mulheres tiveram que sair de casa para o mercado de trabalho, afinal havia muito a ser construído e conquistado! Sendo o mercado de trabalho regido por valores muito mais masculinos do que femininos (competição, agressividade, a batalha diária pelo “pão de cada dia”), para conquistar seu espaço nesse mundo, as mulheres acabaram por trair o feminino em si mesmas. Resultado: foram aos poucos se tornando “masculinas”. Algumas tornaram-se ainda mais agressivas e competitivas do que os homens!
Devagar, sem que nos déssemos conta, algo muito precioso foi se perdendo nesse processo : a docilidade, a sensibilidade, a compaixão femininas.
(É verdade também que conquistaram direitos que lhes eram devidos como seres humanos, a parte positiva dessa história toda! )
Isso foi acontecendo aos poucos, e o que percebo é que hoje a mulher desperta em meio a uma espécie de sonho, olha ao redor e se vê em um mundo estranho, que perece lhe ter roubado a própria alma. Olha seu rosto no espelho e tem medo do que vê. Aparentemente poderosa, aparentemente independente… na verdade a mulher está despotencializada, uma vez que foi afastada da sua verdadeira natureza.
A verdade é que hoje as mulheres sentem uma falta enorme da dimensão feminina em suas vidas. Sentem falta de ter mais momentos de contemplação, sentem falta de ter mais tempo para cuidar das interações humanas, dos relacionamentos… sentem falta de estar mais com seus filhos, de estar mais com os amigos. Sentem falta de criar beleza.
Como se estivessem condenadas a viver longe de seu habitat, as mulheres encontram-se infelizes. Cansaço e irritação são constantes, muitas vezes incompreensíveis aos homens. Afinal eles vivem no mesmo mundo que elas (o mundo masculino) e não se sentem dessa forma. Lembrem-se, para os homens as batalhas são mais naturais. Eles conseguem separar trabalho e vida pessoal com um pouco mais de facilidade (embora ambos os sexos sofram com essa ênfase no masculino).
É claro que um homem com um forte componente feminino possivelmente se sentirá tão mal quanto uma mulher ao se ver engolido pelo mundo de competição diária. Mas muitos conseguem extrair uma espécie de prazer nesse mundo bélico, o prazer pela competição, o prazer de vencer obstáculos, conquistar objetivos cada vez mais difíceis, provar a própria força.
Já a mulher tem, por definição de seu próprio gênero, uma maior facilidade em navegar no mundo interno dos sentimentos e uma maior dificuldade em mover-se no mundo externo, prático e objetivo. Para ela, as batalhas diárias são extremamente extenuantes.
Ou seja, a mulher precisa despender uma enorme energia para fazer a mesma coisa que o homem faz. E assim, desenergizada, a mulher começa a enfraquecer por dentro, por mais que se torne aparentemente “poderosa” aos olhos dos outros.
Ouçam: “ Se não tiver espaço para o feminino em sua vida, a mulher começa a morrer por dentro, a secar… como uma flor que não recebe a água de que necessita.”
Triste imaginar um mundo sem flores, não é?
A mulher sempre teve um papel importantíssimo na vida dos homens… o de ajudá-los a contatar o feminino em si. É claro que a mulher não pode ser a eterna responsável pelo contato de um homem com seu feminino, deve chegar o momento em que ele encontre esse feminino interno por si mesmo; mas as mulheres sempre foram importantes pontes nesse processo. A ponte que conduzia os homens a esse mundo tão desconhecido. Como uma fonte sagrada, as mulheres sempre tiveram o poder de suavizar a vida, criar acolhimento e cura após as batalhas masculinas. O homem podia guerrear, pois sabia que viria o momento em que voltaria para sua casa e lá seria curado pelo feminino, pelo amor, pela suavidade. (Ah, como os homens andam sentindo falta disso…)
Com a perda do feminino, os homens também perderam esse lugar de acolhimento. As feridas ficam abertas e já não há o templo sagrado onde a vida possa regenerar-se.
Estamos fora de equilíbrio, a meu ver. Todos sofremos com isso.
Precisamos caminhar em direção a um maior equilíbrio entre o masculino e feminino internos, priorizando um resgate do feminino em nossas vidas, de modo geral.
Como podemos fazer isso?
Compartilho algumas ideias a respeito… sugiro que a elas cada um de vocês some as suas próprias sugestões:
Equilibre seu lado masculino e feminino
– Reaprenda a dar mais ouvido ao que se passa dentro de você;
– Repense o valor e espaço que dimensiona para o seu trabalho, revise necessidades de consumo, valorize mais as coisas simples da vida;
– Busque um resgate da compaixão em suas relações, resgate a gentileza, o cuidado com o outro, faça trocas mais equilibradas, do dar e do receber;
– Podemos resgatar o nosso feminino interno criando momentos de interiorização, silenciando a mente cobradora e ouvindo mais o nosso coração e a nossa intuição.