por Arlete Gavranic
Desde muito cedo os meninos tornam-se ‘amigos’ de seus pênis, colocam apelidos, o manuseiam várias vezes ao dia e aprendem a tirar prazer dessa relação tão íntima.
A masturbação masculina ganha então apelidos como: bater uma punheta, cinco contra um; descascar uma banana; fazer justiça com as próprias mãos; alimentar os patos, arregaçar o bozó, bater um lero; bater uma bronha; fazer sozinho; acender a vela, depenar o sabiá e disparar a bazuca.
Apesar das muitas crenças negativas e repressões religiosas, esse culto ao prazer através da masturbação acompanha o homem a vida toda, independente dele estar solteiro ou ter companheira (o) fixo.
Relatório feito por *Alfred Kinsey no final da década de quarenta, registrava a prática masturbatória em 96% dos homens pesquisados. Há o filme Kinsey (2004) dirigido por Bill Condon.
Embora saibamos que a freqüência da masturbação tende a diminuir quando se está num relacionamento fixo, não estará abolida.
É importante ter consciência que entre os adultos a prática masturbatória é uma das possibilidades de obtenção de prazer sexual.
Maridos: sexo solitário
Muitas mulheres queixam-se que seus maridos acabam optando por se masturbar do que transar com elas, normalmente fazem isso através de pornografia online.
Entender essa queixa é o primeiro passo, pois a masturbação estará sempre presente na vida das pessoas, principalmente do homem que aprendeu a ter esse prazer desde muito cedo. Mas algumas mulheres não aceitam que o parceiro se masturbe, como se isso fosse um indício de que ele não gosta dela, não a deseja ou a está ‘traindo’ com esse prazer ‘egoísta’.
Mas em alguns casos a prática da masturbação faz com que o parceiro não dê conta da relação sexual com a parceira.
Será que esses homens casados se auto-sabotam sexualmente ou estão sabotando a parceira?
Se isso está acontecendo, cabe parar e avaliar vários aspectos da relação.
Como anda esse relacionamento? Existe uma comunicação tranqüila, afetuosa ou é uma relação repleta de cobranças, de atitudes autoritárias ou desafiadoras? Muitas vezes os relacionamentos entram em crises por atitudes desse tipo.
Mulher moderna
Um caso bem freqüente hoje em dia, diz respeito às mulheres modernas, dessas que saem, trabalham, ganham e arcam com suas contas; estão acostumadas a tomarem decisões sozinhas e a arcarem com elas, e de repente, quando se dá conta, o seu parceiro está acuado, sentindo-se rejeitado ou pouco valorizado na relação. Por isso algumas vezes busca no afastamento sexual uma forma de se proteger das críticas dessa mulher muito decidida e até cobradora. Mas esse afastamento também pode ser uma vingança ou uma forma de fazer ela se sentir sozinha e testar se ela se fragiliza, se sente a falta dele.
Mulher dependente
Outro caso também freqüente é de homens que reclamam de mulheres muito dependentes, inclusive para o prazer. E toda essa responsabilidade de ser responsável pelo outro acaba, mais cedo ou mais tarde, tornando-se um peso. Assim, muitas vezes o prazer solitário da masturbação é um ‘presente’ que ele pode dar somente para si.
Existe também a mulher dependente que reclama muito, sempre em busca do prazer ou do orgasmo difícil de chegar. Já atendi muitas mulheres assim. Elas se envolvem pouco com seu próprio prazer e com sua realização; umas por terem incorporado repressões quanto a acariciar o próprio corpo e outras por preguiça.
Algumas parecem princesas esperando que esse companheiro, nem sempre tão encantado, leve-as à vivência do orgasmo, mas são exigentes: ‘Não gosto que toque aqui’; ‘Não beije demais ali’. Se a carícia é suave, é porque é mole demais, se a pegada é firme, tem jeito de agressividade.
