por Luiz Alberto Py
Quando os bebês nascem precisam de uma ajuda total para sobreviverem. Com o crescimento, vão se tornando capazes de assumir as tarefas de cuidarem deles mesmos. Este processo de amadurecimento necessita tanto do empenho da criança quanto da atitude dos pais de permitirem uma liberdade cada vez maior de seus filhos, acompanhada de uma também crescente responsabilidade.
Quando isto não acontece, os problemas surgem. Pais excessivamente autoritários e filhos demasiadamente exigentes se sobrecarregam afetivamente uns aos outros. Para evitar situações de conflito, é preciso que a família toda preste muita atenção a este processo de maturação e estimule, de forma progressiva e simultânea, a responsabilidade e a liberdade dos jovens.
Recebo várias cartas e e-mails como os que a seguir resumo juntamente com minhas respostas, sobre a dificuldade, tanto dos pais quanto dos filhos, em perceberem a necessidade de pôr um fim na relação de dependência.
Uma mãe me escreveu: "Tenho um casal de filhos, ele tem 30 anos, curso superior e pós-graduação. Ela, 22 anos, nunca gostou de estudar e arrumou um emprego onde ganha pouco. Continuam pedindo minha ajuda financeira, mas se recusam a morar comigo para baixar as despesas alegando querer privacidade. Sofro privações para atendê-los. O que devo fazer?" Respondi: "Espero que você tenha me escrito para se sentir apoiada na decisão de parar de ajudar seus filhos. Eles já estão bastante crescidos para lutar pela própria vida e deixar de explorar a mãe. Na sua idade, a maior preocupação deve ser com seu próprio bem estar, seu dever de mãe já foi cumprido e agora só falta o ultimo passo da relação de pais com filhos que é expulsá-los do ninho para que eles passem a voar com suas próprias asas.
Um pai pergunta: "Existem pais que sufocam os filhos assim como mães? Sempre ouvimos falar de mães superprotetoras."Respondi: É verdade. Aquilo que se diz a respeito de mãe também é verdadeiro em relação aos pais superprotetores. O problema do superprotetor é que ele acredita que tem o compromisso de evitar qualquer problema para os filhos. E isso é impossível. Nossos filhos vão ter problemas, dificuldades, acidentes que não são de nossa culpa. Mas, fazem parte das coisas da vida. Para os pais saberem se estão dando limite ou superprotegendo basta compreender que quando eles sentem ansiedade, é um sinal de que provavelmente estão superprotegendo. O limite saudável é dado com serenidade.
Um conselho para os pais perceberem quando estão passando dos limites é escutar o protesto dos filhos. Ouça o que seu filho está dizendo com muita atenção e veja se ele não pode ter razão. Imagine como se ele fosse filho de um amigo seu e veja se o filho do seu amigo não teria alguma razão em estar se queixando.
Outras perguntas e suas respostas: "Amar demais o filho é ruim, amor de mãe sufoca?" Resposta: "Demais, é ruim. Todos devemos ter várias pessoas para amar. Quando alguém concentra seu amor em cima de uma pessoa só, isto faz mal a ambos. É sufocante e o filho vai se afastar quando puder. Amor demais não é amor, mas ansiedade."
Em outro e-mail, de uma filha, ela se refere à sua mãe que deseja que a filha faça tudo o que ela não fez quando jovem e pressiona a jovem nesse sentido. Esta atitude, embora bastante frequente, não é boa porque os pais devem encontrar realização em sua própria vida e não na vida dos filhos. E outra mãe afirma: "Quero controlar meu filho em tudo para protegê-lo. É normal?" Controlar e proteger totalmente é um comportamento paterno bastante frequente, mas não é saudável. As crianças precisam aprender a se proteger dos perigos convivendo com eles.
Aprendi que é importante que os pais percebam que, aos poucos, eles vão deixando de ser a figura central da vida afetiva dos filhos. Com o tempo são substituídos por colegas, amigos e, finalmente namorados (as). É uma situação que precisa ser administrada com atenção e cuidado. Sei que o assunto da relação pais/filhos continua em aberto e você está convidado a participar com seus comentários, opiniões e dúvidas.