por Rosemeire Zago
O BBB (Rede Globo) sempre registra altos índices de audiência. O que você acha que mobiliza tantas pessoas a ligarem seus televisores e acompanharem a reclusão de algumas pessoas numa casa?
Alguns dizem que querem ver como vivem os 'famosos' que participam, ou como as pessoas convivem ou 'representam', ou ainda, a simples curiosidade. E eu pergunto: curiosidade de quê? O que pode ter de diferente em escovar os dentes, tomar banho, trocar de roupa? Ou ver beijos, abraços, amassos embaixo ou em cima do edredom? O que pode ter que não vemos ou vivenciamos na nossa própria casa? Ou o que seduz é a falta de censura, o jogo, a própria sedução entre os participantes e que não fazem mais parte da vida de muitos? Ou ver se reconhecem as máscaras usadas por cada um dos participantes, tanto é que a pergunta continua: estão jogando, representando ou sendo eles próprios? Será que na sua vida você sabe quando está representando ou sendo você mesmo?
Acredito que as hipóteses são muitas, afinal a maior parte das pessoas se sente infeliz. Vivemos tanta pressão, insatisfação, decepção, carência, solidão, amores que não dão certo, desencontros, expectativas frustradas, que muitas vezes não sabemos lidar com tudo isso. Buscamos, ainda que inconscientemente, aprovação, reconhecimento e nem sempre conseguimos. Como lidar com as próprias emoções? Afinal, ninguém nos ensinou e nem todos têm acesso à análise.
Partcipantes do BBB e telespectadores sentem dificuldades em lidar com as próprias emoções. Este elo de identificação é que faz do Big Brother um grande sucesso.
Como podemos perceber, os conflitos pessoais são muitos, sem contar a política do país, a violência atingindo cada vez mais nossos lares e nossa vida, 'valerioduto', mesalinhos', 'mensalões' e o governo dizendo que tudo está sob controle. Vivemos um mundo de fantasias e representações. Diante de tudo isso, talvez você queira esquecer por alguns minutos uma realidade difícil de suportar e nada melhor do que assistir aos programas que o fazem fugir do que está à sua volta, ou ainda, do que está dentro de você.
Estes mesmos programas mostram isto, pois os próprios participantes estão longe da própria realidade, imagine quem os assiste? Parece que é mais fácil apertar o botão da televisão e envolver-se na vida de pessoas estranhas a ter que pensar na própria vida.
Realmente, se formos olhar para nossa realidade, muitas vezes temos vontade de chorar e desistir. Mas não desistimos de lutar, de buscar, pois continuamos; seja trabalhando, buscando, realizando, esperando. O pior é que no meio disso tudo, desistimos do mais importante, desistimos de nós mesmos.
Trocamos o autoconhecimento pela fuga, pelo realizar-se através do outro. Alguns acreditam que são tão incapazes de realizar seus sonhos, que preferem viver os sonhos dos outros, deixando para trás os próprios. E onde estão seus sonhos? Quais são? Ficaram para trás?
Se sua vida apresenta dificuldades, problemas que você não sabe nem por onde começar para resolvê-los, saiba que fugir é o pior caminho. Como defesa para suportar uma realidade nem sempre satisfatória, tendemos a reprimir tudo o que sentimos, principalmente os sentimentos negativos e acreditar assim, que eles não existirão, e esquecemos de um fator principal, agindo assim só faremos com que eles se mantenham.
Parece que o ser humano inverteu a ordem dos valores, acostumou a atribuir todos seus problemas a fatores externos e a solução destes também. No entanto, as soluções e respostas geralmente estão dentro de cada um de nós.
O que nos falta é coragem para olharmos sem medo para a pessoa que somos e avaliarmos o que está bom ou não em nossa vida, e diante disto, reagirmos e mudarmos o que precisa ser mudado. Com certeza, não conseguiremos modificar, ou seja, melhorar nada, se permanecermos fugindo ou alienados de nós mesmos.
O que nos leva a evolução é o contato com os próprios sentimentos. A questão básica não é ter ou não ter problemas, mas sim a consciência destes, pois só podemos modificar aquilo que conhecemos, e só podemos conseguir isto, quando deixarmos de projetar a própria deficiência no mundo exterior por não conseguirmos vivenciar a própria vida. E assim se forma um círculo vicioso, não identifica, foge, nada faz para mudar, e mais sofrimento, mais fuga, mais insatisfação.
Você pode se perguntar: mas só por que assisto alguns programas, quer dizer que estou fugindo da minha realidade? Não, é claro que não. Mas quando estes momentos passam a trazer mais prazer que a própria vida, é hora de parar e pensar o que pode estar por trás disso. Experimente!