Se tem um ‘roteiro’ de carícias tipo: beijo na boca, nuca, pescoço, desce para mamas, carícias no corpo, sexo oral, para daí chegar à penetração, ela reclama que ele não tem criatividade; se ele tenta inovar, trazer uma fantasia, usar um apetrecho (pode ser uma venda, uma algema ou um massageador), ela reclama que ele não está satisfeito com ela, que precisa de outras coisas.
É muito difícil conviver com mulheres que não se responsabilizam pelo seu corpo e seu prazer e que não aprendam a fazer dos momentos juntos uma oportunidade de viver o prazer a dois.
Homens e egoísmo
Mas isso não significa que muitos homens não tenham seu egoísmo, seu medo de perder a individualidade, de sair do padrão adolescente de se masturbar e fantasiar com a pornografia ou que não tenham suas dificuldades pessoais e sexuais.
Aliás, ainda é grande o número de mulheres que receia uma cantada mais erotizada, um falar sobre sexo mais explicito. Assim, o parceiro satisfaz essa fantasia na pornografia ou no bate-papo online.
Homens e receio
Muitos homens têm receio de falar com a parceira sobre seus desejos, fantasias ou sobre uma característica dela que o incomode como: mudar o perfume; ou que gostaria que ela emagrecesse/engordasse um pouco; que não curte vê-la de batom vermelho e que quando estão juntos preferiria que ela usasse um tom mais suave; que gostaria que ela comprasse uns lingeries ou fantasias do tipo ‘x’. E muitas vezes esse receio de falar, de não saber como falar ou de ser mal entendido e isso trazer confusão ao relacionamento, faz com que esse homem se afaste e viva seu prazer de forma solitária e sem conflitos externos.
Se isso estiver acontecendo na sua relação, é importante parar e conversar. Não é para ser um interrogatório ou uma sessão de cobranças, mas tirar um momento onde cada um possa falar ou escrever. Um escreve o que sente falta ou que gostaria de viver com o outro e aí começam pelo positivo a tentar uma aproximação, para ir dando dicas das coisas que não gostam e que gostariam que fossem mudadas.
Masturbação não é errada e inadequada
Lembre-se que a masturbação não é errada ou inadequada e nem deixará de existir, mesmo que vocês se alinhem mais nos desejos e fantasias e na forma de se comunicarem. Mas ela não deve comprometer a satisfação e o encontro sexual do casal.
Se apenas uma conversa a dois não for o suficiente, talvez uma terapia de casal seja uma boa solução.
Funções positivas da masturbação para o prazer sexual sozinho e a dois
"Entre as funções que a masturbação pode exercer na vida de homens e mulheres e na vida a dois devemos observar algumas vantagens:
• Relaxar após atividades estressantes ou um nível alto de tensão;
• Compensar a ausência temporária ou em longo prazo de uma parceria;
• Aprender a viver um prazer autoconquistado;
• Aliviar a tensão sexual após a relação entre parceiros que funcionem com ritmos diferentes e que ambos ou um deles não tenha alcançado o orgasmo;
• Imprimir aos jogos eróticos do casal uma relação de intimidade, de toque e carícias, libertando o casal da mania reducionista da penetração vaginal, tão comum nos relacionamentos prolongados;
• Evitar um relacionamento arriscado;
• Liberar a criatividade e “viajar na fantasia”, vivenciando situações que muitas vezes não são aceitas pelo(a) parceiro(a);
• Obter a ereção desejada para a realização da cópula."
Fonte: Mª Inês Gasperine, terapeuta sexual.
* Alfred Charles Kinsey (Hoboken, 23 de junho de 1894 — Bloomington, 25 de agosto de 1956) foi um entomologista e zoólogo norte-americano. Em 1947, na Universidade de Indiana, fundou o Instituto de Pesquisa sobre Sexo, hoje chamado de Instituto Kinsey para Pesquisa sobre Sexo, Gênero e Reprodução. Fonte: Wikipedia