por Patricia Gebrim
Ah… quanta confusão pouparíamos a nós mesmos se tivéssemos a coragem de ser quem realmente somos. Se nos propuséssemos a arriscar mais, a seguir aquela voz interna que pede transformações, que nos diz para ir para lá ou para cá. Se não déssemos tanta importância à opinião dos outros. Se nos permitíssemos discordar dos outros sem transformar isso em um campo de batalha, sem precisar convencê-los de que estamos certos, sem nos recusarmos a ouvi-los, sem precisar atacar.
– É incrível a facilidade com a qual traímos a nós mesmos, você já percebeu isso?
Para entender melhor essa questão, pense na forma como somos criados e educados em nossa sociedade. As crianças são tratadas como se nada soubessem, como se precisassem aprender com os adultos tudo o que é importante sobre a vida. Com raríssimas exceções, é assim que acontece. Assim fui educada, e possivelmente você também. É muito raro que um adulto olhe para uma criança reconhecendo a sua sabedoria, reconhecendo a beleza em sua capacidade para sorrir, para brincar, para amar. Reconhecendo que ela talvez saiba bastante sobre muitas coisas. Mais do que um adulto possa imaginar.
Aprendemos desde cedo que as nossas opiniões não valem lá grande coisa. Sem perceber, nos tornamos adultos, mas continuamos como crianças, duvidando de nós mesmos.
Pensamos por horas em seguir por um caminho, e justo quando estávamos para dar o primeiro passo, alguém nos diz que esse não é um bom caminho. E assim ficamos, com o passo em suspenso, o pé incomodamente pendurado no ar.
– E se eu seguir e errar? – pensamos, tomados pelo medo e pela incerteza.
– Por que entregamos o nosso poder com tanta facilidade? Você já pensou nisso?
Agora vou me permitir contar-lhe algo que aconteceu comigo há alguns anos. Em um dia cheio de sol, eu decidi que iria a um concerto de piano. O evento aconteceria durante a tarde, e como estava bastante quente, escolhi um vestido turquesa, que tinha flores cor de rosa. Pink, para ser mais exata! O vestido era leve e brincalhão. Mais do que tudo, era alegre, e refletia a forma como eu estava me sentindo naquele dia. Saí de casa, estava me sentindo radiante. Cheguei ao local, comprei meu ingresso e entrei, toda feliz, aberta para celebrar a minha alegria em companhia do som do piano.
Mas ao entrar na sala de concerto, um lugar quieto, quase austero, percebi que o público daquele lugar era bem diferente de mim. Todas as pessoas eram bem mais velhas do que eu, e estavam vestidas de forma clássica e neutra. A medida em que eu ia caminhando pelo corredor, com meu vestido turquesa e pink, fui sentindo minha alegria se esvair na mesma proporção em que os olhares se voltavam para mim. Continuei caminhando, como se nada estivesse acontecendo, até que ouvi um comentário, um cochicho absolutamente audível, de que o meu vestido parecia uma fantasia.
Se divido isso com vocês é para que não pensem que eu sou algum ser superior, imune às dificuldades sobre as quais escrevo… confesso que naquele momento toda a alegria que eu sentia tornou-se um peso oprimindo meu peito, as flores do meu vestido murcharam e se esconderam na cadeira numerada, da qual só me levantei depois que todos os cinzas, pretos e beges tinham ido embora.
Aquilo me fez pensar muito sobre o poder que damos às outras pessoas. Que poder eu dei àquelas pessoas para deixar que roubassem de mim toda a alegria? Pensei nisso muitas vezes, depois daquele dia. Percebi a força dos condicionamentos pelos quais todos nós passamos, que nos ensinaram que a aprovação do grupo é fundamental para a nossa sobrevivência.
É claro que isso é uma verdade quando temos cinco anos de idade, mas aos 30… 40 anos, será que ainda precisamos acreditar nisso?
Assim abortamos as nossas melhores possibilidades. E foi assim que eu abortei aquela deliciosa alegria, naquela tarde, porque fui incapaz de sustentá-la, porque fui incapaz de ficar a meu lado, não importa o que pensassem as pessoas ao meu redor. Eu traí o meu vestido e a mim mesma! Até hoje peço desculpas a mim por isso, e por tantas outras vezes em que algo assim aconteceu.
Hoje procuro ficar atenta e acreditar-me capaz de honrar minhas escolhas e meu caminho.
O mundo está passando por profundas transformações. Não importa o quanto você esteja ou não consciente disso, todos nós, incluindo você, estamos sendo afetados por isso. O ritmo de tudo está muito acelerado e as mudanças estão acontecendo em uma velocidade incrivelmente rápida. Assim, não temos mais tempo a perder. Precisamos despertar. Precisamos trazer para o mundo aquilo que cada um de nós, sendo exatamente quem é, pode manifestar. E só faremos isso se tivermos a coragem de ser quem somos, se tivermos a coragem de abrir mão da busca de segurança ou de aprovação dos outros.
Olhe com verdade e profundidade para dentro de você, e honre o que quer que consiga enxergar.
Se você deseja mudar o rumo de sua vida profissional, faça isso, mesmo que todos ao redor olhem para você com aquela cara que as pessoas fazem quando olham para uma pessoa insana.
Se quiser mudar de cidade, mude.
Se quiser terminar um relacionamento, termine.
Se quiser voltar a estudar, estude.
Se quiser passar a vida conhecendo o mundo com uma mochila nas costas, parta já.
Se quiser dedicar a sua vida ao estudo da reprodução dos salmões, não perca tempo.
Se quiser andar por aí em um vestido turquesa e rosa pink… faça isso e me convide para caminhar a seu lado.
Honre a si mesmo acima de tudo, dê as mãos à sua verdade e ouse.
Não há vida sem ousadia!