por Thaís Petroff
Percebo atualmente que é muito comum a mentalidade de focar-se na satisfação ou em obter satisfação. O que quero dizer com isso é que muitas pessoas fazem as coisas pensando que por fazê-las, elas merecem receber alguma gratificação. Essa estratégia ajuda na motivação, mas o foco fica no "presente" que virá por ter feito determinada coisa. Trabalhar visando o salário, ajudar alguém visando o agradecimento, arrumar algo visando o elogio, são atitudes perigosas, se comuns e corriqueiras em nossas vidas.
Se nos pautamos na ideia de que precisamos nos gratificar pelas situações pelas quais passamos ou de que "eu mereço X coisa porque fiz Y", passamos a nos relacionar com a vida através de recompensas as quais duram somente enquanto o estímulo estiver lá. Ou seja, depois que o sorvete acaba, o sapato ou o carro já não é mais novo, não temos mais nada que nos agrade. Fica um vazio. E, diante desse vazio, podemos sucumbir a novamente procurar um novo estímulo para preenchê-lo. Assim pode nascer uma compulsão, além de ansiedade, enquanto não se tem aquele "objeto", e até angústia, uma vez que a vida se resume a satisfações momentâneas.
Por outro lado, se passamos a focar mais em obtermos realização, a construção se dará de modo completamente diferente.
Para nos sentirmos realizados, precisamos primeiramente nos conhecer minimamente para saber do que gostamos, que habilidades temos e o que queremos aprender/conhecer mais.
Diferente da satisfação que tem duração de curto prazo, e é algo externo a nós, na realização nós nos empoderarmos, pois fazemos algo o qual, já durante o processo, nos traz bem-estar e, através do resultado construído e atingido por nós – ficamos felizes e gratos. É um sentimento que perdura muito mais, até no futuro quando você se recordar de algo que tenha feito, poderá relembrar da boa sensação sentida na situação.
Fazer coisas que nos realizam é muitas vezes trabalhoso: estudar, arrumar a casa, montar uma miniatura de avião, escrever um livro, tricotar um cachecol… diferentemente da obtenção da satisfação que não requer praticamente esforço nenhum. Esta estratégia contribui para termos um bom autoconceito (autoimagem) e, consequentemente, reforçam a nossa autoestima. É algo que previne a depressão, por conta de trabalharmos nossa crença de capacidade e nos sentirmos mais autoconfiantes, além de termos mais estabilidade emocional, já que esta depende muito mais de nossas ações do que de outros ou de coisas externas a nós.
Para começar a colocar isso em prática é simples: pergunte-se quais são as coisas que lhe são importantes fazer? Não quer dizer que elas te deem prazer a curto prazo, mas sim, que após realizá-las, você se sentirá com sensação de dever cumprido, de que fez a sua parte, de ter finalizado algo significativo para você.
Assistir a um filme é algo que pode nos trazer prazer e satisfação, mas dificilmente é algo que te trará realização, a não ser que você tenha se proposto a assistir àquele filme para fazer algum trabalho com ele ou como alguma meta pessoal. Já arrumar o armário ou levar o carro para a revisão é algo que não traz nenhum prazer em curto prazo, mas após finalizar essa tarefa, você se sentirá bem consigo mesmo, orgulhoso de si.
Então, essa é mais uma dica que difere ambas as coisas: satisfação nos traz prazer no curto prazo, mas o prazer acaba quando o estímulo termina. Realização dá trabalho e pouco prazer, mas uma sensação boa que perdura depois.
Procure ter ambos em sua vida; talvez um pouco mais de realização do que satisfação. Desse modo você viverá de maneira mais plena e equilibrada.