por Roberto Goldkorn
Há muitos e muitos anos, fui assistir a uma palestra de um famoso guru no Rio de Janeiro. O tema era a cabala, e como já conhecia alguma coisa do assunto, não me preocupei em ficar totalmente por fora. O palestrante chegou com grande autoridade cercado de puxa-sacos e com uma empáfia soberba. Pensei… esse cara deve ser bom, vou aproveitar o máximo.
Ele falou duas horas sem ser interrompido e no fim foi bastante aplaudido. Eu fiquei ali parado com a maior cara de idiota. Não havia entendido nada, nadica de nada. Mas felizmente meus anos de estudos me resgataram do abismo da ignorância: agora eu tinha certeza de que o sujeito era bom mesmo, não por ter demonstrado grandes conhecimentos sobre o tema, ao contrário ele não disse coisa com coisa, mas por ter falado duas horas sem parar sobre absolutamente NADA!
Foi um discurso soberbo, uma verdadeira aula magna de como se embroma um grupo de incautos. Sua técnica era tão boa, que se eu não estivesse bastante preparado, iria achar que ele era bom e eu completamente analfabeto. Se naquela ocasião soubesse da relação entre a linguagem e a sanidade mental, não teria me envolvido com ele mais tarde, e teria evitado tanto sofrimento para mim e para todos a minha volta. Ele demonstrou ser bastante desequilibrado, prepotente, um sociopata. Ao longo do nosso breve, mas contundente relacionamento, vi como esgrimava sua linguagem ilógica, abusando da linguagem vaga, evasiva, e da ambigüidade, além é claro das mentiras ditas com tanta convicção que eram indisputadas.
Estou lendo um excelente livro Use a Lógica do Prof. D.Q. McInerny (Ed. Best Seller), onde o autor discute a importância de buscarmos uma relação lógica, com a vida, pois do contrário estaremos dando as mãos à mentira, ao caos e à loucura. Uma das características dos psicóticos e neuróticos graves é que projetam os seus estados subjetivos sobre o mundo, driblando o seu (do mundo) status objetivo. Em outras palavras, o discurso mentalmente perturbado quer fazer ser real aquilo que é apenas um estado pessoal, seu, subjetivo. É aquele caso da pessoa querer nos convencer de que o tempo lá fora está chuvoso e frio (quando está um sol brilhando num céu sem nuvens) só porque dentro de sua cabeça é esse o clima.
Discurso ilógico e perturbador
Todas as vezes que me deparo com pessoas inteligentes ou não, mas cujo discurso é ilógico, deturpador, e poético (quando deveria ser apenas prosa), e que demonstra ostensivamente odiar os fatos, sei que estou diante de um ser em crise psicológica. Tenho tentado usar o discurso factual, para trazer meus clientes psicóticos, e os amigos, à realidade, mas o sucesso dessa técnica é muito incipiente. Em geral esses indivíduos desenvolvem uma capacidade ímpar de articular as palavras de uma forma ardilosa, cheia de armadilhas estilísticas e conceituais. Se pertencerem a alguma ideologia, seja ela a marxista, seja a católica, Hare Krishna etc, ficam mais escorregadios, e mais confiantes de que estão do lado da “verdade”.
Mesmo quando acuados pelos fatos, pelas verdade objetivas incontestáveis, eles dão um jeito de escapar para preservar a sua loucura. Em geral saem pela saída da emoção barata, confessam-se perseguidos, sozinhos, frágeis, como disse um deles quando eu finalmente o coloquei num beco sem saída argumentativa: “Vai em frente, faça o que todos fazem, eu sou a Geni do Chico Buarque, joga pedra na Geni.” Os que detêm algum tipo de poder, ou estão com a arma engatilhada nas mãos, têm outras saídas, mais simples, nos mandam calar a boca, mandam para aquele lugar, ou simplesmente puxam o gatilho.
Tantos relacionamentos infelicitantes poderiam ser evitados se o lado vitimizado tivesse feito as perguntas-wp_posts: mas por que você acha isso? Você pode me provar o que está afirmando? Qual a origem desse seu conhecimento? Você poderia partilhar comigo as suas razões secretas para chegar a essa conclusão? Por favor, pode explicar isso novamente de forma que eu possa entender? Me dê os fatos por favor. Baseado em que você está afirmando isso?
Perguntas que obrigam o portador a ilogicidade a no mínimo saber que você não será uma vítima passiva da sua loucura.
Como diz o autor do livro já citado, não devemos desanimar na nossa busca pelas causas: “Conhecer as causas conduz a uma compreensão mais profunda das coisas.”…”Conhecer a causa representa poder controlá-la, e controlar a causa é controlar o efeito.” E finaliza: “Algumas vezes, o nosso insucesso em encontrar a origem das causas é atribuível à simples preguiça…Outras vezes é a impaciência que conspira contra nós. Somos tão pressionados a tomar providências, que nos conformamos em soluções rápidas, medidas do tipo quebra-galho, enquanto o problema principal permanece intocado.”
Essa é outra dica. Os ilógico psicopatas, costumam agir assim, nos pressionando de todas as formas, para que não tenhamos tempo nem condições de fazer o questionamento adequado.
Assim se isso é verdadeiro, o seu contrário também é: quanto mais buscar a verdade, quanto mais perseguir a objetividade mais estarão perto da sanidade. Por isso Use a Lógica.