por Ana Maria Costa
Dentre os transtornos do impulso observamos a automutilação como um problema mais encontrado nos jovens em geral. A adolescência é um momento de rebeldia esperada até biologicamente, porem é preciso verificar se a rebeldia por normas e regras vem sendo acompanhada de comportamentos de muito isolamento"
Recentemente, a mídia através de filmes com temas sobre vampiros, trouxe para os consultórios vários pais preocupados com os comportamentos dos filhos em relação a provocarem ferimentos para sangrarem e realizarem rituais como os realizados nesses filmes.
É preciso que tanto a família como os educadores prestem atenção nos jovens para identificar esse tipo de ocorrência e encaminhá-los para uma ajuda psicológica e psiquiátrica.
Dentro da psiquiatria observamos o comportamento onde ocorrem cortes provocados no corpo sem a intenção de suicídio.
Podemos definir o transtorno de automutilação como:
A destruição ou alteração, direta e deliberada, do tecido corporal (cortes provocados por lâminas ou outro objeto cortante) em diversas regiões do corpo sem a intenção de suicídio.
Observamos nos comportamentos desses indivíduos o uso de pulseiras para que os cortes nos pulsos não sejam vistos, o uso de meias e botas para esconder a região dos tornozelos e blusas fechadas para que os cortes na região da cintura não sejam vistos.
O ato de se cortar é voluntário e com consequências não só previsíveis, como também desejadas. O objetivo é o impacto imediato, sentir a dor de forma imediata.
Quatro eventos antecedem a automutilação:
PRIMEIRO (motivos que antecedem a automutilação):
– sentimentos de rejeição, abandono, raiva, medo…
SEGUNDO: (um aumento de sensações indesejáveis)
– sensação de vazio, inutilidade e abandono
TERCEIRO: (realização do ato)
– automutilação
QUARTO: (após os cortes)
– alívio breve de sensações desagradáveis
Durante as nossas entrevistas para compreender os motivos e entender o funcionamento psicológico desses jovens, observamos comentários que, para eles, são os motivos para a automutilação:
1ª) Liberação de insuportável tensão: sentem-se tensos e ao se cortarem ficam aliviados;
2ª) Descarregar raiva: geralmente ocorre após situações onde sentiram muita raiva;
3ª) Autopunição: acreditam que agiram de forma errada por isso se cortam;
4ª) Tentativa de sentir-se vivo novamente: diante de tantas emoções difíceis se acham anestesiados;
5ª) Tentativa de acalmar-se;
6ª) Comunicar-se ou controlar os outros: alguns mobilizam os parentes com este comportamento;
7ª) Aliviar sentimentos de solidão (a sensação de estarem solitários é insuportável;
Sentimentos ou pensamentos negativos ocorrem antes dos cortes:
– Antes de se automutilarem percebem um período de tensão, difícil de resistir;
– A vontade aparece frequentemente, mesmo sem executá-la.
Sugerimos que os pais observem seus filhos na forma como expressam emoções e sentimentos. Ou seja, se o jovem está muito distanciado da família e se está sentindo-se solitário.
As escolas também, em minha opinião, deveriam ter um olhar mais atento para essas questões.
Quanto ao tratamento, é considerado que no início haja um acompanhamento psicológico para que se estabeleça um bom vínculo e assim o profissional encaminhe posteriormente para um psiquiatra para a verificação de uma terapia medicamentosa.
A família também necessita de um apoio para compreender melhor e colaborar para um resultado mais eficaz.