Como contar aos filhos sobre separação?

Por Anette Lewin

Depoimento de uma leitora:

Continua após publicidade

"Estou me sentindo sem horizontes, pois sinto que meu casamento não tem mais jeito. Tenho dois filhos e tenho medo que sofram. Como faço para explicá-los sobre o porquê da separação?"

Resposta: Falar com os filhos sobre a separação não é exatamente fácil. Principalmente porque você, mãe, ainda está no meio do processo e tudo é muito novo, inclusive para você. Afinal, certamente você não imaginou que seu casamento terminaria com filhos ainda pequenos, não é?

Mas, segundo você relata, terminou, ou pelo menos está para terminar. Esse é um ponto inicial a ser considerado. Antes de contar para as crianças sobre a separação, é importante que você e seu marido tenham chegado a uma conclusão definitiva. Não é saudável envolver crianças numa situação onde elas se sintam fazendo parte do processo quando, na realidade, o processo ocorre independentemente delas. A separação de vocês diz respeito só a vocês. Os filhos devem ter a percepção que a decisão já foi tomada e eles apenas devem aceitá-la.

O segundo ponto a ser considerado é abrir um espaço para que as crianças façam as perguntas que quiserem e tenham suas dívidas respondidas. Eu vou morar com quem? Não vou mais ver o papai? Vocês vão voltar algum dia? Quem vai me buscar na escola? E nas férias, com quem eu fico? Todas essas perguntas devem ser respondidas de forma objetiva evitando-se tocar em assuntos sobre os quais a criança não tem curiosidade. Seus sentimentos, mãe, devem ser guardados para você e as pessoas adultas que possam ser seu ombro amigo nesse momento. As crianças devem ser poupadas de relatos dos conflitos conjugais com relação aos quais elas nada podem fazer.

Continua após publicidade

As explicações sobre o porquê da separação, desde que essa questão seja levantada pelos filhos, devem levar em conta aquilo que eles já são capazes de entender tomando-se todo o cuidado para não denegrir a imagem do cônjuge. Como foi dito, os filhos nada têm a ver com o relacionamento conjugal. Assim, as explicações devem assinalar que ambos, pai e mãe, tomaram essa resolução porque optaram por não viver mais na mesma casa; que o convívio deles foi bom por um tempo, mas agora cada um resolveu morar numa casa separada; que ambos continuarão sendo pai e mãe para sempre e manterão contato com os filhos e, principalmente, que ambos proporcionarão aos filhos tudo o que eles necessitam para o seu crescimento e desenvolvimento.

Outras questões que vierem devem ser respondidas através do bom senso. Nesses momentos, menos é mais, pois certamente manter a neutralidade, que é o ponto principal da questão, será mais fácil em respostas breves do que em altas exposições sobre a vida pregressa do casal. E os filhos, na verdade, nem estão interessados em histórias conjugais. Eles estão interessados nas transformações que essa separação pode trazer em suas vidas e na presença ou ausência dos pais em seu cotidiano.

Reserve-se sempre o direito de não responder a questões que você, mãe, julgue difíceis. Se não tiver uma resposta de imediato diga que vai pensar e depois responderá; se a pergunta, a seu ver, for muito complexa para a cabeça dos filhos, diga que eles ainda não conseguem entender essas coisas de casal porque ainda são pequenos mas quando crescerem entenderão.

Continua após publicidade

Processo de separação é um direito

Finalmente, lembre-se que o processo de separação é um direito de um casal adulto e deve ser encarado sem culpas ou sensação de derrota. Quanto mais os pais estiverem conscientes de que tomaram a resolução correta, mais fácil ficará lidarem com os filhos que geraram. Certamente o início do processo é mais difícil, mas com o tempo todos os envolvidos se acostumarão. E entenderão que rupturas fazem parte das relações entre as pessoas, não só no nível conjugal, mas em qualquer outro nível. Afinal, pessoas entram e saem de nossas vidas continuamente. Devemos aprender a lidar com isso de forma natural e, preferentemente, sem mágoas que possam contaminar novos relacionamentos.

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um psicólogo e não se caracteriza como sendo um atendimento.