por Antônio Carlos Amador
O modo como conseguimos lidar com nossas experiências ao longo do tempo é importante e decisivo em nossas vidas. Tomemos como exemplos trechos dos depoimentos de dois adultos jovens, personagens fictícios: Sueli e Maurício.
“Fui despedida do emprego. Levei um fora do meu namorado. Tudo isso no mesmo dia! Eu sou mesmo um fracasso! Parece que jamais vencerei na vida. Por que as pessoas não me aceitam e não me dão oportunidades? Sempre foi assim, eu me lembro bem de quando era criança. Meu pai nunca estava satisfeito com meu desempenho na escola, nem com o que eu fazia. Eu não era suficientemente boa para ele. Na escola eu nunca conseguia fazer o que os professores queriam. Sempre chegava atrasada e também não conseguia completar as lições e não tinha amigos. Creio que não nasci para ser bem-sucedida. Por isso, poderia já estar acostumada a ser um fracasso!” (Sueli)
“Eu só estou há um ano na empresa e vou ser promovido. Na universidade e no colegial também tive sucesso. No entanto, esta promoção foi o melhor que me aconteceu até agora. Porque eu poderei comprar o carro que eu sempre quis. Além disso, vou casar com minha namorada. E então economizar para dar entrada no financiamento de uma casa. Depois teremos filhos. Certamente conseguirei melhorar meu salário e liquidarei a hipoteca em menos de quinze anos. Também serei capaz de sustentar a família e dar uma boa educação aos filhos” (Maurício)
Ambos estão tentando explicar suas vidas, dando-lhes um sentido. Mas há um tom emocional completamente diferente. Sueli é negativa, pessimista, desesperançada. Maurício é positivo, otimista, sonhador. Cada um deles pretende compreender o momento em que se encontra, mas tentam fazê-lo tomando como referência outro contexto, em que não estão, procurando explicações no passado, ou projetando-se no futuro. Ambos evitam olhar o presente.
Sueli está voltada para as experiências passadas, considerando-as uma boa justificativa para as dificuldades do presente. Ela usa o passado para desculpar o presente. Se conseguir fazê-lo, então ficará bem claro que não tem responsabilidade pelo que lhe acontece. Ninguém poderá culpá-la! E não vê nenhuma saída para a sucessão de sofrimentos em que se encontra. Poderá continuar jogando para sempre uma espécie de jogo do tipo “coitadinha de mim!”
Maurício está mergulhado no futuro. Quase esqueceu o passado – salvo o que o conduz ao sucesso presente e às expectativas de maior sucesso no futuro. É um homem de triunfos futuros, experiências futuras – não só para si mesmo, mas também para a família que está para vir. Não os possui ainda, mas estão disponíveis em sua mente. Seu sucesso é líquido e certo, mera questão de tempo. Pode ser que realmente não saiba o que desejar no presente, uma vez que suas intenções estão projetadas e relacionadas com o futuro. O sentido de sua vida presente é, portanto, tão vago como o da primeira personagem, que a dirige amplamente para o passado. É claro que muitas pessoas que se sentem presas a um passado penoso trocariam de lugar com o segundo personagem.
Ambos constituem exemplos de como alguém pode evitar o presente, seja fixando-se no passado, seja focalizando apenas o futuro. Suas atenções estão sendo continuamente desviadas do que está acontecendo para o que foi ou o que será.
Não há dúvidas de que todos nós precisamos do passado, para aprender com as experiências e evitar cometer os mesmos erros. Também precisamos focalizar no futuro, planejar, enfrentar novos desafios. Mas é importante considerar que só temos um presente absoluto, que contém tanto o passado como o futuro. E que ao abrirmos nossas mentes de maneira completa para o momento presente deixamos de ansiar por possibilidades futuras ou nos entregar a arrependimentos e obrigações do passado.