por Thaís Petroff
A história de todos nós começa na barriga de nossas mães.
Vivemos lá por aproximadamente nove meses quentinhos, protegidos, alimentados e acolhidos.
Quando nascemos somos expostos a um ambiente estranho, inóspito; onde há muita claridade, barulho e etc. Passamos a sentir incômodos que anteriormente desconhecíamos, tais como: fome, dor, frio, dentre outros e isso gera muita angústia, uma vez que não temos ainda a ideia de tempo e, enquanto esse desconforto dura, parece eterno.
Essa aflição só cessa quando somos pegos no colo e somos acarinhados, alimentados, aquecidos e tocados. De modo geral, nosso sofrimento finda quando nossa mãe nos pega em seus braços e nos dá o peito. Temos então calor, acolhimento, conforto, alimento e nos sentimos protegidos e tranquilos. Passamos então a fazer uma associação (inconsciente) entre esses aspectos envolvidos nesse momento.
Chamamos isso de pareamento. O pareamento é uma conexão feita entre diferentes aspectos (emoções, pessoas, objetos, situações, etc.) quando, a priori, não há uma relação de causa e efeito entre eles.
Desse modo, passamos a associar o alimento ao prazer; uma vez que é justamente o que sentimos ao sermos aninhados junto ao seio de nossas mães. Isso também vale para bebês alimentados por mamadeira no colo de sua mãe ou cuidadora.
Algumas pessoas fazem essa associação mais fortemente do que outras, passando a ligar comida com acolhimento, segurança, proteção, amor e tranquilidade.
Esse grupo específico de pessoas além de sentir o prazer habitual que a maioria sente ao colocar um bocado de comida na boca (até porque comer é uma de nossas necessidades básicas e, sentindo prazer ao executá-la, temos maior garantia de preservar nossa sobrevivência), sente também conforto ao comer.
A comida passa, portanto, a representar muito mais do que nutrir o organismo com a energia necessária para executar as necessidades diárias. A comida é percebida como fonte de segurança, bem-estar e acolhimento. Assim, muitas vezes quando a pessoa se vê ansiosa ou triste, recorre à comida para se sentir preenchida desses sentimentos.
Vemos esse quadro em muitos casos de obesidade, bulimia ou ainda em pessoas que percebem que têm necessidade de comer grandes quantidades de alimento até se sentirem repletas ou estufadas. O que essas pessoas buscam é um alívio emocional de seus medos, tristezas, ansiedades, carências, angústias e percebem a comida como fonte de amor, acolhimento, proteção, tranquilidade…
Ou seja, há uma lembrança remota dos tempos em que havia aflição ou mal-estar e tudo se resolvia ao mamar.
Em psicoterapia busca-se juntamente com o paciente, encontrar estratégias mais adequadas de como resolver os problemas e lidar com as angústias, podendo dessa maneira suplantar essa associação e ter na comida uma fonte de prazer, mas sentindo-se no controle de si mesmo.