por Regina Wielenska
Márcia passa pelo balcão de cosméticos e vê um batom em promoção. Cor linda, na moda, preço muito conveniente. Ela tem cores similares, mas não batons com esse tom exato, que vai arrasar se usado com a blusa que ganhou no aniversário. Claro que ela vai levar, apaixonada que é por maquiagem. Ou não?
Alguns dados a mais: Márcia está pagando em parcelas o acordo feito para quitar uma dívida com a empresa de cartão de crédito. Seu marido já avisou: não sabe até quando estará empregado na fábrica onde trabalha. O mercado anda recessivo, talvez façam cortes. Pra se precaver, ele tem enviado currículos a empresas com potencial de contratação. Nada, por enquanto. Márcia sonha em visitar a mãe pra passar o Natal juntas, o que significa viajar pra uma localidade que dista 250 km de onde mora. E a viagem implica em despesas com o ônibus, presentinhos, colaborar com a ceia etc.
Num contexto de restrição orçamentária, realizar um sonho maior implica em repensar se os pequenos desejos devem ou não ser preenchidos. O batom, o cafezinho na padaria, o pingente de pedrinha azul, a revista de moda, tudo tem um valor unitário relativamente pequeno. Mas calcule o valor global desses itens e observe se, ao longo de um ano, adquirir tantas miudezas baratas não corresponderia a poder rever a mãe.
Endividar-se no cartão sugere uma história de descontrole financeiro.
Como o débito se acumulou?
Entrada e saída de recursos não combinaram. Faltou planejamento?
Compras tornaram-se uma forma imediatista de buscar conforto emocional?
“Eu mereço isso” virou o mote para uma dívida que ninguém merece ter?
Questões frustrantes e fundamentais
Antes de pôr a mão na carteira ou de pegar o dinheiro de plástico, gaste um tempo se fazendo perguntas talvez frustrantes, mas fundamentais.
Primeiro: eu tenho, de fato, recursos sobrando para adquirir o que desejo? Esse gasto não vai aparecer lá na frente como um buraco na minha condição econômica?
Em segundo lugar: quanto, de verdade, eu preciso objetivamente desse item? Dá para passar sem aquilo e lançar mão de outros recursos? Misturar dois batons não vira um da cor igual a esse que tanto desejo?
Terceira questão: devo gastar? Que tal reservar essa verba pra uma poupança pra imprevistos, compras de monta, previdência privada, uma reciclagem profissional, viagem de lazer ou algo mais relevante?
Quantas compras não viram lixo de luxo, revelam-se objetos esquecidos, até com etiqueta, em armários da despensa, quarto ou cozinha? A troco de que gerar lixo, rasgar dinheiro, poluir, desperdiçar recursos?
Autocontrole não é não sentir vontade de fazer algum ato de pura impulsividade. A vontade é normal. Controlado é quem se percebe à borda do precipício do consumo irresponsável e consegue refletir sobre seu comportamento, revendo decisões e pensando em longo prazo. Qual sua escolha: os caros prazeres baratos ou a difícil meta bem planejada e desfrutada com muito gosto?