Por Roberto Goldkorn
A minha primeira recordação foi de um rapaz forte, do tipo que os cariocas chamam de sarado, muito educado e tentando ser o mais prestativo possível naquele churrasco. Rimos muito quando o pai dele nos disse que curava problemas estomacais da família dando um pouquinho de creolina para todos. Passamos do riso a admiração quando a mãe disse que naquela casa não havia wp_posts, ninguém trancava portas.
Na semana seguinte, a notícia, o rapaz sarado trancou a porta. Quando ela foi arrombada lá estava ele, envolvido no próprio sangue, com uma bala na cabeça. Ao se matar, matou parcialmente aquele pai orgulhoso e a mãe serena pelos filhos maravilhosos, e os irmãos unidos e solidários, e salpicou sangue em todos nós que nem éramos da família.
O suicídio é assim, nunca atinge só o seu autor, é uma queda onde quem está em volta tem partes de si arrastada para o fundo, pelos dedos do desespero.
Não vamos falar do suicídio oriental, japonês mais especificamente, onde por uma questão cultural, esse ato é realizado de forma serena e cercado de respeito e "dignidade". Mas aqui, sair da vida de forma auto-produzida é sempre um ato de grande violência que causa comoção a todos que a ele estão ligados.
Por que as pessoas se suicidam?
As respostas são variadas dependendo da linha de pensamento que você adote. Existe um consenso de que todo suicida é um covarde. Não concordo, atentar contra a vida, contraria um de nossos mais básicos instintos, aquele que nos trouxe nessa caminhada até onde estamos como espécie.
No meu ponto de vista existem dois tipos de suicidas, os que se matam num único e completo ato, e aqueles que se matam, gradualmente, ao longo da vida, estes sim covardes. Há também aqueles que caminham para a morte certa nas mãos de um algoz, de forma irredutível, e sem falar dos acidentes fatais provocados consciente ou inconscientemente pelos suicidas, cheio de pudores morais e sociais.
Mas o que acontece depois? O que acontece ao suicida quando ele consegue ter sucesso? Os céticos e materialistas, não têm muito o que fazer aqui, e podem até ficar só para poder dar aquele risinho com o canto da boca. Os religiosos, das religiões tradicionais também têm as suas respostas, ordem – sair da sala. Para aqueles que querem uma outra maneira de ver o assunto, os convido a ficar. A minha visão embora possa parecer familiar aos espíritas, não se baseia na filosofia de Allan Kardec.
Infelizmente o suicida não obtém o alívio total para as suas dores. Como ele vai dolorosamente descobrir, não acabou. O tiro não foi o ponto final nos seus tormentos, que agora recomeçam de forma terrível. Sozinho e tendo como eco somente os seus gritos, seu terror, ele experimenta dores ilusórias, mas nem por isso menos terríveis, do seu gesto. Ele aos poucos vai tendo insights, de alternativas, de saídas para a sua situação "sem saída" quando estava no plano físico e vai sentindo a dor sem tamanho daqueles que ficaram.
A culpa, e o arrependimento são tão fortes em quase 100% dos casos, que jogam o suicida, num inferno real, criado por ele mesmo, com todos os demônios, e terrores, que a sua imaginação transtornada pode produzir. Enquanto ele está vivendo esse transe infernal não pode nem ser ajudado. Diante do que se passa, esses seres, podem comparar sua situação atual com a que viveram no plano físico, só que agora, não podem mais sair pela porta dos fundos, nem esse recurso possuem mais.
Dependendo do grau de evolução e sanidade do ser, ele pode com o tempo superar, e abrir espaço para ser ajudado. Outros, menos evoluídos, podem fazer como alguns portadores de HIV, que quando se viram infectados saíram por aí contaminando quem encontrassem pela frente. Assim esses "doentes" crônicos podem ficar presos na armadilha do "programa de suicídio". Isso quer dizer que eles vão tentar achar alguém que tenha cheiro de auto-destruição, e vão "grudar" nele. É comum, por uma questão de economia e afinidade, que seja até alguém da própria família. A partir daí, vão estimular esse ser enfraquecido a se matar. Isso pode durar bastante tempo.
