Por Ceres Alves de Araujo
No mundo, desde muito, se contam histórias, lendas, mitos, fábulas. O ato de contar é mágico, pois encanta a quem escuta e também encanta a quem relata. As narrativas trazem ensinamentos e mensagens e traduzem a realidade, muitas vezes, mediante metáforas, alegorias e símbolos. Essas figuras de linguagem carregam o que existe de mais precioso, pois estimulam a fantasia e a criatividade.
As narrativas são sempre acessíveis às crianças, que a apreendem de alguma forma em função do nível de seu desenvolvimento e também em função de necessidades internas, muitas vezes inconscientes. A apreensão se dá em partes cada vez maiores, que vão se integrando, na medida em que escutam os temas várias vezes.
As histórias infantis ajudam a desenvolver o imaginário, a fantasia, a inteligência e principalmente a capacidade para lidar com as emoções e os afetos, habilidade essa mais ou menos negligenciada nos nossos dias, mas que é fundamental para o desenvolvimento da capacidade de adaptação saudável e criativa no mundo das pessoas e das situações.
Sabe-se que, no ser humano, a mente e a função simbólica se desenvolvem a partir da experiência dos relacionamentos interpessoais. Ao se engajar em um diálogo ativo e reflexivo com imagens, sensações, pensamentos e intuições, quem conta e quem escuta podem entrar juntos em um mundo imaginário, companheiros na “viagem”, o que aprofunda o vínculo entre eles. É favorecida a capacidade de simbolização.
Para os pais, contar histórias da própria infância, dos avós, da família em geral, ajuda a criança a perceber sua inserção em uma história que é muito maior que a sua. Ajuda a noção de enraizamento, a sensação de pertencer a um grupo com valores significativos.
Inventar histórias, introduzir recheios, alterar desfechos, cocriar com a criança sequências lógicas ou inverossímeis, tudo vale. A fantasia é a força criativo-maternal do espírito humano, dizia Carl Gustav Jung. Normalmente a fantasia não erra, pois é demais profunda e intimamente ligada aos fundamentos dos instintos humanos. A atividade criadora da força da imaginação libera o ser humano das suas amarras, elevando-o à categoria do lúdico.
A criança prefere, muitas vezes, a explicação fantasiosa ou mitológica. Esse tipo de explicação embora não corresponda necessariamente aos fatos reais, faz com que a criança participe da busca do significado no desenvolvimento do pensamento. Nesse contexto, ela precisa, muitas vezes, sair da realidade dos fatos e construir seu mundo próprio imaginário. Fingir que as coisas são o que não são, para corresponder às necessidades expressivas internas, parece estar na origem da fantasia e da criatividade.
Decorre daí, a importância do exercício da imaginação e da criatividade, tão necessário ao processo do desenvolvimento humano.
Contar histórias não deve ser uma alternativa aos momentos em frente à televisão, ao computador ou aos jogos eletrônicos ou também apenas usada com a finalidade de facilitar a rotina do horário de dormir. Precisa ser um momento muito especial que deve ser pensado em função de seu valor essencial. Ou seja, um momento privilegiado de contato pais-filhos: contar e escutar histórias simplesmente pela prazerosa aventura de entrar juntos no mundo da imaginação.