Nem tudo são flores

Por Patrícia Gebrim   

“A menina acordou animada, chegara o dia de seu passeio na selva. Escolheu seu lindo chapéu floppy, recém-adquirido num brechó renomado, para combinar com o visual hippie chique de sua longa saia branca e esvoaçante. Montou uma deliciosa cesta de piquenique, separou um espumante levinho, guardanapos coloridos e até um vasinho de flores. No meio da savana, estendeu uma linda toalha sobre a terra um pouco seca, tirou da cestinha um pão que ainda estava quentinho e sentou-se para desfrutar. Foi quando um leão a devorou.”

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Confiar nas pessoas é uma qualidade linda, mas é absolutamente necessário que venha acompanhada de uma cuidadosa avaliação do terreno onde pisamos.

É preciso que percamos a ingenuidade, que saibamos que ainda existem muitas distorções em nosso planeta, e que aprendamos a cuidar de nós mesmos como os seres únicos e preciosos que somos. O mal, como o bem, ainda existe neste mundo de dualidades, que se encaminha para a unificação.

Verdadeiramente acredito que estamos a caminho de transformar isso. Sonho com um dia em que poderemos caminhar de peito aberto, sem defesas, confiantes que nada irá nos ferir. Mas ainda não estamos nesse momento evolutivo. Ainda convivemos com seres em estados de consciência muito diversos.

Selva não é lugar para piquenique. Por mais que dentro de nós as cores floresçam, não podemos projetar esse jardim e acreditar que tudo ao nosso redor serão flores também. Isso é ingenuidade. É perigoso.

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Aceitar e ficar em contato com a realidade nos dá a proteção necessária para que saibamos quando, onde e com quem podemos desvestir nossa armadura.

Enquanto não conhecemos o terreno, é sábio adquirir uma postura cuidadosa, ancorada no amor que temos por nós mesmos e na consciência de que selvas existem, e nelas há feras cuja natureza é nos devorar.

Uma vez li uma passagem atribuída ao Dalai Lama. Nunca sei se a autoria citada é a correta, assim me perdoem caso não seja. O texto dizia que perguntaram ao Dalai Lama o que ele faria se um cão feroz viesse rosnando em sua direção, ao que ele respondera:

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– Eu correria.

Se você identificar o mal vindo em sua direção, não lute contra ele, não se perca em meio ao medo, não tente controlá-lo. Não o julgue. Simplesmente saia de sua rota. Simples assim. Cuide de si mesmo. Temos o direito de fazer essa escolha.

Parece obvio, mas vejo muitas pessoas tratando a si mesmas com absoluta falta de cuidado. Cada um de nós é responsável por cuidar, proteger e amar a si mesmo, lembre-se disso.

Se quiser fazer um piquenique, não vá para a selva, vá a um parque.

Deixe a selva para os leões.

Extraído do livro de Patrícia Gebrim “Deixe a Selva para os leões – Inspirações para bem viver nos dias de hoje” – para ler capítulo anterior – clique aqui.