Por Eduardo Carmello
O viajante Gulliver está prestes a descobrir novos mundos, ganhar experiências diferenciadas. Mas por motivos desconhecidos, Gulliver naufraga. Acorda num lugar estranho, onde tudo está diferente.
– Não, não é uma fusão com outra empresa, nem tampouco uma mudança drástica de departamento.
Sonolento, esforça-se para levantar, mas não consegue. Percebe que está num novo cenário, que precisa se mover, mas algo o está prendendo. Não se sente livre como o pássaro que voa serenamente sobre sua cabeça, fitando-o com olhar de curiosidade. Sua mente está confusa, e como dizia o físico David Bohm, “Ficar confuso sobre o que é diferente é ficar confuso sobre tudo.”
Depois de alguns segundos de ajustes com a nova realidade, descobre que está em uma nova terra, amarrado por inúmeras pequenas cordas que cobre todo o seu corpo.
Desde os dedos das mãos até seus calcanhares estão envolvidos por minúsculos fios que, aparentemente, são extremamente frágeis.
Gulliver tenta abruptamente romper os fios com toda a força, mas nada acontece. Toda a sua força de nada vale frente a esses pequenos e fracos fios. Como pode esses pequenos fios serem tão fortes?
Por que, com todo “aquele” tamanho, Gulliver não consegue romper essas barreiras? Naquela época não existia a palavra “estresse”, nem ele sabia que, quando estamos sobre uma forte tensão, frequentemente não fazemos nada de diferente em termos de abordagem ou comportamento. Apenas gastamos uma energia, um esforço imenso dentro de uma estratégia conhecida.
Quando não percebemos alternativas de escape, nossa única alternativa é fazer mais do mesmo. O mais abundante, o mais barato, o menos utilizado e o mais abusado recurso do mundo é a inteligência humana. E, diante de uma situação de crise, fazemos mais do mesmo, com mais energia e mais raiva.
O mundo repete por anos o que Gulliver fez em minutos. Quando nnão percebemos alternativas de escape, nossa única alternativa é repetir o que sabemos fazer.
Mas há esperanças.
Novamente Bohm, “De repente num lampejo de compreensão, alguém vê a irrelevância de toda a sua maneira de pensar… e descobre uma nova abordagem em que todos os elementos se encaixam numa nova ordem e numa nova estrutura.”
Depois de se acalmar e refletir um pouco, Gulliver percebe que para sair daquela situação, precisa se concentrar e focar na tarefa de conseguir quebrar fio por fio.
Pequenas ações, precisas e elegantes, vão capacitando Gulliver a se mover diante do desafio de libertar-se das antigas formas de atuação e das cordas, é claro.
Felizmente, Gulliver percebeu em minutos o que muitas Organizacões levará décadas para colocar em prática. Que para mudar não é necessário fazer grandes esforços, gerar desmedidas tensões e sim descobrir o “ponto de alavancagem”. A forma pela qual a transição possa ocorrer de maneira fluida, competente e significativa. Alvin Toffler disse que “nos dias de hoje é possiíel gerar mais valor com uma ideia em 10 segundos do com que 10 mil horas numa linha de montagem.”
O sociólogo Zigmunt Bauman (1925-2017), que escreveu o livro “modernidade liquida” inspira uma nova atitude baseada na fluidez onde pelo fato de não suportar uma força tangencial ou deformante, sofrem constantes mudanças de forma (pensamento, atitude, ação) quando submetidos a tal tensão.
Essa constante mudança de posição (pensar, interpretar, ressignificar, emocionar, agir), de pequenos e significantes ajustes, de se mover facilmente, de ser leve é o que caracteriza o estado de fluidez.
Diante da complexidade das mudanças, como podemos nos concentrar e adquirir tempo para descobrir as pequenas ações que, direta e indiretamente, impulsionam um conjunto de transformações relevantes, mantendo a fluidez e a complexidade da vida?
Quem quiser, que dê o primeiro (e pequeno) passo!