Por que dói tanto se separar?

O ato da separação sempre poderá causar dor, a exemplo de separar-se de uma sociedade, de uma cidade, de uma amizade ou de um amor. Separar-se até mesmo de uma relação que já não mais funciona, dói.

Porque separação deixa marcas: algumas, leves e passageiras; outras, profundas e doídas. Mas também nos deixa uma certeza: a de que crescemos na maturidade dessa evolução afetiva. É notório que no processo de perdas, crescemos significativamente. A dor faz parte do nosso crescimento como o próprio amor.

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A fase das dúvidas e das inquietações afetivas consome os pensamentos e, por vezes, reflete internamente como um túnel sem luz. Mas, muitas vezes, esses questionamentos e desafios abrem portas para novas oportunidades e possiblidades criativas de amar, ser amado e encontrar novamente o caminho da felicidade e da luz no final do túnel. Esperar é um caminho a ser aprendido!

Casados, mas separados  

Muitos casais já estão separados há tempos, mas unidos pela formalização de um papel e de um contrato social. E, portanto, reféns um do outro e de sua própria infelicidade. Compreender a dor, a mágoa e a sensação de fracasso que o outro sente nessa quebra de vínculos é o primeiro passo para acolher essa angústia que parece ser infinita. Mas toda ferida virará cicatriz um dia. E cicatrizes não doem mais.

A separação parece funcionar, estruturalmente, nas pessoas envolvidas, da seguinte forma: quem supostamente desempenha o papel de abandonar, carrega um peso da culpa, muitas vezes, injustamente. E quem representa o papel de ser deixado ou abandonado, assume a vitimização e é levado a uma destruição psíquica. É um erro essa cena ser pintada num quadro e aceita por uma sociedade que julga e condena os papéis representativos aqui. Não há vítimas, para começar. Não há culpados, para terminar. Há responsáveis mútuos pela relação. Estar juntos é uma via de mão dupla. Quando as leis e as regras dessa via forem modificadas, ela passará a ser sentido único e o casal deixará de existir, passará a sobreviver e não a viver a dois.

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No livro “Presente do Mar” de autoria de Anne M. Lindbergh, ela nos revela assim: “Insistimos em permanência, duração, continuidade, quando a única continuidade possível na vida, como no amor, está no crescimento, na fluidez…”. A permanência pelo vínculo estabelecido, e a não aceitação dessa perda, vai sendo levada pelo casal de forma longínqua e dolorosa, fazendo com que o sentimento passe a ocupar um lugar de raiva, culpas e mágoas entre eles.



Perceber e enxergar o momento de começar o final a dois também é fundamental para uma relação terminar como começou: com respeito e afetividade ainda presentes, para que, assim, ambos possam reconstruir suas vidas, sonhos e amores. Porque amar também é saber terminar, para recomeçar!