Por Ana Lúcia Paiga
Diante de tristes acontecimentos, sejam eles “acidentais” ou “pré-fabricados”, observamos alguns comportamentos repetitivos da mídia, que causam ainda mais dor e não ajudam a evitar novas tragédias. Mas… mantém a audiência, não é mesmo? (Poder)
Segundo Eric Berne, o pai da Análise Transacional, os Jogos de Poder fazem parte essencial do nosso Enredo de Vida. Sua função dentro do enredo, é nos manter atuando através de papéis condicionados, para cumprirmos nossas decisões e manter crenças distorcidas de nossa Criança Adaptada (que começou a vivenciar este enredo na infância).
O Jogo se caracteriza por *uma mensagem aparente e outra subliminar, que gera uma sensação de torpor e impotência. Seu final é sempre um desconforto, sem que se encontre uma solução, gerando um círculo vicioso. Uma grande Manipulação.
São três os papéis que podem ser assumidos dentro do jogo:
O Perseguidor, o Salvador e a Vítima
Um bom exemplo, é o Jogo do Alcoólatra. O marido bebe, chega em casa quebrando tudo (Perseguidor) e a esposa se sente ameaçada (Vítima). Em seguida ele vai dormir e ela com muita raiva, faz as malas dele pra que ele saia de casa (Perseguidor). Quando ele acorda, implora perdão (Vítima), diz que nunca mais aquilo se repetirá, e ela se sentindo culpada e com “pena dele”, o acolhe sem que nada mude (Salvador). No próximo final de semana, tudo se repete da mesma maneira. E assim seguem pela vida, juntos, confirmando suas crenças de que não tem jeito: não podem ser felizes.
Como se vê, só participam dos Jogos, os egos comprometidos com nosso enredo (Criança Submissa ou Rebelde e **Pai Crítico (que passou conteúdo crítico ao educar seu filho – saiba mais – ou Salvador – que passou um conteúdo de onipotência e protecionismo).
Da mesma forma que isso ocorre num âmbito pessoal, podemos constatar jogos coletivos, onde se explora o drama, expõe a dor e a impotência, procurando culpados, sem que se busque efetivamente uma saída responsável para a questão. Esta atitude só reforça o papel de Vítima e a revolta, que levam novamente ao Perseguidor.
Claro que devemos ter compaixão, acolher e amparar aqueles que sofrem, mas sem torná-los vítimas impotentes. Com respeito, amor e reconhecimento, podemos estimulá-los a lutarem objetivamente, encontrando opções na realidade, fazendo-os aceitar o que a vida traz como oportunidade de evolução. Não vivemos num mundo ideal. Lidamos com as polaridades do Bem e do Mal.
Através do Adulto e ***Pai Nutritivo, podemos entender que somos os Protagonistas de nossa história, seja ela qual for.
Confiar em nossas habilidades, sabedoria e capacidade de superação, traz a liberdade de “ser quem sou”, sem dependência, sem medo.
Dessa forma podemos buscar alternativas para sair do círculo vicioso das repetições sem solução.
A impotência?… ah, esta faz parte de nós.
Compreender e aceitar isto, nos tira da armadilha do triângulo dos jogos e nos confere nosso real poder:
“Brilhar como Ser Único que Sou”.
*Entenda a dinâmica do jogo aparente e subliminar
Um exemplo é o: “Sim, mas…”
– puxa estou com uma dor de cabeça!
– quer um remédio?
– não adianta.
– e se você deitar um pouco?
– não posso. Preciso trabalhar.
– já foi ao médico?
– ih não tem jeito… médicos não sabem nada. Tenho que aguentar mesmo.
Ou seja, a mensagem aparente é:
– preciso de ajuda.
Mas toda a sugestão é negada porque o que a pessoa quer é ser a vítima e frustrar o interlocutor fazendo-o sentir-se impotente e o prendendo à relação. Não resolver um problema.
A mensagem subliminar é:
– não me abandone.
**Um Pai Crítico tende a gerar uma Criança Adaptada (submissa ou rebelde), que deixa de utilizar suas habilidades de forma livre e criativa.
Um ***Pai Protetor, Nutritivo, vai estimular sim a criança a dar o seu melhor, expressando seu potencial e habilidades, mas respeitando seus limites.