Por Ceres Alves de Araujo
Muitas são as dificuldades observadas no relacionamento do grupo de meninas durante a segunda infância e a pré-adolescência (período de 6 anos a 12 anos), constituindo verdadeiras vicissitudes do relacionamento. Essas dificuldades tendem a diminuir progressivamente até o meio da adolescência.
Tais dificuldades podem ocasionar bullying, discriminação, perdas, isolamento etc. gerando sofrimento considerável, muitas vezes, determinando até a recusa para frequentar a escola. Mudar de escola, porém, não resolve o problema, porque as dificuldades de relacionamento tendem a se repetir invariavelmente em todas as escolas.
No grupo de meninos isso ocorre com muito menos frequência. Uma explicação possível para esse fato, pode estar ligada à teoria do psicólogo e pesquisador britânico Prof. Dr. Simon Baron-Cohen. Ele mostra que o cérebro masculino é diferente do cérebro feminino desde o início do desenvolvimento. Tal diferença qualificada por ele como “essencial” é determinada pela herança genética somada à experiência de vida.
O cérebro feminino é predominantemente programado para a empatia, pois as áreas responsáveis pela linguagem são mais desenvolvidas e o cérebro masculino é predominantemente programado para sistemas de construção e compreensão, pois ele tem mais desenvolvidas as áreas responsáveis pela sistematização. As diferenças são percebíveis desde o nascimento e são causadas pelos hormônios que agem na gestação, controlados pelos genes.
Baron-Cohen reafirma, seguidas vezes, que um cérebro não é melhor que o outro. Mostra também que nem todos os homens possuem um cérebro masculino e nem todas as mulheres possuem um cérebro feminino. Há pessoas que possuem um cérebro do tipo oposto ao do gênero do qual fazem parte e muitas pessoas têm um cérebro balanceado.
Em média, as mulheres tendem a ter mais capacidade para empatia e, em média, os homens tendem a ter melhor capacidade para a compreensão de sistemas. A diferença parece ser fruto da evolução, que levou cada sexo a ser mais adaptado a uma área.
Consequentemente, o cérebro feminino poderia ter mais vantagens no mundo social e o cérebro masculino no mundo abstrato. Parece, portanto, um paradoxo que, justamente as meninas, apresentem mais problemas de relacionamento que os meninos. Mas, tal fenômeno pode ser justificado pelo fato que as competências de linguagem e de empatia também dependem significativamente do processo do desenvolvimento.
As meninas, por terem as funções de linguagem mais desenvolvidas que os meninos, falam mais, falam muito entre elas, falam o que não devem, pois nem sempre conseguem refletir sobre o que falam e, em decorrência, atuam muito, se expõem mais e machucam umas às outras. Ao crescerem terão uma linguagem articulada e abrangente, serão mais empáticas e poderão ter uma sociabilidade muito bem adaptada. Todavia, nessa faixa etária, tais competências ainda são toscas, levando-as a uma fluência verbal sem muita capacidade de inibição.
É um problema do desenvolvimento, muito frequente entre os 6 e 12 anos, nas meninas e que tende a ser progressivamente atenuado. Entretanto, o sofrimento é considerável. A melhor amiga de hoje pode ser a maior inimiga de amanhã. Confianças são perdidas. Segredos não podem ser confiados. A dor emocional passa a fazer parte da vida e isso é um aprendizado.