por Regina Wielenska
A menina se aproxima dos pais e diz que quer um baile de debutante. Já vi família de classe C fazer piruetas e se endividar loucamente de modo a realizar o sonho da adolescente. Com esse dinheiro dariam entrada na casa própria ou garantiriam o ensino técnico ou superior da menina, talvez com bolsa parcial.
Surgiram recentemente duas modas novas: comemorar com um bolo (geralmente com decoração profissional) o aniversário de mês dos bebês e, no caso da gravidez, fazer uma festinha para revelar o sexo da criança, o que não exclui um chá de bebê depois…
Festas de casamento, que eu adoro, confesso aqui, estão cada vez mais acrescidas de bens e serviços. Música ao vivo, fotógrafo, vídeo, telão, open bar, pista de dança, decoração floral, iluminação planejada, com spots e luzes especiais em cada canto, mesa de requintados doces, comidinhas descoladas, café da manhã às cinco horas, antecedido por miniburgers com fritas lá pelas três da madrugada, distribuição de sandálias de dedos, muitos bem-casados, embrulhadinhos comme il faut, e zilhões de outros itens, tudo orquestrado por uma cerimonialista.
Festa de criança em buffet ou salão de festas é um evento temático, envolve mil serviços. Mesmo que a criança aniversariante tenha um ou dois anos e acabe dormindo na hora da farra e comilança.
Empresas enormes hoje organizam festas de formatura de faculdade. São eventos para cinco mil pessoas, no mínimo, entre formandos e respectivos convidados. Cada convite pode chegar a 500 reais ou mais, sem mencionar o custo de roupa, cabelereiro, maquiagem, manicure, transporte, estacionamento.
Por um lado, vamos combinar que esses eventos garantem o sustento de muitas famílias, eles fazem a economia rodar, a gente reencontra gente querida, pode-se criar uma atmosfera de convívio cordial, aproximar pessoas.
O que me deixa desconfortável é que a maioria das pessoas não tem meios para organizar estes eventos e a ostentação tem sido tão massiva nas redes sociais, feiras de eventos, revistas e televisão que os que não foram convidados para a festa ou não conseguirão oferecer uma recepção assim ou assado acabam se sentindo inferiores, párias numa sociedade deslumbrada.
O ponto crucial é esse:
– O que eu desejo exatamente?
– Posso de fato arcar com os custos e consequências desse projeto, vale a pena?
– Quais são meus valores existenciais?
– Como desejo celebrar certas datas e realizações?
– Quais meus motivos e expectativas?
Tais perguntas nos convidam a uma reflexão mais profunda. Vi aniversários deliciosamente celebrados com um piquenique, casamentos comemorados com bolo e espumante no salão paroquial, festa de adolescente na base de barraquinha de hot-dog ou pizza no forno de casa. A atmosfera de acolhimento, a mescla de convidados, o carinho com cada pessoa presente, tudo isso pode afetar o resultado final, tornando a festa inesquecível e motivo de muita alegria.