Por Edson Toledo
Fazer caridade ou doar é bom, receber um presente é melhor ainda. Ao ganharmos um presente que corresponde às nossas expectativas, sentimos uma onda de bem-estar.
Essa sensação é resultado da ação de um conjunto de neurônios especializados na percepção do prazer. Surgidos ao longo da nossa evolução, eles, os neurônios, cumprem uma importante função: a manutenção da vida.
Os sistemas cerebrais que mais influenciam o comportamento são os que nos levam a satisfazer as necessidades vitais (comer, beber, reproduzir-se e proteger-se). O prazer é o meio empregado pela evolução para que essas funções sejam asseguradas e perpetuadas. Para favorecê-las, foi desenvolvido o sistema neural de recompensa.
Ao longo dos séculos, o cérebro humano diferenciou-se do de outros mamíferos, principalmente pelo desenvolvimento do córtex que desempenha um papel central em funções complexas do cérebro como na memória, atenção, consciência, linguagem, percepção, proporcionando um aumento na complexidade das conexões neurais. As estruturas mais antigas, onde estão às células do sistema de recompensa no animal, permaneceram inseridas no cérebro ancestral, chamado de reptiliano.
Explico, o cérebro reptiliano ou basal controla o lado mais animal das pessoas, e ocupa-se em garantir o instinto de autopreservação a qualquer custo. E nos instiga a agir e sermos reativos nas situações de luta e/ou fuga, buscando a manutenção de vontades primárias do corpo animal, como sede, fome, sexo, entre outras. O cérebro reptiliano apenas mede a ação imediatista de atender as nossas vontades.
Um estudo realizado na década de 1950, onde os fisiologistas ingleses James Olds e Peter Milner fizeram uma experiência sobre o circuito de recompensa: eles implantaram, no núcleo accumbens (região do cérebro que gera prazer) do cérebro de ratos, eletrodos ligados a uma alavanca que o roedor podia acionar. Observaram que o animal apoiava-se sem cessar sobre o dispositivo, estimulando essa região do seu cérebro, esquecendo até mesmo de comer e beber. Essas experiências foram feitas também em seres humanos que passavam por operações cirúrgicas.
Há outro fator no prazer experimentado: a tensão que precede a recompensa. O prazer que associado ao alimento, por exemplo, só é acompanhado por uma liberação de dopamina se experimentamos o sabor esperado, que corresponde à noção de desejo.
Cientistas discutem hoje se seria possível falar em uma neurobiologia do prazer ligada aos presentes. Parecem que sim. As modulações bioquímicas observadas durante certas situações, por exemplo, no período de festas que anuncia a chegada de presentes, certamente influenciam nosso estado de espírito.
Extrapolando esses dados, digamos que a alegria experimentada quando ganhamos algo estejam ligadas a uma ativação do sistema hedônico proporcionado por nossos neuromediadores de prazer (dopamina e *encefalinas). Se, por infelicidade, o presente não chega, é possível que a atividade do circuito diminua, ocasionando uma baixa momentânea de encefalinas. Essa reação desencadeia sensação de frustração, como a criança que não ganha nada ou que recebe algo diferente do esperado.
*As encefalinas são neurotransmissores narcóticos secretados pelo encéfalo. Semelhantes à morfina, elas se ligam a sítios estereoespecíficos de receptores opioides no cérebro (reagindo com os mesmos receptores neurais do cérebro que a heroína), aliviando a dor (mecanismo de analgesia) e produzindo uma sensação de euforia.