por Nicole Witek
Limitar o yoga à prática das posturas como asanas é como reduzir uma pessoa unicamente ao corpo. Além do corpo, somos seres complexos feitos de diferentes níveis mais sutis que constroem quem somos.
O yoga é um método completo de educação à união que propõe o desvendar dos diferentes seres que coabitam numa entidade chamada “eu”.
“Praticar o yoga é tornar-se aberto para o outro, para o mundo e para tudo que está no universo” [1].
Esse universo que cada um percebe de uma maneira diferente, elaborando tese após tese sobre a origem, o desenvolvimento e o futuro, é pura especulação, porém, somos parte dele. O yoga nos explica e nos dá as wp_posts para nos sentirmos incluídos e participando do universo sendo um ator inteiro, do barro até a divindade do humano. Isso resultará num aumento da consciência para obter a ativação do poder de si mesmo, parcela, centelha divina.
Krishna e Arjuna no campo de batalha: Kurukshetra
O yoga não deseja que você viva como um eremita. O texto antigo, a Bhagavad-Gita[2], fala de um campo de batalha – imagem acima. E no dia a dia, mesmo que tenhamos que batalhar dominando as preocupações do baixo-mundo.
Para conseguir, precisamos aplicar racionalmente as leis da evolução da consciência.
O yoga é um grande aliado, uma ciência para acelerar o processo usando leis para se obter um resultado definido. O yoga usa as leis da psicologia que servem para desenvolver a totalidade da consciência humana em todos os planos. Além do crescimento racional que se possa esperar para um homem, o yoga fala do desenvolvimento natural fazendo a seguinte pergunta: “Quem sou eu?”. Deixar as leis naturais atuar ao longo da vida (das vidas, diz a filosofia) além de não bastar, nos faz sofrer inutilmente. Precisamos acelerar o processo de evolução para atravessar a vida de maneira serena. O yoga nos ensina como aplicar as leis naturais e a inteligência, que jaz por trás de nossa natureza transitória e mortal, no nosso campo de batalha cotidiano, o Kurukshetra.
Para o yoga, cada um de nós é uma “unidade de consciência” escondida no meio de uma complexa sucessão de invólucros: consciência e matéria. Ou matéria impregnada de consciência.
A consciência está por trás da mente, porém, quando estamos dormindo, existe uma entidade que toma conta de todos os nossos processos, até os processos mentais (sonho, por exemplo). Essa consciência é eterna, atravessando a sucessão de vidas, diz a filosofia do yoga. Assim, o primeiro item que o yoga quer estudar é a mente e os processos psicológicos que animam o ser humano. A evolução da consciência permitirá, gradativamente, a harmonização das possibilidades físicas, afetivas, mentais e espirituais do ser humano.
Existem vários tipos de yoga, porém, o yoga do qual estamos conversando é o hatha yoga: praticar as posturas e respirações num estado de relaxamento e concentração com consciência, respeitando os seus limites. Isso leva à uma autogestão de seu potencial físico e psíquico.
Sabemos que estamos no caminho certo porque todos que praticam se sentem melhor. Percebemos um aumento de nossa sabedoria. Mesmo no meio do furacão de um mundo em mutação, encontrar um lugar em nós onde sentimos sabedoria, nos dá a sensação de pertencer a algo, de participar de algo grande.
O corpo é o laboratório, o recipiente de nossa experiência e a ferramenta para a evolução de cada um. Através de nossos órgãos de percepção e de ação, nossa atenção é chamada para fora. Nos sentimos assim, pulverizados e espalhados no mundo, frágeis, incapacitados, desolados.
O yoga nos dá um “modo de usar” universal e secular para escapar dessa sensação, já que nosso corpo está condicionado, antes e depois do nascimento, por impressões que vêm de vários níveis: genético, lembranças (intra/extra útero ou vidas passadas…), pulsões, educação, pressão da família, da sociedade… A vida cotidiana de nossa alma é limitada por obstáculos que impedem a revelação de nosso brilho interno, da nossa vibração interna e sutil que está por trás de todos os nossos processos físicos e psíquicos, simbolizados por uma energia chamada “prana”.
A energia da alma, da consciência eterna, circula, diz a teoria do yoga, segundo linhas de forças que abastecem tanto os órgãos internos e nossa natureza física, como nossa natureza sutil.
Cada postura tem seu lado físico e seu lado psíquico. Toda imagem que “fabrico” na minha imaginação e que se leva a sua realização no plano físico, a superfície, tem também seu lado interno que mexe com as camadas sutis e psicológicas. A cada respiração, prana, a energia vital circula de baixo para cima, da direita para a esquerda, do externo para o profundo, do sutil para o material.
A postura do yoga é simbólica por natureza. A concentração que se necessita torna a postura um elo entre diferentes níveis do ser humano, harmonizando-o. As formas, os símbolos criados pelas posturas são alavancas para a evolução de cada um em direção à sua sabedoria, à compreensão das leis da sua natureza profunda.
A partir da postura de yoga, podemos nos conscientizar de vários estados de consciência: entre a vigília e o relaxamento, onde o corpo fica imóvel e a mente fica ativa. Até a postura de relaxamento (savasana, postura do cadáver – imagem abaixo) é um tempo imóvel onde se junta todo o potencial para partir para a ação com uma energia renovada.
Asana: savasana, postura do cadáver A postura, asana, se torna um assento cuja estabilidade simbólica pode ser o ponto de partida para a ação e o desenvolvimento do ser.
Praticar as posturas ou asanas, o domínio da respiração, a observação, a atenção, cultivar a possibilidade de se abstrair das solicitações mundanas, de transcender a mente para ultrapassar os limites do conhecido e deixar a natureza profunda e divina de cada um expressar sua singularidade, isso é yoga.
O yoga é um método de educação para acelerar o processo de evolução e sentir em si a presença mágica da inteligência que jaz por detrás de tudo que habita o universo.
Encontrar uma parcela disso em si mesmo e permitir que ela aflore… chama-se realização.
[1] Yse Tardan-Masquelier, presidente da Federação Francesa dos professores de yoga e professor de Antropologia religiosa na Sorbonne, em Paris
[2] Bhagavad-Gita, texto sagrado tradicional e fundamental da Índia e do hinduísmo, escrito entre o V e o II século AC.
Atenção!
Esse texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.