Ansiolíticos: síndrome de abstinência

Por Danilo Baltieri

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“Fiz uso de cloxazolam durante aproximadamente 18 anos para combater a ansiedade. Interrompi o uso sem desmame há 6 meses e ainda sinto alguns sintomas de abstinência. É possível a abstinência durar todo esse tempo?”

Resposta: Cloxazolam é uma medicação do grupo dos benzodiazepínicos com propriedades ansiolíticas, sedativas e anticonvulsivantes. Seu uso clínico tem sido menos frequente do que o de outros benzodiazepínicos, como por exemplo, o clonazepam e o diazepam.

De fato, as medicações benzodiazepínicas têm sido prescritas para alguns quadros clínicos, como crises de ansiedade, algumas formas de insônia e alguns quadros de epilepsia. Infelizmente, além dessas indicações médicas formais, esse grupo de medicação tem sido usado de forma mais ampla e, em algumas situações, sem a adequada supervisão ou mesmo prescrição médica. Em alguns países, tais como França, Espanha e Austrália, esse grupo de medicação está entre aquelas mais usadas pela população.

É importante frisar que o uso de quaisquer medicações do tipo benzodiazepínicos deve ser bastante criterioso e rigorosamente acompanhado por médico especialista habilitado, dadas as suas propriedades de indução de dependência fisiológica (evidência de tolerância – ou seja, necessidade de doses progressivamente maiores para a obtenção dos mesmos efeitos conseguidos com prévias doses menores; e/ou síndrome de abstinência – sintomas físicos e psicológicos advindos da parada abrupta ou redução súbita da dose da medicação).

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Síndrome de abstinência: duração
 
A duração e as características da síndrome de abstinência aos benzodiazepínicos variam grandemente entre os usuários, dependendo do tempo de uso, sintomas/sinais que demandaram a sua prescrição, dose utilizada, aspectos farmacológicos do benzodiazepínico utilizado, características da personalidade do usuário, uso concomitante de outras substâncias ou mesmo de outros medicamentos.

Muitas vezes, as medicações benzodiazepínicas são mantidas por períodos longos de tempo (superior a 06 meses), e a retirada deverá, então, ser feita de forma lenta ou gradual. Alguns pacientes usuários crônicos dessas substâncias vão demonstrar os ditos sintomas da síndrome de abstinência “aguda” ou mesmo da síndrome de abstinência “crônica ou protraída.”

Dentre os sintomas de abstinência, principalmente os ditos “agudos,” ou seja, aqueles que surgem dias a semanas após a suspensão da medicação, podemos citar:

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a) Insônia;
b) Sintomas ansiosos;
c) Inquietação psicomotora;
d) Náuseas/vômitos;
e) Problemas de concentração e memória;
f) Zumbidos;
g) Sintomas depressivos;
h) Tontura ou vertigem;
i) Sensação de formigamento (parestesias) dos membros inferiores e/ou superiores;
j) Convulsões

As medicações benzodiazepínicas são ferramentas importantes para o manejo de várias condições médicas. No entanto, o potencial de indução de quadros de dependência fisiológica após um uso prolongado é realmente possível. Dessa forma, o seu uso deve ser realizado apenas na presença de indicação médica precisa e formal, e esse uso deve ser monitorizado por médico adequadamente treinado.

Existem alguns grupos de pessoas para quem essas medicações apresentam um risco de uso considerável, dadas as particularidades de cada grupo. Para esses grupos de pessoas, estas medicações devem ser evitadas NA MEDIDA DO POSSÍVEL. Claramente, existem situações onde o uso destas medicações pode ser imperativo, apesar da advertência acima.

Na Tabela 01, cito alguns destes grupos:

Tabela 01. Grupos de risco para o uso das medicações benzodiazepínicas

Mulheres gestantes – Risco de malformações na criança
Idosos – Risco de quedas e piora da memória e atenção
Dependentes de substâncias depressoras, como opioides  –  Risco de depressão respiratória e morte
Portadores de doenças pulmonares crônicas –  Risco de piora da capacidade respiratória
Dependentes químicos em geral  –  Risco aumentado de abuso e dependência dos benzodiazepínicos

Infelizmente, alguns pacientes que desenvolveram a dependência fisiológica dos benzodiazepínicos poderão manifestar sintomas da síndrome de abstinência durante vários meses após a parada do uso da medicação (trata-se da chamada síndrome de abstinência crônica ou protraída). Isso ocorre porque tais medicações parecem alterar funcionalmente e, infelizmente, estruturalmente determinados grupos de células neuronais (conhecidas como gabaérgicas).

Na Tabela 02, aponto alguns dos sintomas comumente vislumbrados durante a síndrome de abstinência crônica ou protraída.

Tabela 02. Sintomas da síndrome de abstinência crônica ou protraída aos benzodiazepínicos

•    Sintomas ansiosos;
•    Sintomas depressivos;
•    Zumbidos;
•    Tontura;
•    Tremores em membros superiores;
•    Aumento dos reflexos motores;
•    Sensação de formigamento (parestesia) em membros superiores e inferiores;
•    Aumento da tensão muscular;
•    Intestino irritável;
•    Movimentos musculares involuntários

Obviamente, tais sintomas são flutuantes, ou seja, eles desaparecem e reaparecem ao longo do dia ou das semanas após a parada do uso da medicação. Também aqui é importante repisar que as características desta flutuação dos sintomas da síndrome de abstinência variam para cada ex-usuário das medicações benzodiazepínicas, dependendo do tipo de medicação usada, das características farmacológicas da medicação utilizada, dos aspectos da personalidade do usuário, da doença prévia que demandou o uso da medicação, dentre muitos outros fatores.

Outrossim, é possível que o indivíduo que tenha cessado o uso das medicações benzodiazepínicas possa estar sentindo os sintomas que antecederam e demandaram o início do uso deste tipo de medicação. Também, tanto os sintomas da doença primária (a qual demandou o uso deste tipo de medicação) quanto os da síndrome de abstinência às medicações benzodiazepínicas podem ocorrer simultaneamente !

Os seus sintomas e o seu quadro clínico precisam ser adequadamente avaliados por um médico especialista ao vivo e à cores. Existem medicações que auxiliam no tratamento da síndrome de abstinência às medicações benzodiazepínicas. Por outro lado, o seu médico deverá investigar a razão do início do uso destas medicações e, assim, elucidar o seu quadro clínico. Uma vez o seu quadro clínico é aclarado, um tratamento médico eficaz poderá ser iniciado.

Boa sorte!

Atenção!
Este texto não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.