Por Samanta Obadia
Que a maioria das pessoas tem pouco a dizer, nós sabemos. Mas por que todos acham que devem continuar repetindo coisas que não são suas?
Nestes dois últimos eventos de 2017, Natal e Ano Novo, percebi esse fenômeno repetitivo no envio de mensagens copiadas e coladas no Messenger e no Whatsapp, de maneira absurda. Parece que todos se viram obrigados a enviar mensagens para a lista de nomes de seus contatos.
Antipática essa minha crítica, não? Pois sim. Não dá para ser simpática à ideia de que as pessoas estão cada vez mais inautênticas e idiotizadas.
Não sou contra o uso da reprodução em série de convites, avisos e informativos úteis, desde que verdadeiros. Mas mensagens de felicitações? Essas devem ser autênticas e pessoais (com exceção das corporativas e comerciais).
Digamos que você goste de enviar mensagens para muitos amigos, ora pelo menos escolha a sua, seja um verso de um poeta que lhe represente ou uma imagem que você admire. Mas receber e repassar mensagens que não lhe representam. Para quê? Para repetir o que todo mundo está fazendo. É o cúmulo da reprodução impensada. É uma repetição robotizada e sem sentido.
Como dizia sabiamente, o filósofo Walter Benjamim: “A autenticidade de uma coisa é a suma de tudo o que desde a origem nela é transmissível, desde a sua duração material ao seu testemunho histórico. Uma vez que este testemunho assenta naquela duração, na reprodução ele acaba por vacilar, quando a primeira, a autenticidade, escapa ao homem e o mesmo sucede ao segundo; ao testemunho histórico da coisa. (…) O que murcha na era da reprodutibilidade da obra de arte é a sua aura. O modo em que a percepção sensorial do homem organiza é condicionado não só naturalmente, como também historicamente”. Ou seja, estamos perdendo nossa alma junto com a aura autêntica das belas palavras enviadas para pessoas queridas.
Uma carta com dizeres personalizados tinha um desenho próprio da letra de cada um e rabiscos únicos. Hoje, nem os erros ortográficos aparecem, pois os corretores não os permitem.
Não estou possuída por um romantismo patológico ou por uma nostalgia atroz. Mas me dói receber ações mecânicas de gente que potencialmente foi construída para criar e expressar o que lhe é original.
Contudo, alguns me dirão: – Mas todo mundo faz isso. Ao que eu responderia, parafraseando Nelson Rodrigues, “Toda unanimidade é burra”.