por Arlete Gavranic
Apesar de uma maior liberação sexual entre os jovens que buscam iniciar sua vida sexual com colegas ou namoradinhas, ainda hoje as profissionais do sexo fazem a iniciação sexual de muitos jovens.
Muitos homens procuram nessas profissionais a oportunidade de extravasar o desejo, de viver fantasias ou fetiches sexuais de uma forma imediata, principalmente, quando não se tem alguém para fazer sexo, ou também quando por uma educação repressora referente à sexualidade, esse homem e sua parceira tem um modelo de relacionamento onde não compartilham de fantasias sexuais, ou seja, a possibilidade de ousar. Hoje também uma parcela das mulheres busca o sexo casual com homens sarados, tema que abordo no Vya Estelar nesta semana (clique aqui e leia).
Alguns buscam no sexo pago a realização de seu poder, a realização de seus desejos e até de uma transa sem envolvimento afetivo, sabemos que muitos homens, após inúmeras frustrações afetivo-sexuais se tornam avessos a compromissos. Por outro lado, apesar das grandes mudanças comportamentais que as mulheres conquistaram nesses últimos 40 e poucos anos, inclusive sexualmente; é sabido que muitas ainda carregam em si pudores de uma educação repressora da sexualidade. Isso faz com que o relacionamento seja repleto de uma moralidade que retira a possibilidade de viver o erotismo na relação.
Sabemos também que a sociedade tem um comportamento muitas vezes cruel, repleto de preconceito e discriminação com relação às pessoas com orientação homossexual ou bissexual; embora agora tenhamos aí a vitória na votação do Supremo Tribunal Federal (STF) que equiparou, do ponto de vista legal e dos direitos civis, as relações homoafetivas às relações heterossexuais. Por isso muitas vezes homens homo ou bissexuais buscam profissionais do sexo para extravasar seus desejos e fantasias.
Então, quais são os cuidados?
Não podemos esquecer de tomar os cuidados básicos que devem existir em qualquer relacionamento íntimo, seja homo ou heterossexual, com namorado(a), com seu parceiro(a) ou com um (a) profissional do sexo, e esse cuidado preventivo básico é o de não deixar de usar o preservativo, em nenhuma situação!
Mas é preciso saber que o correto é usar o preservativo desde o inicio da relação, e não só no momento de penetração, seja ela vaginal ou anal. É necessário também usar o preservativo para o sexo oral. Nunca use dois preservativos, é errado pensar que isso aumenta sua proteção, isso só aumenta a chance dele estourar.
Isso vale para todas as pessoas, jovens, adultos, idosos, clientes e profissionais do sexo, homem ou mulher, somos todos passíveis de adoecer, de se apaixonar e também de se contaminar e de morrer. Muitas são as DST – doenças sexualmente transmissíveis, as mais comuns são: sífilis, gonorreia, “crista de galo” ou HPV, e a contaminação por HIV, a Aids. Fora essas, outras doenças como a hepatite, que não é sexual mas pode ser passada via contato sexual. Por isso, proteja-se, sempre.
Prostituição é um fenômeno essencialmente urbano
É muito comum ouvirmos as pessoas dizerem que a prostituição é a profissão mais antiga da humanidade. Mas a prostituição, como vemos hoje, é um “fenômeno essencialmente urbano”, surgido há menos de dois séculos com o nascimento das grandes cidades, da classe dominante burguesa, do modelo de família monogâmica, e da noção de fidelidade que normatizou a sexualidade das pessoas.
O antropólogo Luiz Henrique Passador nos lembra que essa família burguesa, que passou a ser o modelo para uma nova ordem sexual, onde o prazer permitido tornou-se o privado, o lar, e que nessa nova privacidade, a mulher foi confinada e “dessexualizada”, surgindo então, a figura mítica da “rainha do lar”, cujo prazer passa a ser direcionado para o cuidado e a reprodução da família, que passou a ter a sua sexualidade controlada por questões morais de poder.
Nesse momento a virgindade ganhou o significado de pureza moral, ou seja, aquela que se guardou para um só homem, que controlou seus “instintos” e não se entregou à busca da satisfação de prazeres carnais e mundanos. Assim, a prostituição e a prostituta passam a ser vistos como os opostos ao lar e à “rainha do lar” . É na prostituição onde a sexualidade insubmissa podia acontecer, associada às representações do impuro, da sujeira sexual – a “Boca do Lixo”! É nesse contexto que os homens podiam viver as fantasias irrealizáveis, os desejos proibidos no território do lar, locais com caráter lúdico e público – boates, bordéis, “zonas” e ruas.
A prostituição se apresenta ainda hoje, como uma alternativa momentânea à quebra da disciplina, principalmente em relacionamentos que preservam esse caráter machista do poder e do sexo. É o território do prazer ilegítimo na vida cotidiana, onde muitos podem revelar suas fantasias e suas identidades sexuais mesmo que temporariamente desestruturadas, sem que corram o risco de terem suas identidades sociais comprometidas, retornando íntegros ao lar, a família, e ao trabalho, tal como romanceava Jorge Amado, no campo da literatura de ficção, um dos autores que privilegiam o estereótipo romanceado e humanizante da prostituta sábia, tolerante e acolhedora, e do bordel enquanto espaço de convívio social masculino.