por Roberto Goldkorn
A História e a história das grandes religiões, as mitologias, todas sem exceção, estão repletas de citações de deuses, seres do “céu”, habitantes de outras dimensões, que de alguma forma, para o bem ou para o mal, influenciaram a vida da humanidade.
Alguns antropólogos e estudiosos importantes atribuem essas histórias à capacidade da mente humana de se projetar. Isto é, projetar de forma alegórica suas neuroses, seus medos e aspirações na tentativa inconsciente (se é que o inconsciente faz tentativas) de diminuir sua solidão e o seu pasmo diante do universo misterioso, maravilhoso e assombroso.
Sem dúvida, essa é uma explicação que faz sentido. Inverter a célebre frase e dizer que foi o homem quem criou “deus” à sua imagem e semelhança, faz sentido. Afinal, o Homem a gente conhece, pode medir, apalpar, pesar, estudar. Obviamente, só cabeças muito acomodadas (eu ia dizer outra palavra) se contentam com uma explicação única para um fenômeno tão abrangente e intrigante:
– Quem são os deuses?
– Como surgiram?
– De onde vieram (de verdade)?
– O que pretendiam (de verdade) conosco?
Somos o produto dos deuses (como garantem as religiões) ou os produzimos?
Estudiosos garantem que parte de nosso DNA é misterioso, não humano, provavelmente alienígena. Pode ser. Senão como explicar uma “humanidade” que abriga seres da mesma origem – irmãos como certos antropólogos gostam de enfatizar- mas tão diferentes?
Como explicar que diante da mesma foto de uma mulher, duas pessoas igualmente educadas, possam concluir:
“Ela está triste!”
“Não, ela está alegre!”
Torre de Babel: “antiescada” para o céu
A imagem bíblica da Torre de Babel, talvez nos traga alguma luz: “Deus puniu os homens que tinham a pretensão de alcançar os céus com a torre monumental, misturando-lhes as línguas, para que não se entendessem!”
Vejam bem, se as pessoas que antes falavam a mesma língua, ou seja, pensavam da mesma forma, passaram a pensar e a falar diferente (e ainda não tinham o tradutor do Google, imaginem!), pela intervenção divina, para evitar que os humanos aos céus tivessem acesso – isso pode ter sido feito, mas não por um Deus temeroso de ser alcançado em sua morada, e sim por alienígenas, interessados em atrasar o desenvolvimento humano. Será?
Nos acostumamos tanto em viver em divergência que não conseguimos mais nos espantar com isso. O que não quer dizer, que não seja espantoso, como e em que grau divergimos uns dos outros. Porém, existe algo ainda mais espantoso nessa história: Se os alienígenas alteraram nossos genes para que nos desenvolvêssemos de forma assimétrica, o que pretendiam com isso? Apenas, nos separar para nos enfraquecer? Desacelerar o ritmo do nosso desenvolvimento, ao tornar o “homem o lobo do homem”? Numa olhada superficial, parece que, se foi esse o plano alienígena, não deu muito certo, porque ainda assim evoluímos (eu acho) – construímos torres que arranham os céus e subimos a eles. Está certo, concordo que outros homens-lobos jogam aviões contra algumas de nossas mais altas torres e as derrubam, mas a gente insiste e constrói outras. E aí?
Os deuses alienígenas falharam em seus planos originais? Apesar de sua intervenção em nossos cromossomos, ainda somos capazes de chegar lá? Lá onde?
As linguagens dos jovens, cada vez menos compreensíveis aos adultos é uma manifestação dessa engenharia genética para desunir pais e filhos e impedir essa que seria uma aliança invencível? As religiões que foram criadas para nos religar a fonte original de vida, foram e são ainda a maior fonte de crise e divergência, de longe a causa maior de devastação, sofrimento e conflito. Logo a religião! Não é estranho?
Se conseguíssemos superar com esforço e tecnologia esse determinismo genético, essa ocupação alienígena para competir e passássemos a cooperar, qual o grau de ameaça representaríamos aos deuses extraterrestres? Eles fariam nova e letal intervenção (como no dilúvio?), ou se renderiam, sabendo que finalmente, apesar de seus esforços, alcançamos a maioridade?
Por enquanto a imagem vista do alto é inconclusa: vemos uma humanidade que progride, que avança no sentido de se emancipar, mas vemos crescer as divergências, elas ficam mais ferozes, mais armadas. Vemos do alto, movimentação de exércitos cada vez mais poderosos com linguagens absolutamente diferentes, pensamentos sem sequer uma única ponte de comunicação, sem a piedade do mínimo múltiplo comum.
A cada pequena e grande conquista feita pela união das linguagens e dos pensamentos, comemoramos e damos nossas risadas planetárias. Mas será que os deuses alienígenas, estão preocupados ou quietos em suas naves-mães, sorrindo de canto de boca, sabendo que quem ri por último ri melhor?
Cooperação ou divergência?
O que nos move mais e melhor?
Sabemos que quando os “maus” se unem num mesmo “partido”, mesmo pensamento e afinados na mesma linguagem, o TODO corre perigo.
Também sabemos que quando os “bons” se unem todos num mesmo pensamento e numa mesma linguagem, o inferno costuma ficar superlotado.
O que talvez os deuses alienígenas mais temam é que mauzinhos e bonzinhos se unam numa linguagem comum e num pensamento comum. Aí sim, poderemos não só chegar aos céus, mas também derrotar os vírus – armas de destruição em massa que só esperam em sua paciência milenar (e sem divergência), o momento de serem ativadas.
Observem e testemunhem o poder das divergências, desde os arranca-rabos familiares até os de extensão planetária, vamos poder, agora mais que nunca, saber quem vai levar a melhor.
O mais irônico nessa conspiração alienígena para nos colocar na rinha, é que acreditarmos nos mitos e relatos religiosos universais. Eles também não escapam do choque das divergências e estão em constante conflito entre si. Isso é intrigante. Se foram os deuses alienígenas que nos colocaram em rota de colisão uns com os outros, quem colocou essas potências extraterrestres em confronto eterno? Isso é bom ou mal para nós, reles lagartas presas à gravidade terrestre?
Tantas perguntas…
De minha parte uma única certeza me anima: se um dia, ainda a tempo, conseguirmos acordar desse transe criado pela engenharia genética e passarmos a cooperar, a remarmos juntos essa nave planetária, seremos os regentes do universo.
Universo talvez seja exagero e desnecessário. Se conseguirmos unir as torcidas nas arquibancadas e fora dos estádios, poderemos reinar finalmente sobre esse planeta tão pequeno, e conseguir o que os extraterrestres mais temem: viver em estado de felicidade original, naquele paraíso do qual um dia fomos defenestrados. E se isso for possível, alcançaremos e obteremos a nossa grande vingança contra aqueles que nos separaram ainda no berço: viveremos bem na casa que nos foi dada.