Por Dulce Magalhães
Nos conta o mito grego da caixa de Pandora, que Zeus, o deus supremo, furioso porque Prometeu havia roubado o fogo divino para levar aos homens, além de punir o herói, resolve punir também todos os homens por se beneficiarem daquele roubo. Então, enviou Pandora, criada pelos deuses do Olimpo, para Epimeteu, irmão de Prometeu, que lhe havia recomendado não aceitar nenhum presente dos deuses. Ao ver a beleza radiante de Pandora, Epimeteu esqueceu o conselho do irmão e a tomou como esposa.
Epimeteu tinha em seu poder uma caixa que outrora lhe havia dado os deuses, que continha todos os males. Avisou à mulher que não a abrisse. Pandora não resistiu à curiosidade. Abriu-a e os males escaparam. Por mais depressa que tenha tentado fechá-la, sobrou apenas um único bem, a esperança. E dali em diante, foram os homens afligidos por todos os males.
Em muitas interpretações deste mito a esperança é entendida como uma qualidade que vem para ajudar a humanidade a lidar com todos os males.
Contudo, se pensarmos sobre o contexto original, a esperança está dentro da caixa que contém todos os males, assim ela também é um dos males que pode afligir a humanidade.
Dentro de nossa cultura não podemos imaginar a esperança como um mal. Ter esperança é visto como uma qualidade positiva e não negativa, assim não há muito sentido em fazer parte da caixa dos males. Entretanto, talvez seja o caso de pensar se a esperança realmente nos conduz a resultados ou nos tira do foco de nossos propósitos.
Nenhum mal é absoluto, pois gera as adversidades tão necessárias para a evolução de nossa consciência, sem isso não haveria melhorias. Porém, no mito, a esperança ficou presa na caixa e nunca alcançou totalmente a humanidade. Dessa forma ela não é um mal completo, mas está entre os males programados pelos deuses. A esperança pode ser, portanto, um mal, dependendo da forma como a utilizamos.
Se, ao invés de mudar um hábito hoje, temos a esperança de um dia conseguir mudá-lo. Se, ao invés de fazer uma ação concreta para alcançar determinado fim, vemos com esperança que em algum tempo isso será possível, essa esperança está sendo um mal, uma forma perniciosa, de procrastinação e de desmobilização para a construção de nossos resultados, dificuldade para mudança em todos os níveis e atraso em nossa aprendizagem.
A esperança é um mal quando a utilizamos como uma panaceia para amortecer nossa ação, como se não fossemos mais os responsáveis pelos nossos próprios atos. Muitas vezes a esperança é apenas medo. Ficamos apegados à ideia de
como gostaríamos que as coisas fossem e temos dificuldade de lidar com aquilo que realmente é.
Perca as esperanças! Vá além da espera e deixe-se preencher pelo impulso de fazer por si. Veja o que ainda não aprendeu, o que precisa ser modificado, o que falta realizar. Faça a sua parte e aí toda a humanidade poderá ter a esperança de tempos melhores. Reflita sobre isso. Suerte!