Por Dr. Tomas Chamorro-Premuzic para a Harvard Business Review
Como sabemos, não apenas os “mocinhos” sobem na carreira em organizações. Como disse Robert Hare em uma palestra: “Nem todos os psicopatas estão na prisão – alguns deles estão no topo das organizações.”
A psicopatia, o narcisismo e o maquiavelismo formam a “tríade sombria”. Deve-se notar que, ao contrário dos traços de personalidade patológica, esses traços são normalmente distribuídos na população – por exemplo, você pode ter uma pontuação baixa, média ou alta nessas características – e ter indicativos de funcionamento perfeitamente normais. Em outras palavras, só por que você apresenta fortes indícios dessas características não significa que esses valores tragam problemas para sua vida pessoal ou para o trabalho. E, apesar das implicações dessa tríade sombria, pesquisas recentes têm destacado uma ampla gama de benefícios derivados dessas características de personalidade.
Indivíduos psicopatas geralmente são mais desonestos, egocêntricos, imprudentes e cruéis que a média da população. O maquiavelismo está mais relacionado a um charme superficial, manipulação interpessoal, enganação, crueldade e impulsividade. Pessoas que têm altos índices nessa escala são moralmente fracas e têm a propensão a endossar a ideia de que “os fins justificam os meios” ou concordar com “é difícil avançar sem aparar algumas arestas aqui e ali”.
O narcisismo está relacionado a sentimentos irrealistas de grandiosidade, um ego inflado – embora frequentemente instável e inseguro – com um senso de autoestima e de sentir-se no direito egoísta de tratamento especial, aliado à pouca consideração pelos outros.
Assim como o termo e a lenda de Narciso sugerem, indivíduos narcisistas são tão autoindulgentes que podem acabar se afogando no amor-próprio – isso torna difícil para eles focarem em outras pessoas. Narcisistas frequentemente são charmosos, e o carisma é um lado socialmente desejado do narcisismo; Silvio Berlusconi, Steve Jobs e Jim Jones personificaram isso.
Em um estudo recente realizado em empresas alemãs, o narcisismo mostrou uma correlação positiva com o salário, enquanto o maquiavelismo se correlacionou ao nível de liderança e satisfação na carreira. Estas correlações eram significativas mesmo depois de controlar os efeitos demográficos, do cargo, do tamanho da empresa e das horas trabalhadas.
Anteriormente, um estudo descobriu que indivíduos com características psicopatas e narcisistas gravitavam para o topo da hierarquia tradicional e tinham altos níveis de realização financeira. Alinhadas a essas informações, algumas estimativas apontam que a taxa básica de níveis clínicos de psicopatia é três vezes maior entre conselhos corporativos que na população geral.
Então, por que essas pessoas com valores duvidosos se dão bem na vida profissional?
Em parte, porque claramente há um lado-luz nesse lado sombrio. Um estudo que examinou a sobreposição entre as características positivas e negativas da personalidade revelou que extroversão, abertura a novas experiências, curiosidade e autoestima são geralmente maiores entre personalidades da tríade sombria. Além disso, traços dessa tríade tendem a aumentar a competitividade, no mínimo pela inibição da cooperação e dos comportamentos altruístas no trabalho.
Estudos também revelaram que tendências psicopatas e maquiavélicas facilitam táticas de sedução e intimidação que assustam potenciais competidores e encantam chefes. Isso explica por que indivíduos com essas características são frequentemente ótimos atores, além de bem-sucedidos (a curto prazo) nos relacionamentos sexuais.
É importante entender que todos esses ganhos individuais vêm com prejuízos para o grupo.
Embora obviamente exista um elemento adaptativo para a tríade sombria – o que explica por que pessoas com valores distorcidos muitas vezes tenham sucesso – esse sucesso tem um preço, que geralmente é pago pela organização. E quanto mais poluído e contaminado o ambiente – em um sentido político – mais essas personalidades parasitas prosperam.
Mas como diz o ditado, tudo é melhor quando usado com moderação. Por exemplo, estudos mostraram que um nível intermediário de maquiavelismo aponta o mais alto nível de “cidadania organizacional”, talvez por serem politicamente perspicazes e bons em estabelecer redes de relacionamento, especialmente nos níveis superiores para ascender profissionalmente.
Outro estudo que analisou a liderança militar apontou que os melhores líderes mostraram características do lado-luz de narcisismo enquanto inibiam os traços sombrios: eles tinham altos índices de autoestima e apreço por si mesmo, mas baixos em manipulação e busca de causar uma impressão positiva.
Assim é possível pensar que as tendências do lado-sombra são fortalezas usadas em excesso — tendências que são bastante adaptativas e conduzem ao sucesso em curto prazo, mas que levam a problemas no longo prazo, especialmente quando pessoas com estas tendências não têm consciência a respeito delas. Ou seja, o lado-sombra representa os ativos tóxicos da nossa personalidade. Você pode transformá-los em armas para sua carreira, mas o grupo poderá perder, enquanto você ganha. A personalidade é um lubrificante importante para a carreira, mas traços da tríade sombria são mais efetivos em nível individual do que para o grupo.
Fonte: www.revistadorh.com.br