Edson Toledo
De assunto mantido entre quatro paredes a tema de série na internet, o suicídio de jovens cresce de modo lento, mas constante no Brasil. Dados mostram que em 12 anos a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos subiu de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014 – um aumento de quase 10%. Esses dados foram apresentados pela BBC Brasil, em abril de 2017 e o fenômeno, ao contrário do que parece, não é recente: vem crescendo desde 1980.
Esses dados chamam a atenção de especialistas, principalmente psicólogos. Afinal, como por exemplo, as psicoterapias poderiam mudar esse cenário? Quais seriam as causas e agravantes? É possível desenvolver algum tipo de trabalho preventivo com essa população tão vulnerável?
São muitas perguntas e poucas respostas efetivas.
Uma das primeiras perguntas que é feita quando o tema vem à baila é referente às causas do suicídio entre jovens. Grosso modo, vamos tentar responder de trás para frente.
O que leva uma pessoa que já está na meia-idade a cometer suicídio? Possivelmente a descrença ocasionada por um caminho repleto de desencontros e infelicidades.
Quais seriam, então, as motivações de quem ainda conhece pouco da vida?
Na pesquisa citada acima, referente à reportagem da BBC, foi ouvida a psicóloga Mariana Bteshe da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Ela apontou os seguintes fatores:
• depressão e outras doenças relacionadas, como a ansiedade, abusivo de álcool e outras drogas;
• bullying;
• violência sexual;
• violência doméstica.
Vale destacar, também, que alguém dificilmente se mata por conta de motivos “banais”, frequentemente apontados pelo senso comum como fraqueza, covardia e afins. Diante de dificuldades duras e bastante concretas, muitos até recorrem ao uso inadvertido de remédios, atitude que pode piorar uma situação já delicada.
Bteshe diz que os pais devem estar atentos a qualquer mudança brusca no comportamento do jovem, como por exemplo, um adolescente expansivo que, de repente, fica introspectivo, agressivo, tem insônia, dorme demais ou passa muito tempo no quarto.
Mais uma vez, o alerta especial vai para o uso da internet. "Muitas vezes o jovem fica muito tempo na internet e os pais não sabem o que ele anda vendo ou com quem anda falando. É preciso que a família, mantendo a privacidade do jovem, busque uma forma de contato com ele e abra um espaço de diálogo", afirma a psicóloga, que defendeu na Fiocruz uma tese de doutorado sobre suicídio.
A outra pergunta sempre feita é a de como podemos diminuir esse problema?
A terapia cognitivo-comportamental tende a ser bastante proveitosa para quem sofre com a depressão e, por isso, pensa em se suicidar. No entanto, as soluções para o problema, que é a quarta maior causa de morte entre jovens, não se encerram dentro da clínica.
Falar sobre o tema, ainda visto como tabu por vários setores da sociedade brasileira, é um dos caminhos. Essa prática, porém, requer bastante cuidado. Afinal, não é raro nos depararmos com séries, filmes e livros que conferem certo “glamour” ao ato suicida, em vez de tratá-lo com a seriedade necessária.
De qualquer modo, a exposição crescente pode ser brecada por intermédio do diálogo. A impulsividade, uma das marcas mais características da juventude, leva a uma série de decisões erradas. Desse modo, é fundamental olhar para as possíveis causas e sinais que indicam essa vontade no jovem.
Em entrevista à Agência Brasil, a psicóloga Karen Scavacini faz um alerta sobre as redes sociais.
“Por mais que haja um contato virtual, o contato propriamente dito tem diminuído. Tudo que é visto no Facebook é aceito como verdade e as pessoas comparam esses acontecimentos com a própria vida. O problema é que nas redes sociais todas as pessoas aparentam estar sempre felizes.”
Ou seja, a aproximação e o acolhimento de familiares e amigos, bem como a realização de trabalhos voltados à superação e o desenvolvimento de capacidades, são alternativas no combate ao suicídio entre jovens no Brasil.
O fato é que silenciar sobre suicídio não ajuda a combater o problema. Por muito tempo não se tratou abertamente do tema por medo do chamado "Efeito Werther" – a ideia de que falar do assunto poderia inspirar casos de suicídio por imitação.
Efeito Werther
O nome “Efeito Werther” vem do protagonista do livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, publicado em 1774, cuja história é sobre um rapaz que se mata após um fracasso amoroso e cujo exemplo teria provocado outros suicídios de jovens.
Por fim, a diretriz da OMS é abordar o tema sem glamour, sem divulgar métodos e sem apontar o suicídio como solução para os problemas – agindo sem preconceito e oferecendo ajuda a quem precisa.