E, então, com a liberação do isolamento compulsório se aproximando, muitos de nós vivem o desconforto da volta à vida assim chamada “normal”. Como não perder os ganhos acumulados durante este período, como manter as ricas conexões e descobertas conseguidas no período de paralização. E quando a estrada voltar a fluir novamente, como seguiremos nós?
Por que a pandemia ficou banalizada?
Terminei o texto anterior com esta pergunta, e para minha surpresa, tenho percebido que, para muitos de nós, a estrada voltou a fluir como se nada houvesse acontecido. Pandemia, que pandemia? Vírus, que vírus? É como se tudo isso, os últimos quatro meses, tivessem já se tornado um passado remoto, quase extinto. A impressão é de que, para muitos, não há registro dos últimos acontecimentos ou há apenas uma leve marca, quase imperceptível.
Explico: temos visto grandes congestionamentos nas rodovias litorâneas, nossas praias cheias, pessoas aglomeradas na areia, claro que sem máscara, provocando a sensação de que mais um verão chegou! E com ele, a irresponsabilidade daqueles que já se esqueceram dos perigos da pandemia.
Memória curta, carne fraca, após um longo e difícil período de confinamento, saímos de casa como que a tentar exorcizar todos os demônios que nos acompanharam durante o isolamento. Para muitos de nós, o imperativo “fique em casa” foi vivido como um castigo, uma punição e saímos dele correndo, como crianças enfim liberadas de suas penas. Sem que houvesse algum tipo de elaboração pessoal ou de ampliação de consciência.
Como você reage à pandemia?
Não somos responsáveis pelo vírus letal que provoca a pandemia, mas somos, sim, responsáveis pela forma como reagimos a ela e pelas respostas individuais que damos a um problema que é coletivo. Ou seja, uma crise de saúde pública como essa, exige de cada um de nós algum tipo de sacrifício individual, ou melhor, de resposta individual que só pode ser dada ao nos reconhecermos como humanos tão humanos e especiais quanto todos os nossos irmãos, companheiros de viagem neste momento, neste planeta que ora habitamos.
Automotivação: como nutrir uma verdadeira atitude de cuidado com o outro?
Apenas reconhecendo o outro em nós mesmos, poderemos exercer uma verdadeira atitude de cuidado com toda a humanidade. Não ficamos em confinamento apenas por zelo por nossa saúde, para não nos contaminarmos. Nos isolamos para diminuir o impacto do vírus nos sistemas de saúde pública e para proteger os mais suscetíveis dos efeitos das enfermidades por ele provocadas.
O paradoxo é importante: cuido de mim para cuidar do outro e assim ao mesmo tempo em que me reconheço único e importante reconheço também toda a extraordinária humanidade da qual sou simples representante.