por Edson Toledo
Já estamos acostumados a ver ou ouvir nas diversas mídias manifestações acontecendo nos grandes centros urbanos, isoladas ou articuladas entre si – e olha que não são poucas.
Um exemplo para ilustrar, uma delas aconteceu em São Paulo e teve grande repercussão: foi a do aumento dos 0,20 centavos no valor da passagem dos ônibus urbanos na capital. Foram contabilizado milhares de pessoas participando e reivindicando seus direitos com seus legítimos argumentos.
Curiosamente, encontramos também na mesma mídia discussões e opiniões de jornalistas, cientistas sociais, advogados e analistas políticos falando dos aspectos relacionados às suas expertises. Porém me chama a atenção à quase ausência de seus aspectos psicológicos.
Um fato que podemos observar é que diferentemente de estar só, na multidão o individuo parece ganhar outra vida (deixamos de ser único e passamos a ser coletivo), o que nos leva a pensar que provavelmente ocorra uma identificação social de pessoas com o grupo que o faz, que de uma forma fluida provoque uma mudança muito rápida nos comportamentos e atitudes.
Certamente o tema é complexo e também não pretendo esgotá-lo.
Retomando, meu argumento para entendermos esse fenômeno é o de que há muito atrás, na época em que o homem primitivo vivia uma condição inóspita (não era das tarefas mais fáceis viver naquele período), num ambiente muito imprevisível em todos os sentidos e precisava-se garantir a sobrevivência, ou seja, garantir sua segurança e alimentação.
Seguindo seus primitivos instintos e diante de condições extremamente hostis, os humanos perceberam que se juntassem em bando teriam mais chances de sobrevivência. Assim, ficava mais fácil buscar parceiras para se acasalar e se proteger. Também, caçar com a ajuda do grupo tornava-se mais fácil e mais eficaz. Assim, com o passar dos anos, o comportamento de agrupar-se se, tornou-se instintivo e contribuiu para construir mecanismos eficientes de sobrevivência.
Exemplificando, especialistas afirmam que comida farta e segura é uma condição muito recente em nossa história evolutiva; diz-se que se usarmos uma metáfora métrica para entendermos a jornada da escassez por alimentos, desde o aparecimento do homem até os nossos dias, teríamos percorrido a distância de cem metros, porém, a fartura por alimentos teria acontecido apenas no último centímetro desses cem metros.
Tal condição pode explicar por que nosso cérebro, através de comportamento repetitivo ainda nos direciona frequentemente para alimentos mais calóricos, pois se acredita que ele ainda não aprendeu que vivemos em uma época onde existe fartura de alimentos.
Esse mesmo argumento pode ser usado sobre a ótica da proteção, então vejamos.
Em grupo, comportamento das pessoas se modifica
Quando muitas pessoas estão reunidas com um objetivo comum em um grupo, e estão mobilizadas emocionadas, qualquer causa externa ao grupo que o ameasse pode certamente se tornar o gatilho para que regiões mais primitivas de nosso cérebro se apoderem do comando de nossas ações e nos façam comportar-se impulsivamente na busca de proteção e preservação do grupo. É assim hoje e possivelmente foi nos milhares de anos. O fato é que quando isso ocorre, perdemos a sensatez ou razão e agimos de maneira instintiva.
Para sua reflexão, você certamente já esteve (ou estará) no meio de alguma multidão, com o sentimento latente de inconformado a cerca de algum desses eventos que a mídia frequentemente nos traz de injustiça ou impunidade. Provavelmente vivenciou o quanto estar lá pode ser imensamente contagioso. Por quê? Porque pessoas comuns, as tidas normais, ficam mobilizadas a fazer coisas improváveis em determinadas situações: gritam palavras de ordem, empurram, jogam objetos que têm as mãos, quebram propriedades e por vezes envolvem-se em saques.
Assim, em relação às manifestações populares de protestos a que temos assistido (e com grandes possibilidades de continuarmos assistindo), embora continuem sendo justificadas pelos especialistas sob as mais variadas óticas, devemos somar a essa justificativa a de que uma parcela da força mobilizadora para praticarmos comportamentos tidos como inadequados, serão mobilizados por áreas mais primitivas de nosso cérebro e que fatalmente por um período incerto de tempo, ainda, guiarão nosso comportamento toda vez que estivermos em grandes multidões.