Por Ana Lúcia Paiga
Erick Berne, psiquiatra canadense discípulo de Freud, fez 10 anos de psicanálise quando começou a se questionar como seria possível clarificar o processo de autoconhecimento para seus pacientes e acelerar sua transformação.
Percebeu que as pessoas muitas vezes interagem entre si através de respostas condicionadas, elaboradas a partir de experiências vividas na primeira infância e arquivadas em seu inconsciente. A isso chamou de enredo ou roteiro de vida.
Em 1959, Berne nomeou esta teoria de Análise Transacional (AT) onde cada indivíduo contém três estados de ego: Pai, Adulto e Criança.
O bebê quando nasce, tem apenas sensações e emoções e suas interações com o meio, se dão através delas, para satisfazer suas necessidades. Em condições normais, dentro do útero, ele é nutrido, tem a temperatura constante e adequada, e não precisa fazer nenhum esforço; tudo acontece de maneira natural para garantir sua vida. Ao se separar da mãe no nascimento, ele percebe que muitas vezes precisa manifestar suas vontades para que seja atendido e continue sobrevivendo. Sobreviver significa para esse bebê retomar o vínculo que permitiu seu desenvolvimento por nove meses. Ele sabe que sozinho não conseguirá tudo o que precisa. Portanto, seu maior empenho é ser amado por sua mãe e continuar garantindo sua segurança.
Essa criança está centrada em si mesma e quer sentir prazer; qualquer desconforto é sentido como uma ameaça que deve ser eliminada. Como ela ainda não pensa, utiliza-se de sua intuição ligada ao instinto de vida, para criar suas verdades a respeito desse novo mundo.
Sendo assim, todos os estímulos externos são registrados, provocam uma resposta e uma consequência. Se a consequência for uma sensação de prazer, ela a registrará como uma resposta certa; caso a consequência seja o desconforto, ela a registrará como ruim, e provavelmente a descartará.
Criança natural
Aos poucos, ela vai deixando de agir espontaneamente e passa a usar respostas prontas, condicionadas a partir de experiências vividas aprendidas e arquivadas. Vai se adaptando às expectativas externas para satisfazer as internas, e assim vai se afastando de sua maneira natural de ser que é a sua Criança Natural.
Essencialmente temos seis emoções naturais: alegria, prazer, afeto, tristeza, medo e raiva.
No desenvolvimento da criança, convivendo com familiares e meio sociocultural, essas emoções vão sendo reprimidas ou reforçadas, de acordo com a conveniência da situação.
Como precisa ser aceita e amada por quem a cuida, a criança recebe as mensagens (verbais ou não), como indicativos do caminho mais fácil para conseguir o que quer.
No seu mundo mágico, tudo vai acontecer como está planejando, se seguir este roteiro que estará pronto por volta dos 10 anos, arquivando-o então num plano inconsciente. Este é o EU CRIANÇA.
Durante esse tempo observou atentamente seus pais, registrando seu modelo para utilizar quando precisar agir nessa função, ou rejeitá-lo se tiver sentido-se ameaçada. Este é o EU PARENTAL.
Da mesma maneira desenvolve sua capacidade de raciocínio lógico, podendo avaliar a realidade tal como ela é, sem a participação de seus sentimentos, nem de seus julgamentos, apenas adquirindo conhecimentos e oferecendo opções. Este é o EU ADULTO.
Cada ego corresponde a um tipo de pensamento e conceituação da própria vida, e se expressa de maneira própria. Ao atuar segundo estes padrões repetitivos, torna-se prisioneiro de sua história passada. Assim, uma criança que sempre ouvia críticas e era desqualificada por seus pais, desenvolve uma baixa autoestima, insegurança e medo de ser rejeitada em suas relações. Ao invés de responder a uma nova situação de maneira criativa, reage automaticamente com um comportamento condicionado do passado.
Conhecer e compreender o teor deste roteiro, mencionado no início deste texto, permite que o indivíduo se liberte de crenças errôneas como achar que não é capaz e possa fazer novas escolhas, assumindo a responsabilidade de sua própria vida, e criando seu futuro de acordo com seus objetivos atuais.
Linha de Trabalho
A AT oferece ferramentas muito práticas que permitem a identificação de comportamentos condicionados e repetidos automaticamente (enredo de vida).
Com essa percepção somos capazes de eleger o que pretendemos transformar para retomar nosso Eu autêntico e melhorar nossas relações interpessoais. O objetivo desta terapia é gerar autonomia.