Da Redação
Apesar da interação em mídias sociais – como nesse caso, o Facebook – se tratar de uma possibilidade recente, o registro de pensamentos com indícios de adoecimento psíquico é antigo. Antonione Grassano analisa que o registro do sofrimento é anterior às novas tecnologias de comunicação. “As redes sociais possibilitam o discurso, mas não inauguram. Já era observado esse tipo de discurso antes, em diários antigos. As redes possibilitam que sejam expressados os pensamentos no auge do sofrimento e que eles cheguem instantaneamente em outras pessoas.”
O pós-graduando afirma que a informação sobre os casos de suicídio, que posteriormente passam a ser analisados, chegam por meio de relatos em blogs, na grande mídia ou por meio da rede de contatos do próprio Sensus. Partindo de casos individuais e chegando a um padrão de comportamento, é possível observar similitudes nos discursos. “Percebemos que há um traço de desidentificação, quando o sujeito não se vê nos padrões de comportamento da massa social. Há, então, a tentativa de nomear o seu mal-estar e de definir seus próprios sentimentos pelas redes sociais, mas isso falha, pois o sujeito não consegue suportar esse mal-estar”, aponta.
Segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, o suicídio é a quarta maior causa de morte de pessoas entre 15 e 29 anos, idade em que as redes sociais têm papel importante na socialização. Grassano acredita que a exaltação de um determinado padrão de vida, comumente propagado nas redes, influencia diretamente no adoecimento psíquico. “Podemos dizer, que, no geral, as redes sociais, e principalmente aquelas eminentemente imagéticas, como o Instagram, funcionam a partir de uma lógica de exposição que pinta um quadro de vidas perfeitas e, por que não dizer, inumanas. A dissimulação das fragilidades é um traço não de um padrão de vida, mas de uma racionalidade neoliberal que coloca o indivíduo como figura central desta ordem. É importante destacar que as redes são uma engrenagem nessa configuração, e não a causa.”
O pesquisador avalia o suicídio como um fenômeno multifacetado que deve ser analisado por visões complementares. No entanto, afirma que a comunicação pode contribuir de maneira importante nessa questão. “No âmbito da comunicação, podemos apontar a publicização responsável e consciente como um ponto positivo. É consenso entre especialistas no tema que o estatuto de tabu nada ajuda nesta questão que é, inclusive, de saúde pública. Campanhas públicas bem direcionadas e que levem em considerações evidências de pesquisa também podem ser aliadas no combate ao suicídio.”
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Fonte: Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF