Setembro amarelo: mês internacional de prevenção ao suicídio

Por Karina Okajima Fukumitsu

Que possamos agir mais e falar menos neste mês de setembro amarelo que se inicia. Que nos ocupemos em ofertar espaços de hospitalidade para que possamos construir uma morada existencial. A morada existencial não se constrói na violência e se formos violentos conosco, não aceitando o que é nosso, tornar-nos-emos transgressores de nossas existências e das nossas vidas.

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Nesse sentido, julgo que o que se pretende com este artigo (veja aqui a primeira parte), é lançar um convite para a inovação do modo como estamos fazendo a prevenção ao suicídio. Em vez de falar apenas dos números e sobre o sofrimento dos envolvidos e impactados pelo suicídio, precisamos nos inserir em ações, em oferta de espaços de acolhimento e em atitudes que colocam “nossas mãos na massa” (http://karinafukumitsu.com.br/). Atualmente, dedico meu tempo para atuar tanto em escolas quanto em equipamentos de saúde pública e sinto que saí do falatório e tenho agido, ministrando cursos, orientando, informando, capacitando e conhecendo de perto as principais dificuldades envolvidas no amplo âmbito do suicídio. Passo horas a fio debruçando meus esforços para estar com os profissionais com o único objetivo de, enquanto não houver apoio das políticas públicas, encontrarmos estratégias de ações e de cuidados em saúde mental congruentes com suas necessidades.

Como nada é por acaso, enquanto escrevia este artigo, vi um post de Adriana Amaral em sua rede social, no qual estava escrito que “nossas palavras precisam estar apoiadas em ações”. Acredito ser possível a construção de uma morada existencial que consista em ser lócus, onde haja a crença de que é possível enfrentar as adversidades utilizando a característica peculiar do ser humano, que é a da transcendência, e ir além daquilo que conhecemos, descobrindo mais a respeito de nós mesmos.

A morada do processo de morrência talvez represente o “não-lugar”, que busca o resgate do equilíbrio da sanidade mental com as exigências diárias; do acolhimento do sofrimento existencial e do desrespeito para com o humano.

Que possamos agir mais e falar menos neste mês de setembro amarelo que se inicia. Que nos ocupemos em ofertar espaços de hospitalidade para que possamos construir uma morada existencial. A morada existencial não se constrói na violência e se formos violentos conosco, não aceitando o que é nosso, tornar-nos-emos transgressores de nossas existências e das nossas vidas.

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A prevenção aos suicídios é prática que deve acontecer todos os dias e não somente em um mês, sobretudo por ressaltar a importância de manter a esperança de que é possível acolher o sofrimento humano. É, portanto, prática a ser inserida no dia a dia, ofertando esperança, amor e acompanhamento tête-à-tête na oferta de espaços de hospitalidade que favorecerão novas moradas existenciais.

Encerro com a importante frase de Alvarez (1999, p. 135): “Em outras palavras, o argumento final contra o suicídio é a própria vida”. Minha conduta diária está pautada em ser uma guardiã da vida que oferta amor, generosidade, cuidado e esperança. A cada tsuru (origami que significa o pássaro da esperança) presenteado ao final dos meus encontros com pessoas interessadas pelo tema, concretizo meu ensejo de que a esperança continue em nossos corações para que a vida possa valer a pena.

Referências

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Alvarez, A. (1999). O deus selvagem: um estudo do suicídio. São Paulo: Companhia das Letras.
Fukumitsu, K. O. (2013). Suicídio e Luto: história de filhos sobreviventes. São Paulo: Digital Publish & Print.
Fukumitsu, K. O. (2016). A vida não é do jeito que a gente quer. São Paulo: Editora Digital Publish & Print.
Saramago, J. (1995). Ensaios sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras.

Fonte: Karina Okajima Fukumitsu é terapeuta e pós-doutora pelo Instituto de Psicologia da USP