Por Ana Lúcia Paiga
Vamos entender como se dá esse processo de desenvolvimento.
A vida é soberana. Nosso instinto nos leva a uma busca de garanti-la e perpetuar nossa espécie.
Em geral, ao se tornar pai ou mãe, cada um de nós fará aquilo que acredita ser o melhor nesse papel. O objetivo é formar um indivíduo que represente esse pai e essa mãe da melhor forma possível, para que ambos continuem sendo admirados e aceitos.
Vamos então compreender como isso pode ocorrer na prática.
João é um homem exigente, perfeccionista, que atua de maneira crítica, com bastante dificuldade em expressar sua afetividade, pois não pode errar. Esta é sua crença do que é certo. Casou-se com Maria, uma mulher insegura, meiga e submissa, para exercer seu poder e assim ser aceito.
O primeiro filho do casal, Rogério, foi recebido com muitas expectativas e dele se exigia que fosse o melhor em tudo, assim como era o pai. Não era elogiado, mas sim sempre pressionado a dar mais de si, como se seu desempenho nunca fosse o suficiente. João acreditava que se elogiasse o filho, ele se acomodaria e deixaria de se esforçar. Maria o encobria, para que João não o reprimisse, mas Rogério sentia-se cada vez mais frustrado e culpado por nunca ser capaz de agradar seu pai. Cresceu como uma pessoa insegura, sem confiar que poderia ser amado e reconhecido. Buscou uma companheira forte, exigente, que continuava a fazê-lo sentir-se insuficiente na relação, perpetuando assim sua sensação de fracasso. Tornou-se uma eterna Criança Submissa.
Você deve estar se perguntando por que Rogério não foi em busca da aceitação, ou de uma mulher que o acolhesse como sua mãe, não é mesmo?…
Parece incoerente que se reclame de uma situação e permaneça nela, mas a Criança Adaptada (que vive o enredo), precisa se manter em segurança repetindo os padrões conhecidos e cumprindo a mensagem que recebeu. Quando consegue compreender o que está fazendo a si mesma, através da conscientização, pode utilizar seu Adulto e Protetor internos para “redecidir” como prosseguir sem esse conflito.
Outros “Rogérios” poderiam ter se comportado de maneira diferente, diante desse mesmo João e Maria. Cada um trás características próprias, que combinadas com as experiências, vão determinar suas crenças. Cada ser humano é único e responsável por suas decisões. Naturalmente quanto mais cedo elas (crenças) se estabelecem, maior o risco de serem distorcidas, pois o Adulto que tem contato com a realidade objetiva, ainda não está ativo o suficiente.
“Rogérios”
Há o Rogério que vai se empenhar em fazer mais e melhor, ser arrogante, talvez até desonesto para provar que consegue “ganhar”.
Há o Rogério que vai optar por ser o oposto da expectativa do João, conseguindo atenção só pelas broncas e cuidados quando se transforma na “ovelha negra”, a Criança Rebelde que ninguém controla.
De qualquer forma, um Pai Crítico tende a gerar uma Criança Adaptada (submissa ou rebelde), que deixa de utilizar suas habilidades de forma livre e criativa.
Um Pai Protetor, nutritivo, vai estimular sim a criança a dar o seu melhor, expressando seu potencial e habilidades, mas respeitando seus limites.
Vai apoiar seu filho em suas dificuldades, permanecendo ao seu lado, orientando, mas não impondo. A criança precisa de limites para se sentir segura, mas não pode se sentir reprimida, impedida de ser quem é.
Rogério veio para a terapia quando seu casamento se tornou insuportável. Depois de compreender todo o enredo, conseguiu fortalecer seu Pai Nutritivo interno e mudou suas atitudes. De vítima impotente, passou a acreditar em si, lutar por suas conquistas e aceitar-se com suas limitações. Afinal, quem não as tem?…
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