por Renato Miranda
Um canal especializado em esportes realizou um programa em que o debate central era o consumo de bebidas alcoólicas por atletas em diferentes idades e nível de competição, portanto desde adolescentes esportistas amadores a profissionais.
Além disso, debatia sobre o consumo de bebidas alcoólicas entre jovens brasileiros.
Sobre o assunto e fazendo correlação dos detalhes abordados podemos chegar à seguinte questão: se é o esporte um dos mecanismos eficazes de afastar os jovens das drogas lícitas e ilícitas e sua prática cresce de maneira significativa no Brasil, por que os jovens bebem cada vez mais?
Talvez essa pergunta fosse um bom tema para uma dissertação ou tese acadêmica. Como nem sempre podemos esperar, ficamos livres para considerações e algumas especulações, que de certa maneira podem ajudar a entender esse fenômeno.
Primeiramente é bom lembrar que a prática esportiva pode realmente ajudar a afastar os jovens do consumo de drogas. Mas observe: pode ajudar! Isso não quer dizer que é um certificado de garantia. Se o ambiente (convivência!) e o líder (técnico, professor etc.) forem ideais para criarem uma atmosfera favorável aos valores positivos do esporte, poderemos ter uma forte estratégia protetora com relação ao uso ou abuso do álcool.
Muito se diz que uma cerveja não fará mal algum e mesmo alguns especialistas afirmam que um pouco de álcool nas relações pessoais ajuda a estimular uma convivência mais relaxada e espontânea, principalmente para os introvertidos.
Porém, há duas questões a serem resolvidas: primeira, para se formar uma consciência de que apenas uma cerveja é suficiente para relaxar e se descontrair é preciso que a pessoa já tenha um grau de maturidade muito alto e isso não se consegue na adolescência.
Segundo, atletas adolescentes não deveriam consumir nada de álcool e atletas profissionais muito pouco. Não diria que esse seria o preço a pagar por terem escolhido o esporte como atividade ou profissão, diria que essa quase total abstinência (ou total!) é um comportamento para harmonizar a liberdade da escolha com os limites dela própria, como já comentado aqui nesta coluna. Em outras palavras, se a pessoa é praticante de esporte, facilmente irá compreender que o álcool prejudica o desempenho.
Assim sendo, se o atleta bebe, estará estabelecido um conflito muito grande para se harmonizar. O atleta que bebe costumeiramente terá problemas de desempenho e em sequência conflitos sociais (família, técnicos, companheiros, família e outros) e no futuro, com ele mesmo (frustração, angústia, arrependimento e outros).
É uma luta difícil. No Brasil se começa a beber álcool por volta dos treze anos de idade, adolescentes entre quinze e dezessete anos consomem em média dezenove litros de álcool por ano. Portanto, o esporte por si só não consegue enfrentar essa realidade.
É preciso banir totalmente os comerciais de cervejas da mídia televisiva e dos patrocínios esportivos. Crianças por volta dos oito anos podem acreditar que cerveja é algo inteiramente saudável, pois é difícil não ter evento esportivo sem exposição comercial de alguma cerveja. E nos anúncios televisivos a cerveja é associada à alegria, beleza, bom humor e esporte. Ou seja, elementos que estão no dia a dia dos jovens.
Abstinência total para atletas adolescentes, consumo muito controlado entre atletas profissionais e banimento de aparição de cerveja em qualquer tipo de canal televisivo, seriam passos promissores para se refletir na sociedade.
Poder-se-ia dizer que isso é quase impossível, seja se tratando de comportamento juvenil, seja por questões comerciais. No entanto, se não encontrarmos caminhos alternativos ou parecidos poderemos então, prepararmos para tudo aquilo que o álcool traz como consequência. E aí, como se diz no esporte, não me venha com chororô!