Por que a nossa era é a da idade da ansiedade

Há autores que definem a nossa era como a idade da ansiedade associando a este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial que nos cerca.

Afirmam que a simples participação do individuo nesta sociedade, já preenche, por si só, um requisito suficiente para o surgimento da ansiedade. Portanto, viver ansiosamente passou a ser considerada uma condição  do homem do nosso tempo ou um destino comum ao qual todos estamos, de alguma forma, atrelados.

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Com certeza, até por uma questão biológica, podemos dizer que a ansiedade sempre esteve presente na jornada humana. A novidade é que só agora estamos dando atenção à intensidade, tipos e efeitos sobre o meio social, sobre o organismo e sobre o psiquismo humano, de acordo com as concepções da prática clínica, da medicina psicossomática, da psiquiatria…

Ansiedade: de tempos ancestrais, até hoje 

Se, em épocas primitivas o coração palpitava a respiração ofegava e a pele transpirava diante de um animal feroz a nos atacar, se ficávamos estressados diante da invasão de uma tribo inimiga, hoje em dia nosso coração bate mais forte diante de outros fatores como a insegurança em relação às perspectivas de um futuro sombrio, para nós próprios e para nossos filhos, dos muitos compromissos econômicos cotidianos, dos inúmeros afazeres que assumimos, de uma vida em sociedade que prioriza o consumo, do mercantilismo que se sobrepõe aos melhores valores humanos. Como se vê, hoje nossa ansiedade é continuada e crônica. Se a adrenalina antes aumentava só em situações pontuais, hoje ela nos acompanha insistentemente e, por vezes, até de modo frenético.

A ansiedade aparece em nossas vidas como um sentimento de apreensão, uma sensação de que algo está para acontecer. Representa um contínuo estado de alerta e uma constante pressa em terminar coisas que ainda nem começamos a realizar. Desse jeito nosso domingo tem uma apreensão de segunda-feira e nos leva, antes de dormir, a pensar em tudo que teremos que fazer ao amanhecer. É um estado de alarme contínuo e uma prontidão para o que der e vier.

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No ser humano o conflito parece ser essencial ao desenvolvimento da ansiedade. Em nosso cotidiano, sem termos plena consciência, experimentamos um sem-número de pequenos conflitos, interpessoais ou intrapsíquicos; as tensões nas decisões entre ir e não ir, fazer e não fazer, querer e não poder, dever e não querer, poder e não dever, e assim por diante.

Portanto, motivações fisiológicas para o aparecimento da ansiedade existem de sobra.

A ansiedade é uma sensação ou sentimento decorrente da excessiva excitação do Sistema Nervoso Central, consequente à interpretação de uma situação de perigo.

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Sintomas da ansiedade

É o grande sintoma de características psicológicas que mostra a intersecção entre o físico e o psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos como taquicardia (batedeira), sudorese, tremores, tensão muscular, aumento das secreções (urinárias e fecais), aumento da mobilidade intestinal, cefaléia (dor de cabeça). Quando recorrente e intensa também é denominada de Síndrome do Pânico, ou seja, crise ansiosa aguda.

Apesar de tudo o foi dito, quero incidir meu olhar sobre outro binômio, sobre a relação entre a ansiedade galopante e uma sociedade que banaliza o “próximo” e cultua o “distante”, sobre essa modernidade sobre a qual trafegamos que inviabiliza a consistência e promove a impermanência e seus efeitos como o favorecimento desse desconforto , fruto também do desejo de controlar o universo social e natural ….Doce ilusão.

Sem controle e com domínio tão frágil sobre quase tudo, sobre a impetuosidade reativa da natureza, sobre a economia globalizada, sobre o bem-estar social, sobre a ambiguidade das benesses da tecnologia, o homem vive hoje sobre a opressão da incerteza, do “talvez seja” e do “pode não ser “…

A ansiedade nos enrodilha, também consequência dos medos que são tantos, e nada tortos … Medo concreto como perder o emprego, da imprevisibilidade da violência urbana, da destruição  gerada pelas políticas egoicas, como dos medos que guardamos e tememos partilhar como medo de ficar para traz, medo da mesmice do velho  amanhecer, medo de perder o amor de vista, de estar COM e NO outro, medo estar consigo mesmo.

No próximo artigo falarei sobre a ansiedade, tipologia, transtornos, tratamentos  e uma   reflexão nada ufanista  sobre  como inviabilizar , ou pelo menos minimizar seus efeitos mais nocivos.

Enquanto isto, convido o leitor a descansar um instante debruçando-se sobre um poema que insinua uma vida com uma certa excelência, “apesar de tudo” …

Cresci e a palavra poética perfumada me ajudou

a saborear as esperas,

a salvar o afeto da timidez,

a tocar com o olhar que se perde entre vidraças na experiência

do infinito

e a flertar com a graça e a solitude.

Foi assim que encontrei descanso

nas noites sem estrelas

e cheias de outras nódoas

que assustam os dias. …