por Patricia Gebrim
O tema sobre o qual vou escrever hoje é, com certeza, tão familiar e conhecido que pode ser considerado banal.
– Uma pessoa sente-se atraída por outra e vai em sua direção. Mas se a outra corresponde, deixa de ser interessante.
Ou talvez você já tenha ouvido, ou dito, frases assim:
– Eu só me interesso por pessoas quando elas não se mostram muito interessadas em mim.
– Quando alguém mostra gostar muito de mim, perco o interesse
O que seria dos filmes e novelas sem essa inspiração para seus roteiros? O que seria dos dramas e músicas de dor-de-cotovelo? O que seria dos jogos que as pessoas inventam para manipular umas às outras?
No cinema pode até ser interessante, mas na vida real não existe nada mais triste. Essa característica das pessoas as obriga sempre a viver a frustração do desencontro, as aprisiona em um deserto solitário, onde o que motiva os movimentos é a ilusão do oásis que nunca pode ser alcançado.
Existem ao menos dois aspectos que podemos abordar para tentar compreender os motivos que levam as pessoas a agirem assim.
Primeiro, esse tipo de mecanismo (rejeitar quem nos quer e desejar quem não nos quer) está embasado em uma forma imatura e infantil de relacionamento. Ora, em nossa imaturidade desejamos ter aquilo que idealizamos. Essa é a base da paixão. Desejar aquela pessoa mágica e encantadora, sobre-humana, perfeita, que nos aceite incondicionalmente e supra todas as nossas faltas e carências, que nos complete, que nos faça sentir “um”. É claro que sabemos, racionalmente, que isso não existe. Mas aqueles que querem viver apaixonados negam essa realidade. Quando veem alguém ao longe, como se a pessoa fosse uma tela em branco sem contornos, projetam nela tudo o que gostariam de encontrar.
Isso funciona desde que a pessoa esteja longe ou inacessível. A distância permite que eu continue a acreditar que aquela pessoa é exatamente como imaginei. Se ela se aproxima, se ganhamos intimidade, eu começo a enxergar suas formas reais, muitas vezes diferentes do que eu tinha imaginado, então eu a rejeito.
– Não quero a pessoa real, de carne e osso… Quero aquilo que criei em minha mente, quero a pessoa inventada. E para manter a pessoa inventada nunca posso ter a pessoa real…
E assim se escrevem roteiros e mais roteiros de amores platônicos por pessoas inacessíveis, Romeus e Julietas, e histórias nas quais abandonamos quem mais nos ama, pois não suportamos a proximidade nua e crua que o amor nos traz.
No final não é o amor do outro que não suportamos, e sim a percepção de nossa própria incapacidade de amar. É preferível viver só, na ilusão de que um dia encontraremos o amor perfeito, do que aceitar que nosso coração é que ficou congelado e não é capaz de suportar uma relação real. Pode ser duro ouvir isso, mas não há possibilidade de se criar uma vida afetiva saudável sem que se encare esse assunto de frente e com coragem.
Outro aspecto contido nesse círculo vicioso que nos leva a rejeitarmos quem de fato nos ama é a nossa baixa autoestima. Ora, se não gostamos de verdade de nós mesmos, se não achamos que somos pessoas bacanas, se negamos nosso valor… Com certeza não iremos valorizar quem gosta de nós.
– Se ele gosta de mim que sou "uma droga" é por que deve ser "uma droga" também – é mais ou menos assim que funciona.
Se nos amássemos de verdade, se nos considerássemos brilhantes como pedras preciosas, admiraríamos aquela pessoa que nos quer ter, admiraríamos sua capacidade de enxergar nosso brilho em meio a tanta escuridão e a veríamos brilhante também. E assim, como consequência dessa consciência mais elevada, nos permitiríamos esse encontro que pode ser tão profundo e transformador. E nos permitiríamos simplesmente viver o amor, o amor real, de carne e osso, qualidades e virtudes, imperfeito, mas verdadeiro, que não é feito de duas metades que se completam e sim da linda dança de dois seres inteiros que se apoiam e ajudam a crescer mutuamente.
O encontro amoroso sem medos, de braços abertos, coração com coração, um peito colado no outro numa entrega mútua não é para todos, acreditem. Há que se ter maturidade, coragem e uma boa dose de amor próprio para que ele se torne real.