O medo de ficar possui uma relação com o lado cruel da informação fácil e o farto cardápio de escolhas oferecidos pelos Apps de relacionamentos e redes sociais; entenda essa dinâmica
“Agora com os Apps de relacionamento, o maior inimigo das pessoas, não é mais só o medo de entrar em um relacionamento e talvez aprofundá-lo, mas há um medo de simplesmente ‘ficar’. As pessoas por desejarem a certeza que não estão entrando numa furada, preferem nem ficar… Assim, desperdiçam-se duas oportunidades: a de ficar e a de quem sabe… namorar. Com esse receio de ficar com alguém, que tipo de dúvidas deveria eliminar da minha cabeça?”
Resposta: Relacionamentos amorosos, até bem pouco tempo atrás, eram mais intuitivos. Fazia parte do senso comum acreditar que assim que as pessoas crescessem, procurariam um par, acasalariam e teriam uma família.
Certamente todo mundo tinha lá seus medos de ficar “sobrando”, não ser escolhido, levar um fora, mas arriscava-se. E certamente com os “nãos”, as pessoas não tinham muita saída a não ser tentar de novo. O que, de certo modo, lhes permitiam desenvolver uma qualidade bastante em falta nos dias de hoje: a resiliência.
O lado cruel da informação fácil
A informação fácil, nesse sentido, apresenta seu lado cruel: ela pode instalar o medo nas pessoas a ponto de evitarem até tentar começar um relacionamento. Isso porque muitos já começaram relacionamentos virtuais que foram malsucedidos na transição para o encontro real ou já leram sobre casos malsucedidos e se acomodam no seu “namoro” com a informação, sempre se renovando e trazendo a falsa sensação de movimento.
Muitos nem “ficam” mais, pois os alardes sobre doenças transmitidas por contato físico, por exemplo, servem de desculpa para o isolamento total. Com pandemia ou sem.
Fazer planos afetivos, viver experiências reais trocar ideias e afetos sempre fez parte da vida das pessoas. E essas vivências têm lá seu valor. Talvez seja um exagero bani-las totalmente por medo. Tentar sempre acrescenta algo, seja com um resultado positivo ou um negativo. E no campo amoroso as tentativas sempre trarão algum aprendizado de convívio social. Afinal, ainda somos seres sociais e não vivemos isolados numa ilha.
Não desista, ao menos tente
Quem está quase desistindo de experiências afetivas reais, mas não desistiu de sonhar com elas, deveria, pelo menos tentar. Não apenas para casar e formar família, mas para poder escolher se gosta ou não de trocar beijos, carinhos, sexo e afeto com outra pessoa. Assim, nessa troca, se aprende algo diferente brigando e depois fazendo as pazes com alguém.
Ademais, você vê se sente preenchido com a expectativa de um encontro amoroso; se acha agradável ter com quem comentar um mergulho no mar em uma praia paradisíaca. Provavelmente, quem tentar, sairá mais preenchido do que quem desistir de cara. Além d mais, sairá com a sensação de ter sido mobilizado em seu emocional; sairá com a sensação que existem várias emoções entre o binômio excitação/tédio que a virtualidade proporciona.
Enfim, sairá com a sensação de ainda pertencer ao mundo dos humanos, onde reina a possibilidade de viver não somente as próprias experiências, mas compartilhar emoções alheias através da empatia. Aliás, isso também está escasseando com o advento da virtualidade.
Temos que tomar cuidado para que nossas emoções, tão diversificadas, não passem a se resumir a carinhas alegres ou tristes petrificadas pela máquina. E tirem nossa essência, o ser único que cada um de nós representa na diversidade humana.