Por Patrícia Gebrim
Preciso de poucas palavras agora, quanto menos, melhor. Se você quer ser espiritual, você não precisa de nada. Não precisa de orientações, livros, regras, dogmas ou religiões. Basta ter um coração.
Espiritualidade tem a ver com um encontro com o sagrado que mora em cada um de nós. Trata-se da nossa conexão com a luz, que não necessita de intermediários, é uma conexão que acontece o tempo todo. Tudo é espiritual. “Pedir a alguém para buscar a espiritualidade seria como pedir e um peixe para buscar a água”, li isso em algum lugar e achei a imagem maravilhosamente pertinente. Basta mergulhar no que já existe ao seu redor. Tudo já está lá. Sempre esteve. Sempre estará.
Vivo sentindo esse frio na barriga que vem quando calo os pensamentos e sinto, em meu íntimo, aquilo que quer se revelar. Há pouquíssimo controle nesse processo. Minha mente fica atordoada e mal consegue me acompanhar. E eu corro rápido, para que ela não me alcance com seus limites e perguntas, cheia de dúvidas e questionamentos. Busco uma profundidade sagrada que não é mental. Uma espécie de desconstrução de tudo o que aprendi. A maior parte do que aprendemos apenas nos afasta da verdade.
Se observarmos de fora a nossa mente, a perceberemos nesse esforço constante de criar algum tipo de sentido. Ela, a mente, nada sabe sobre a “coisa” que somos. Chamo de “coisa” na falta de um nome melhor. Estou falando do oceano em que estamos mergulhados, do sagrado, da luz. Mas esse mesmo sagrado pode facilmente ser mutilado pelos nomes que lhe damos.
Nomear é um importante instrumento de organização da realidade, mas é também algo que nos separa do todo, limitando nossa percepção àquilo que somos capazes de assimilar.
Descobri que pessoas sábias são as que preferem sentir do que entender, e que pessoas espiritualizadas são aquelas capazes de amar os mistérios sem se sentirem ameaçadas por eles.
Pense nos mistérios. É simplesmente maravilhoso não saber o número de galáxias que constelam o Universo. Existem aqueles que dedicam suas vidas a tentar encontrar respostas. Outro dia li que o telescópio espacial Hubble estimava a existência de 200 bilhões de galáxias no Universo, embora os cientistas acreditem que esse número possa ser ainda maior.
Duzentos bilhões de galáxias. Não consigo imaginar o que seja isso, e nem tento. Prefiro olhar para o céu e ser tocada por aquela imensidão que silencia e acalma meu peito. Prefiro me sentir impactada pela infinita grandeza do mistério, que se descortina pleno de beleza sobre todos nós.
Quando reverenciamos o silêncio que existe na falta de repostas, nele encontramos essa força maior que muitos chamam de Deus.
Não saber nos coloca no colo de Deus.
Não posso falar de espiritualidade de outra maneira, senão dessa forma. E se você não entender, melhor ainda… É porque já chegou lá. Na verdade, você já está lá.
Há que se ter uma estrela no céu que nos abençoe. Não há vida sem espiritualidade. Busque por essa estrela. Nunca deixe de elevar seu olhar em sua direção. As estrelas são as meninas dos olhos de Deus, e nos olham de volta, bem no centro de nossos olhos, e mergulham através deles até a caverna onde mora nossa alma. Quem for capaz de olhar nas meninas dos olhos de Deus nunca estará só.
Extraído do livro de Patrícia Gebrim “Deixe a Selva para os leões – Inspirações para bem viver nos dias de hoje” – para ler capítulo anterior – clique aqui.