por Renato Miranda
Há quem não considere Ayrton Senna um herói. Para mim, ele foi um espetacular atleta de alto nível, com seus defeitos e acertos. O povo (e não só o Brasileiro!) o considera um herói. Heróis são produtos da mente e do dito imaginário das pessoas. Portanto, Ayrton Senna da Silva é um herói.
Aqui tento explicar o porquê dessa incrível adoração por um atleta extraordinário.
Ayrton em sua vida personifica a imagem dos heróis mais adoráveis. São aqueles que além de fazer coisas inacreditáveis, trazem em seus atos e personalidade, características marcantes de pessoas comuns, ou seja: tudo que conseguem é através de esforço e algum sofrimento, erram, fracassam, são injustiçadas, amam as pequenas coisas da vida, vibram quando dão a volta por cima, são carentes e sonham com o amor da mulher/homem amada (o), lutam para serem reconhecidas e o sabor da vitória pelo esforço é maior do que a própria vitória.
Heróis invencíveis, soberanos, incorrigíveis, supremos e tudo o mais não são atraentes. Admirados sim, amados nem tanto.
Ayrton Senna é um atleta dedicado, talentoso e, sobretudo, "barreiras" surgidas em sua frente, talvez para testar sua tenacidade, foram ultrapassadas.
No início da carreira, principalmente na Fórmula 3 inglesa, que anos atrás era o grande "vestibular" para a Fórmula 1, travava duelo feroz com Martin Brundle que vencia na maioria das vezes, chamava atenção de vários chefes de equipes de Fórmula 1, mas nenhum primeiro piloto o que queria como companheiro – os pilotos já sabiam que atrás daquele volante tinha "algo diferente".
Por esse motivo, demorou quatro anos, desde que entrou para a Fórmula 1, para assinar com uma grande equipe. Todavia, mesmo em equipes menores (Toleman e a então decadente Lotus) assombrava o mundo com seus desempenhos inacreditáveis.
Vitórias incríveis (Estoril, 1985 e Interlagos 1991); vitórias "tiradas" (Mônaco, 1984 e Susuka,1989); manobras fantásticas (Donington Park – 1993 "A volta mais fantástica da fórmula 1" e qualquer outra prova!); decepções inacreditáveis (Mônaco, 1998 – bateu sozinho a quase uma volta de diferença para o segundo colocado); cassação de sua licença para competir na Fórmula 1 em 1989, depois da briga com Jean-Marie Ballestre – "dirigente todo-poderoso" da Fórmula 1 nos anos 80 e 90.
Enfim, são tantos episódios marcantes e "quebra de barreiras" quase que intransponíveis, que Ayrton Senna se tornou um campeão idolatrado no mundo todo.
Quando então pôde usufruir de seus esforços ao assinar com a imbatível Williams (a incontestável melhor equipe da época- início dos nos 90) os burocratas e dirigentes, liderados por Jean-Marie Ballestre, proibiram o uso de quase toda tecnologia desenvolvida pela Williams e em poucos meses a mesma equipe teve que preparar um carro às pressas para a temporada de 1994. Com isso, a Williams entregou a Ayrton Senna um carro "inguiável" (em suas próprias palavras). Depois disso, o mundo sabe o que aconteceu!
Dedicação, talento, alegria, tristeza, glória, injustiça, exemplo para jovens, e muito mais, fazem a história de um incrível atleta que se transformou em herói.
Como todo herói está entre nós, escrevi, em várias partes deste texto, no presente. Talvez seja por isso, que meu jovem filho de 12 anos, vidrado em um programa de TV sobre Ayrton Senna disse: "Papai, o Senna é fera, ele deve estar ajudando o Schumacher!"