Em geral essas vítimas se caracterizam por longos ensaios. Bilhetes de despedidas escritos, rasgados, reescritos, muitas vezes. Fantasias alimentadas de como seria o ato final. Na rua eles "namoram" o ônibus que passa em alta velocidade e fantasiam o seu corpo debaixo dele. No alto de um prédio, imaginam o seu corpo caindo e se estatelando no cimento. Isso é a influência do ser que está no plano invisível e se alimenta dessas energias emocionais, como um viciado de cocaína.
O suicídio é uma atitude extrema, que condena o ser a uma existência pós-morte miserável, e marca de forma muito profunda, o karma do indivíduo. E mesmo que numa outra vida ele não venha a cometer o mesmo ato, pode manifestar sintomas auto-destrutivos, ao mesmo tempo que parece ser alguém cheio de vida e entusiasmo.
Felizmente a ocorrência desse ato sem volta é rara, se o colocarmos nas estatísticas de causas mortis, mas a incompreensão e a perplexidade que o cercam deixa vítimas vivas e projeta a sua sombra para além dessa existência. Lembro-me de um caso marcante, quando trabalhava com recuperação de memória de vida passada. Uma mulher me relatou um sonho, que mudou a sua vida.
Ela me contou que estava dormindo ao lado do marido, quando foi despertada pela figura de um homem alto e magro, vestido com uma espécie de túnica clara. Ele fez sinal para ela ficar em silêncio, e silenciosamente apontou para a parede. Ela sentindo um misto de medo e apreensão olhou e a parede se transformou numa tela, onde uma cena transcorria.
Uma mulher maltrapilha, num casebre miserável, esforçava-se para alcançar um vidro no alto de uma prateleira. De alguma forma ela "sabia" que aquela mulher era ela. No momento que pode ver o vidro, começou a balbuciar baixinho: "não, não, por favor, não" e a chorar. A mulher do "filme" pegou o vidro, e engoliu uma parte do seu conteúdo. No vidro estava escrito "Veneno de rato", e tinha uma caveira. Nesse momento a minha cliente chorava convulsivamente, enquanto no "filme" a mulher se contorcia no chão, apertando a barriga com as mãos freneticamente.
O filme desapareceu, assim como o personagem misterioso. Ao perguntar a minha cliente se ela via sentido em tudo aquilo ela respondeu. "Há muitos anos desenvolvi uma 'barriga' que nenhuma cirurgia, nem tratamento conseguia resolver (ela era magra). Apesar de viver uma vida confortável, ela reclamava muito e se julgava infeliz por causa daquela 'barriga indecente' como ela dizia".
Talvez aquilo tudo tenha sido preparado pelo próprio inconsciente dela, talvez tenha sido apenas um sonho, mas eu já vi ocorrências dessas demais para desacreditar da autenticidade do acontecido em todos os sentidos. As marcas do passado não somem na vida atual. Há uma cadeia infinita de causalidades atrelada ao espírito, não adianta mudar o ego, o João passar a se chamar José, os programas kármicos nos acompanham até que nos reconciliemos com eles, e esgotemos o tanque de combustível, não alimentado-os com novos reforços.
O suicídio como ato final de um processo de desespero e sofrimento, não é o ato final, não acaba com o sofrimento, e coloca em movimento uma engrenagem terrível, que demora muito tempo para parar de funcionar.
Lendo os meus "diários", vejo que em alguns momentos da minha vida de juventude, eu achava que a minha situação era tão difícil, que não sobreviveria ao fim de semana. Essa sensação muito comum na maioria das pessoas em algum momento da vida é naturalmente uma ilusão, uma ficção criada pela mente e pelas limitações da mente em prover respostas para as dificuldades reais. Mas no momento que você aprende a agregar o mundo espiritual, a trabalhar com essa possibilidade, e a atrair mentores de luz para sua vida, as soluções aparecem, como dizem os americanos out of the blue ("do nada", ou do "azul" que pode ser entendido como do céu, ou do plano supra físico).
Sempre há uma saída, mesmo que você não puder divisá-la, crie um canal permanente de comunicação com o seu "céu espiritual" bata na porta, que a ajuda, as respostas, as soluções virão.