por Roberto Goldkorn
Acabou mais uma novela da TV que mobilizou o país, se é que isso é possível. Mas em termos dos instrumentos que se usa para aferir a atenção de um tipo especial de gente chamado de telespectador, foi uma quase unanimidade.
Pouco antes de acabar o autor deu uma entrevista onde se confessava chocado e perplexo, pelo retorno que estava recebendo por parte do seu público. Sua perplexidade se deve ao fato das pessoas em geral expressarem uma simpatia por alguns vilões, em detrimento dos bons moços e boas moças. Muitos (e isso para ele era uma estatística) torciam para que os vilões se dessem bem, por motivos esdrúxulos.
Entre eles, uma coisa que já havia ser detectada há algum tempo, “os vilões têm mais charme”. Isso no fundo é uma dica da psicologia social, de extrema importância, ou um causo para os antropólogos discutirem. Estaremos nós mais tolerantes ao ‘mal’ chegando até a admitir uma certa dose desse veneno para a nossa vida? Ou diante do inevitável avanço das forças destrutivas, muitos já admitem formar fileiras ao lado dessas forças, achando que são elas as paladinas da ‘verdade suprema’ e da “libertação”?
Não foi por acaso que usei o termo verdade suprema, pois esse era ironicamente, o nome da seita japonesa que colocou o mortífero gás sarin no metro de Tóquio matando muita gente. A troco de quê? Pergunto eu. Certamente haverá gente boa defendendo com argumentos ‘lógicos’ a ação do guru maldito. Da mesma forma que gente normal como eu e você, defende a ação do Osama e sua turma na destruição das vidas de inocentes do World Trade Center. ‘ninguém é inocente’ me disse uma linda moça de 24 anos, criada na zona sul do Rio, que me confessou comovida que exultou de alegria quando viu as torres desabando, e mais ainda quando ficou sabendo do número de mortos.
O que está acontecendo? Quem mexeu no queijo dos meu valores que julgava certos e duradouros? Como eu posso considerar um policial, assassinado na porta de sua casa de pijamas, vilão, e os seus executores heróis? Mas sou forçado a admitir que há uma mudança de mentalidade no ar, as fronteiras tão seguras e definidas do bem e do mal, do certo e do errado, estão desaparecendo num bruma de meios tons conceituais. Mas o que isso quer dizer aos observadores que vêem tudo com os olhos da lente espiritual? Aqui também há várias versões.
A visão que endosso é que essa guinada da mente coletiva apenas ainda anunciada, está chegando ao mesmo tempo em que se prenuncia mudança radicais e terríveis na vida planetária. Não sou apocalíptico, nem visionário, mas não há como negar que estamos nas vésperas de grandes, e profundas alterações em escala ainda não presenciada pela atual humanidade.
O governo da Noruega anunciou na semana passada, que está completado o banco de sementes que montou numa ilha gelada e num local quase inacessível. Eles acreditam que no caso de um ‘evento’ natural ou causado pelo homem, que destrua boa parte dos recursos naturais, um banco com sementes de plantas e árvores de todo o mundo poderia salvar a biodiversidade do planeta.
Esse endurecimento das mentes comuns pode ser uma preparação para esses tempos difíceis, onde ‘os vivos invejarão os mortos’. Mas isso não vai nem ajudar a evitar esse evento cataclísmico se é que ele vai acontecer, nem a lidar com as suas conseqüências. Se tal evento vier a acontecer, não será a mente maligna, que vibra com o sofrimento de inocentes, que troca a justiça pela injustiça como valores essenciais que irá ajudar a reerguer a sociedade em bases novas é claro. Não serão os sem-compaixão que terão essa condição. Não serão os duros de alma, os vingativos, os perversos., os indiferentes, os que dizem “I don’t care”. Esses terão de ser combatidos, pois são os maiores causadores e alimentadores das gigantescas forças do Mal espiritual.
Pelo menos eu estarei na linha de frente desse (sim) o bom combate. Enquanto isso não acontece, continuo a torcer pelos mocinhos, pelo final feliz, pela vitória do Bem sobre o Mal, aquelas coisas antiquadas que costumavam ser unanimidade quando eu era criança pequena em Barbacena.